Aquela foi uma das manhãs mais estranhas da minha vida, eu preciso admitir.
Tudo começou meio fora de ordem, confuso e sem sentido para mim; lembro de ter acordado bruscamente, assustada e suando frio, sentindo minhas mãos tremerem, enfraquecidas - Demorei para me dar conta de onde estava porque não me lembrava de ter ido deitar no colchão na noite passada; mas eu estava nele, coberta com uma manta. No escuro, e no silêncio. Por um instante aquilo me amedrontou mais do que devia.
Por isso meu primeiro instinto, por algum motivo, foi me certificar de que os meninos estavam comigo.
Sentei-me e olhei para os lados - Sam ainda estava deitado no chão, dormindo à minha direita com uma expressão um tanto desconfortável e apreensiva no rosto. Mas Dean... Tinha sumido sem deixar vestígios. E a arma que eu havia tirado dele ontem também.
Coloquei-me de pé devagar, tomando cuidado para não fazer barulho.
Dei a volta em Sam e me dirigi à saída pisando leve, ignorando a sensação de que eu devia ficar no porão - Disse a mim mesma que aquilo era reflexo de ter ficado presa ali por muito tempo. Então respirei fundo e caminhei para fora.
Segui pelos corredores completamente sonolenta, praticamente andando de olhos fechados, arrastando os pés e bocejando, querendo saber onde o Dean tinha se metido tão cedo e o porquê dele ter achado que precisava levar a arma.
Passei na cozinha; ele não estava lá lendo as notícias como normalmente faria.
Passei em seu quarto; a cama estava feita e tudo estava no lugar; menos ele.
Comecei a estranhar o ambiente e o nó que havia em minha garganta. Por um instante me perguntei se ele não estaria escondido em algum canto, esperando para ver se eu tentaria escapar... Mas eu não estava a fim de ser arremessada no chão mais uma vez. Ele estava me observando; ele sempre estava me observando.
Decidi ignorar seu sumiço e procurar o caminho para o banheiro - Tentei mesmo fingir que não havia nada de errado acontecendo e que era tudo coisa da minha cabeça. Então não parei de andar. Continuei dizendo para mim mesma que aquele pressentimento não era nada; só uma grande bobagem.
Mas conforme eu adentrava mais nos corredores aquilo começou a gritar no meu ouvido; senti que estava sendo vigiada; que não estava sozinha; e antes que eu pudesse perceber eu já estava andando duas vezes mais rápido, lutando contra a vontade de olhar para trás... Eu me peguei querendo correr de volta para o porão; de volta para o Sam. De alguma forma estar perto de um deles era o que eu sentia que precisava fazer.
Porém, quando a decisão de fazer aquilo realmente começou a se formar em mim, eu fui violentamente impedida - Ameacei virar à direita no próximo corredor, mas antes que eu completasse a volta alguém me agarrou por detrás e me puxou de volta com um solavanco.
Entrei em pânico no mesmo instante.
Eu me debati freneticamente, todo o meu corpo vibrou; usei toda a força que eu tinha nos braços e nas pernas; tentei gritar, mas seja lá quem fosse cobriu a minha boca com tanto aperto que eu mal podia respirar; eu não podia ver quem era; não podia me soltar; tudo o que eu sentia eram seus dois braços à minha volta, travados, sem me dar a mínima chance de mover meu corpo um centímetro sequer - Ele tirou meus pés do chão enquanto eu lutava furiosamente.
O homem me arrastou para trás e parou, com as costas contra a parede; e não fez nada além de me segurar e deter meus baques de descontrole. Foi aí que eu finalmente ouvi um som; ouvi ele grunhir bem próximo da minha orelha - Um grunhido de impaciência.
Na mesma hora eu reconheci - Era o Dean.
Imediatamente parei de resistir. Afrouxei os braços, estiquei as pernas, me concentrei somente em diminuir a frequência da minha respiração e esperei que ele fizesse o mesmo; alguns instantes depois ele o fez também, relutantemente. Devagar começou a me libertar, talvez para ter certeza de que eu não gritaria.
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A Menina Dos Winchester
FanfictionNaquele momento eu soube que não podia ir embora. Não podia simplesmente deixar os dois que me encaravam com uma concentração extrema enquanto o de sobretudo me lançava um olhar inocente e admirado. Eu nunca mais voltaria para casa... Nunca mais con...