A Chama

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Ela já estava ficando fria.

Seu sangue já tinha formado uma grande poça de sangue ao nosso redor.

E eu continuava ali, segurando sua cabeça como se ela fosse acordar a qualquer momento, sem conseguir me mexer; sem conseguir olhar para qualquer outra coisa na sala.

Estávamos no escuro quase completo - O rosto de Castiel não brilhava mais. Mesmo assim eu sabia que ele ainda estava lá, assim como Sam que tomou certa distância do corpo dela, e se assentou no chão, fungando feito uma criança, sem conseguir parar de chorar e tirar as mãos nos olhos. Ele já estava de luto.

Eu não.

Não estava pronto para isso ainda e talvez nunca estivesse; eu não queria estar. Não até entender como aquilo pode ter acontecido; como eu pude deixar acontecer bem diante de mim.

Por um momento eu realmente acreditei que havia um plano maior; um caminho maior; que Deus havia nos escolhido para dar um jeito nas coisas... Para consertar tudo... E que nada mais seria o mesmo depois de Nina.

Nina...

Arranquei-a de sua casa e de sua família, e para quê? Ela me odiou.. Eu a odiei... E para quê? Para ela morrer nos meus braços, sem ter a menor chance dentro do jogo que ela foi forçada a jogar; morrendo sem a menor dignidade pelas mãos de um bandido que a esfaqueou pelas costas e tirou dela a promessa de uma grandeza que nem ela mesmo entendia.

Não ia ter grandeza nenhuma.

Era tudo uma grande mentira.

Nina foi um peão num tabuleiro de deuses, e agora simplesmente estava fora. Era como reler a porcaria da minha história toda de novo, só que quem se deitou nos trilhos do trem dessa vez não foi o cara que escolheu a carreira mais estúpida de todas... Foi a menina inocente que só queria voltar para a família.

Eu não devia ter escutado. Não devia ter me deixado levar. Não devia ter atendido o telefonema de Cas naquela madrugada e com certeza não devia ter surtado e fugido para o Rio quando vi a foto dela. Devia ter mandado aquele anjo enfiar o plano de Deus naquele lugar e voltado a dormir, ignorando tudo o que estava acontecendo até que finalmente eu fosse deixado em paz com a minha morte eminente pela porcaria da Marca de Caim.

Teria uma sensação bem melhor do que aquela.

Grande herói, Dean Winchester...

Hora de aceitar quem você é de verdade... Um estripador. Um genocida. Um grande imbecil completamente ferrado por tudo e por todos.

Especialmente por aquele anjo maldito e mentiroso - Disse que tudo ficaria bem. Que ela ficaria segura conosco. Mas isso era o oposto; era o oposto de uma solução. E eu não faria como o meu irmão... Não aceitaria aquilo e para o inferno com o luto. Se eu não podia entrar numa briga com o Criador, pelo menos com certeza eu socaria quem Ele enviou para fazer aquele trabalho inútil e sem sentido.

Devagar coloquei a cabeça de Nina no chão e me coloquei de pé, pronto para iniciar algo que eu não podia afirmar se conseguiria terminar. Caminhei na direção de Castiel decidido a fazer o máximo de estrago possível sem uma lâmina angelical à minha disposição.

Mas, no meio do caminho, o impensável aconteceu.

Um trovão ensurdecedor estourou bem em cima do bunker, fazendo toda a estrutura do teto vibrar como se estivesse há poucos centímetros de desabar em cima das nossas cabeças.

Eu caí no chão.

E estourou de novo, e mais uma vez, e outra vez, até que perdi a conta - Cobri meus ouvidos com toda a força e mesmo assim achei que estivesse a ponto  de sentir meu crânio explodir. Olhei para cima e vi rachaduras em todo o teto, se abrindo a ponto de deixar cair um nevoeiro de reboco sobre nós.

A Menina Dos WinchesterOnde histórias criam vida. Descubra agora