Não Vá

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Eu perdi o apetite.

Não demorou muito e logo depois que Dean saiu da cozinha comecei a me sentir extremamente enjoada e doente, a ponto de quase explodir de raiva, tristeza e pressão; pressão de todos os lados.

Levantei rápido e praticamente corri até o banheiro depois de dizer que não me sentia muito bem. Cas veio atrás de mim... Já Sam assentiu sem querer me olhar nos olhos depois do que eu fiz; depois do que eu dei certeza de que faria - O que de alguma forma só me machucou ainda mais.

Puxei a porta com rapidez e girei a tranca com força; só bastou o som metálico da porta invadir o banheiro e confirmar que eu finalmente estava sozinha para eu desabar instantaneamente - Um nó insuportável se formou na minha garganta e fez meu peito queimar; não podia respirar; não podia falar; não podia me mexer - As lágrimas desciam uma atrás da outra de uma maneira que me assustava; porque eu nunca teria adivinhado que aquela situação me quebraria daquela forma.

Ali eu podia assumir tudo.

Meus joelhos perderam as forças; lentamente fui parar no chão, perto da porta, cobrindo a boca com urgência e aperto, sem deixar escapar nenhum som - Se Castiel desconfiasse que havia alguma coisa errada destruiria o bunker antes de fazer perguntas... E eu não queria que nenhum deles soubesse o quanto eu não era indiferente com a minha partida.

Pelo contrário.

Saber o que aconteceria e como tudo seria dali para frente só deixava a decisão de deixá-los praticamente impossível. Era aterrador; dolorido; assustador até mesmo para mim. Especialmente pelo estado em que as coisas possivelmente ficariam - Dean e aquela maldição... Não demoraria muito e ele seria arrastado para o fundo de um poço de sangue, arrependimento e perdição; seu irmão com certeza seria levado junto com ele; e a culpa seria exclusivamente minha.

Se havia algum ódio antes, era definitivo que ficaria pior agora. Vi nos olhos de Dean.. Vi nos olhos de Sam... E Deus, eu podia ver isso até nos meus olhos. Porque com toda a certeza, eu podia afirmar... Não queria fazer aquilo - Se descobrissem esse detalhe... Nunca esqueceriam a garota que sequestraram e mantiveram refém por meses, até que os papéis se invertessem e ela é que os mantivesse reféns.

Não mais.

Eles não precisavam de mim, e eu certamente não precisava deles.

Ficarmos juntos só me deixaria fraca, e fraca era a última coisa que eu me permitiria ser.

Eu podia sentir na minha pele - O céu já sabia do meu nascimento; já se armava para finalmente despertar um lado que esteve adormecido por milênios... A imagem deles reunidos em assembleias não saía de detrás dos meus olhos. O inferno... Estava bem menos disposto a agir de forma ordenada; o desespero já tinha criado facções antes, mas agora com certeza muitas outras emergiriam e declarariam uma posição. E a terra... Me sentia. Se encolhia de prazer e terror porque um de nós estava aqui de novo; porque um de nós iria fazer uma séria bagunça nas dimensões outra vez.

Coloquei-me de pé.

Lavei o rosto.

"Você consegue" - Sussurrei para mim no espelho - "É só dizer adeus".

Fechei os olhos... Respirei fundo e contei até dez... Senti aquele mesmo manto da transfiguração me cobrindo... Lembrei-me Dele. E decidi esquecer-me de todo o resto.

Eu não voltaria atrás.

Saí do banheiro como se nada tivesse acontecido e encontrei Castiel me esperando - Olhando-me como se eu estivesse completamente acima de qualquer dúvida, falha ou sequer resquício de humanidade que pudesse ter se segurado em mim. Lembro de ter pensado que aquilo não era verdade ainda, mas que um dia seria. E eu tinha que estar preparada para aquele processo o quanto antes - Coisa que de jeito nenhum poderia envolver os Winchesters.

A Menina Dos WinchesterOnde histórias criam vida. Descubra agora