O Lobo

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Eu tive um sonho estranho.

A primeira coisa de que me lembro é do frio... Intenso e cortante a ponto de me causar uma dor que paralisava; a ponto de me envolver como uma neblina densa dos pés a cabeça. Olhei para a minha pele e percebi que eu estava com um vestido fino... Todo branco e sem detalhes, que me atingia nos joelhos... E estava descalça. Olhei para o chão e vi que ele também era totalmente branco... Reluzente... Foi quando eu descobri o motivo do meu frio. O chão era gelo.

Eu estava em cima de um lago congelado.

O maior que eu já tinha visto; ia além de onde minha vista alcançava; para frente, para trás e para os lados... Tudo o que eu enxergava era gelo.

Gelo e um céu tão estranho que chegava a ser assustador... Era noite... Mas não do tipo comum, ligeiramente iluminada pela Lua e as estrelas... Não. Não havia nada lá em cima além de escuridão. Profunda e infinita.

Era como se o mundo inteiro estivesse dividido em dois - Preto no céu e branco na terra.

Sem ter muito mais escolhas decidi avançar; procurar por um lugar firme e quente... Mas especialmente seguro. Algo me dizia que ali eu estava exposta demais... Desprotegida demais. Como se não estivesse realmente sozinha ainda que a minha visão me dissesse o contrário.

Então caminhei; devagar para não provocar rachaduras. Andei até meus pés gelarem a ponto de ficarem completamente dormentes; até minhas pontas dos dedos da mão ficarem roxas.

No entanto, mesmo assim, quanto mais eu andava, mais branco e preto me apareciam; mais o lago se mostrava muito maior do que eu tinha imaginado. Não havia nenhum sinal de terra em qualquer das várias direções em que eu olhasse.

Comecei a me sentir perdida. Desamparada... Como se eu estivesse em pedaços e não conseguisse sustentar um só pensamento dentro de mim; como se eu tivesse me esquecido de quem eu era.

Eu mal me lembrava do meu nome.

Foi quando de repente, quando eu estava prestes a cair aos prantos, que comecei a sentir que estava sendo observada. Meu corpo ficou totalmente alerta; um arrepio subiu pela minha espinha e meu coração bateu forte como poucas vezes antes.

Não tinha jeito de explicar... Mas de alguma forma eu sabia que havia alguém atrás de mim.

Hesitei; tive medo de me virar; mas a sensação de não saber o que era estava me fazendo estremecer ainda mais.

Então eu parei.

E lentamente, mal conseguindo respirar, virei-me para encarar seja lá o que fosse.

Mas nem em um milhão de anos eu adivinharia o que eu estava vendo.

Há uns 10 metros de distância, bufando feito um touro e soltando fumaça para todos os lados, estava um ser que lembrava o que se parecia com um lobo escandalosamente grande - De pé alcançaria com facilidade uns 3 metros de altura; totalmente negro; olhos amarelos; dentes amostra; encarando-me como se fosse me devorar... Como se eu já estivesse morta e não soubesse.

Sem querer fixei meus olhos nos dele e encontrei mais do que simples instinto animal; mais que fúria e fome incontroláveis. Não... Ele era inteligente. Sabia o que estava fazendo. Sabia onde estava. E por um instante pareceu que também sabia quem eu era... Estava me estudando. Não apenas me vendo... Mas me enxergando.

Tive medo; do que ele faria comigo; do estado em que me deixaria se me pegasse. Mais medo ainda porque eu não tinha certeza se ele me feriria porque precisava disso... Ou se o faria por puro prazer.

Nessa questão nos encaramos por vários segundos, sem nenhum dos dois mover um músculo sequer debaixo da tensão. Nos olhamos até conhecermos cada centímetro um do outro, cada tom, de cada cor, por toda a extensão dos nossos corpos. Dessa forma percebi que ele respirava devagar, numa frequência constante, como se estivesse tranquilo.

A Menina Dos WinchesterOnde histórias criam vida. Descubra agora