Fogo

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Eu me aproximei do pequeno espelho quadrado com cautela, receando o que encontraria na minha frente.

E por um instante achei que meu coração fosse saltar pela boca - Agarrei a pia com todas as forças que me restavam e instantaneamente comecei a chorar sem nem sentir; cobri minha boca para que não me ouvissem.

Dean estava certo.

Eu estava mesmo horrível.

Meus olhos estavam vermelhos e inchados, assim como o resto do meu rosto; a falta de sono e de alimento estavam claras na minha aparência - Eu parecia ter perdido peso também. Meus longos cabelos que já foram castanho claro agora estavam escuros, sem vida.

Minha camiseta e shorts que coloquei para dormir naquela noite eram pretos, e mesmo assim isso não me ajudou em nada; meus braços e pernas estavam cobertos de hematomas; meu pescoço, completamente machucado, de cima a baixo; levantei a camiseta - Minhas costelas apareciam por entre os vermelhões e arranhões das cordas.

Eu parecia uma sobrevivente de uma tragédia.

Parecia com qualquer um menos comigo - Eu tinha uma casa; tinha amigos; uma irmã mais nova; tinha uma vida normal e era uma pessoa normal. Nada daquilo devia estar acontecendo, por que aqueles dois maníacos teriam interesse em mim? Por que queriam me arruinar?

Já engasgando com o choro silencioso, me apressei e abri a torneira para jogar uma água no rosto - Mas esqueci que meus pulsos estavam em carne viva; assim que a água encostou na pele soltei um grito abafado e perdi as forças.

Caí de joelhos; não conseguia respirar; não conseguia abrir os olhos; eu estava entrando em pânico sozinha mais uma vez, e não importava o quanto eu tentasse cobrir meus lábios e me controlar; eu estava atolada até o pescoço e não sabia como ia conseguir sair.

"Deus, eles vão me matar" - Sussurrei em desespero, sem fazer nenhum barulho - "Minha família, minha família...".

Sacudi a cabeça; me forcei a contar até dez devagar antes que eu soltasse um grito. Arrastei meu corpo até o vaso, me preparando para vomitar.

"Não estou ouvindo o chuveiro!" - Dean gritou do outro lado da porta, e ao ouvir o som da voz dele meu enjoo só piorou.

Inclinei-me para frente, me preparando para botar tudo para fora de novo, até que senti alguma coisa deslizando do meu bolso - Agarrei antes que caísse e fizesse barulho.

Não era um canivete, como eu tinha pensado; era um isqueiro.

Abaixei a tampa do vaso e me sentei em cima.

Droga, eu devia ter ficado com a faca.

Mexi aquilo de um lado para o outro e o acendi, lutando para me acalmar.

E ao mesmo tempo que a chama apareceu na minha frente, a ideia me atingiu feito um soco.

Lancei um olhar para a porta de imediato me perguntando se eles finalmente tinham me enlouquecido; meu corpo inteiro estremeceu com a imagem do que eu estava prestes a fazer - E o pior de tudo é que eu não estava com medo; sequer estava disposta a pensar duas vezes.

Coloquei-me de pé rapidamente e peguei uma toalha de rosto da pia, logo em seguida a enxarquei debaixo da torneira e a pus à parte.

Agachei-me e abri o armário para vasculhá-lo atrás de qualquer coisa que pudesse me ajudar a fazer a loucura que eu tinha em mente.

Lá no fundo havia uma pequena garrafa de álcool.

Para não me dar a chance de desistir eu simplesmente arremessei todo a líquido contra a cortina do box e acendi o isqueiro; dei dois passos para trás e observei a cena.

A Menina Dos WinchesterOnde histórias criam vida. Descubra agora