Guerra

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Sam era um ótimo professor.

Ele costumava dizer que se não tivesse se tornado um caçador, provavelmente seria advogado... Um figurão de sapatos lustrosos do Texas. Mas eu não conseguia vê-lo assim, por mais que tentasse - O cara tinha um verdadeiro amor pelo conhecimento; e um amor maior ainda pelo ato de compartilhá-lo. Combinando isso com a sua facilidade invejável de lidar com pessoas... Bem... Era difícil de evitar querer passar horas escutando ele falar. Eu já estava acostumada, é verdade. Sam ainda era meu professor particular na "arte de caçar", como ele mesmo dizia. Mas vê-lo ali, no palanque, falando sobre o que faz uma revolução para mais ou menos 100 alunos e sabendo que ele tinha uma baita experiência de campo no que dizia... Só fazia tudo ser mais especial e triste. Porque era como descobrir ao vivo que eu não estava sozinha naquilo - Sam também era obrigado a ser o que era.

Alguns dias se passaram desde a nossa briga no corredor, e até então não tínhamos conversado; não de verdade. Talvez porque eu sempre dava um jeito de escapulir, toda a vez que ele chegava, por medo de dizer o que não devia e acabar ouvindo coisas piores. Isso já estava ficando impossível... Sentia saudade dele. Tanto que eu quase começava a me esquecer do quanto ele me enlouquecia com seu discurso de super proteção. Mas claro... Não o suficiente para admitir.

E enquanto isso, por causa das nossas brigas internas, o caso sofria. Já faziam semanas e até agora não tínhamos nada além do que tínhamos no início - Uma cidade com uma história estranha, onde pessoas morriam e desapareciam de forma estranha, num local com uma grande e esquisita energia mística que enfraquecia meus poderes... Os videntes assumidos da cidade continuavam operando, claro... Mas eu, só eu, como já era de se esperar, continuava às cegas.

Seja lá quem estivesse fazendo aquilo... Com certeza era de propósito.

E bastante pessoal.

"Certo, por hoje é só" - Sam disse de repente enquanto saía de cima da mesa que insistia em usar como cadeira - "Mantenham o juízo e não se esqueçam do trabalho sobre a revolução francesa para a próxima aula. Estão liberados".

Todos começaram a se levantar ao mesmo tempo em silêncio, inclusive eu. Até que Sam completou.

"Menos você... Senhorita Evans. Não saia ainda, quero falar com você em particular".

Na hora eu não me liguei. Mas aí os palhaços da turma começaram a me encarar e a fazer sons de "agora você se ferrou"... Só então me lembrei de que a tal senhorita Evans era eu.

Bufei e me sentei de novo na cadeira.

Cada um dos alunos foi cruzando a sala devagar, sem nunca deixar de me lançar um olhar de reprovação. Com isso eu não estava acostumada ainda, por essa razão eu vivia com o capuz sobre a cabeça enquanto andava pelos corredores... Feito um cavalo com viseiras, para o impedir de se assustar com qualquer coisa e sair correndo, na direção contrária do objetivo, literalmente... Quanto menos eu visse era melhor.

Sam esperou todos deixarem a sala, na maior paciência, ainda que o olhar dele dissesse o contrário - Encarou-me durante todo o tempo, sem mal piscar ou sequer disfarçar a raiva que tinha da situação... Eu ia levar uma bela de uma bronca. E o pior desse tipo de coisa para mim não era ter que ouvi-lo reclamar... Mas sim ouvi-lo e não saber dizer se ele estava certo ou errado.

Para falar a verdade eu não sabia de mais nada, quem diria...

Quando finalmente estávamos sozinhos eu não me mexi. Continuei parada no mesmo lugar, de pernas cruzadas e mão sobre o queixo; encarando-o de volta sem titubear enquanto esperava ele dar o primeiro passo. Por um momento pareceu que íamos ficar ali em ódio silencioso para o resto da vida, até que ele finalmente se moveu.

A Menina Dos WinchesterOnde histórias criam vida. Descubra agora