Capítulo 2 - Helena

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Eu não acredito que acordei e ainda estou bêbada. Eu sempre paro para pensar em como a minha vida está indo bem. Sou repleta de amigos, vivo em festas e não preciso me preocupar com muita coisa. Espero que ninguém note que bebi, vou levantar devagar e ir ao banheiro, tomar um belo banho e sair.

 Vou até um bar que tem aqui perto, tomar um café e espantar essa cara de defunta. Não quero que pensem que sofro por amor. Aliás, há tempos não sei o que é essa coisa. Já sofri demais, já chorei demais, agora quero me amar. De todos os amores, escolherei o próprio.

 Coloquei um vestido rodado e penteei pouco o cabelo, estou de sapatilha. Acho que está bom assim. Na porta do bar, parei um momento para olhar um menino que estava passando. É impressionante a quantidade de gente bonita que tem nesse lugar. Onde eu moro parece um cemitério. Ao abrir a porta para entrar no bar, um homem vinha em minha direção. Tentei sair, mas acabei esbarrando em seu ombro sem querer.

- Desculpa! - Falei preocupada com o rapaz.

- Desculpa! - Respondeu ao mesmo tempo sem ao menos me olhar. Que falta de educação!

Foi bem rápido, nem consegui olhar em seu rosto. Cara estranho.

 Bom, vou tomar meu café. Tenho uma festa para ir hoje à noite, preciso me recuperar e ficar linda. Estou amando passar esses dias de férias da faculdade aqui, no Leblon. Por mais que eu esteja na casa da patroa da minha mãe, é bacana mesmo assim. Minha mãe é empregada dela desde antes de pensar em me ter. A dona Margarida é legal, é como uma segunda mãe para mim. Não sei se sobreviveria se tivesse que passar todas as minhas férias lá na baixada. Falando em dona Margarida, tenho que voltar para o apartamento para almoçar e me arrumar para correr.

Paguei a conta com o cartão que a patroa me emprestou e sai do bar de nariz erguido como se estivesse me vangloriando pelo que eu não tenho. Engraçado que é exatamente isso que estou fazendo.

 Depois de descansar um belo almoço que minha mãe preparou, coloquei minha calça legging preta, um top da mesma cor e meu tênis rosa. Meus fones de ouvido não podem ficar de fora dessa. Quando desci do apartamento para começar a corrida, encontrei uma amiga, que por coincidência também estava aqui. O povo da baixada tem mania de ter patroa por aqui, isso me assusta.

- Helena? - Perguntou Isabel enquanto arregalava os olhos, surpresa.

- Deixa eu adivinhar, Isabel, está na casa da patroa da sua mãe também? - Retruquei com ironia.

- Na verdade, não. Estou de namorado novo, ele tem uma boa condição. - Respondeu gesticulando como uma madame.

-É sério? - Gritei, curiosa. - Mas e o Roberto?

- Não deu certo, cá estou eu. Enfim, tem planos para hoje à noite?

- Tenho, sim. Vai ter uma festa em Ipanema, acho que vai ser bacana, vamos?

- É claro!

Me despedi da Isabel e comecei a correr. No meio da corrida pensei em como ela consegue amar de novo tão rápido. Às vezes me pergunto se ela realmente ama. Resolvi atravessar a rua para contornar e voltar. Recebo uma mensagem da Bebel boca de mel. É engraçado, mas é assim que chamam ela na baixada. Estou ouvindo música no último volume, parece que perderei meus ouvidos. Ela me contou uma coisa sobre o Roberto, na cama, que me fez rir involuntariamente enquanto atravessava a rua. Um carro estava parado, me esperando passar. Olhei de relance para dentro do mesmo e vi um homem que não me era estranho. Voltei ao apartamento e me deitei para esperar a hora de me arrumar e sair para curtir.

O amor que encheu a barrigaOnde histórias criam vida. Descubra agora