Entrei no elevador em dois tempos, não queria correr o risco de ter explicar a minha longa ausência. Thomas continua o mesmo, graças a Deus. Eu não saberia ter que lidar com toda uma adaptação novamente. Ele seria complicado e insuportável com qualquer personalidade.
Meu celular começou a tocar e eu atendi, mas sem falar nada.
- Amiga? - Surgiu com a voz de Isabel.
- Creio que seja eu. - Respondi.
- Infelizmente é - Retrucou - Quero saber o porquê da sua visita ao Thomas. Por que não veio me ver primeiro?
- Eu encontrei ele bêbado, Isabel. - Disse eu - Estava deplorável! - Completei.
- Não fale assim, Ben me contou que o goró foi em sua homenagem.
- Eu não posso fazer nada. Foi ele quem quis assim. - Respondi enquanto seguia na calçada até meu carro.
- Não o ama mais?
- Amo. - Respondi baixinho.
- Então por que tanto dramalhão? - Perguntou debochando.
- Porque eu posso até dar sopa, mas dessa vez vou oferecer um garfo. Não vou mais ser vulnerável. - Respondi enquanto ligava o carro.
- Ok, dificuldade. Pretende me ver?
- Estou indo agora, meu bem.
Arranquei com o carro e segui até o prédio onde o Benjamim mora. Fiquei uns 20 minutos embaixo de um sol de quase quarenta graus tentando convencer o porteiro de que eu sou uma amiga. O dia estava com um mormaço insuportável, eu já não lembrava mais de como isso era ruim. O calor em cima dos carros embaçava a vista de quem olhava. Acho que se eu ficasse mais dois minutos ali eu ia pegar fogo.
Isabel finalmente ligou para o porteiro que imediatamente, após um pedido de desculpas, abriu o portão da garagem. Segui até depois do playgroud e deixei meu carro ao lado de um Jeep amarelo.
Desci do carro e, ao passar no playgroud, reparei duas crianças idênticas. Óbviamente eram gêmeas, mas eu me encantei ao olhar aquelas criaturas. Resolvi passar direto e seguir até o elevador.
Assim que chegou no andar esperado, a porta do elevador se abriu e lá estava, feito uma estátua, me olhando, a Isabel com a mesma cara de lesada. Não é possível que ninguém tenha, no mínimo, feito a unha. Tudo está absolutamente no lugar. Parece que eu voltei no tempo.
Isabel me abraçou com força e só me soltou após um breve e baixo gemido que soltei. Entramos pela porta da cozinha, no apartamento.
- Onde está o Benjamim? - Perguntei.
- Ele está de serviço, mas já deve estar chegando.
- Cedo assim?
- Ele está desde ontem. - Retrucou.
- Vida de policial é difícil, mas eu admiro bastante. - Comentei.
- É porque não é o Thomas que corre risco de vida todos os dias.
- Dá para parar de me ligar ao Thomas? Eu e ele não temos mais nada.
- Tá! ok!
O almoço finalmente ficou pronto e eu já estava com a pressão no pé de tanta fome. Isabel havia preparado um macarrão de forno e fez questão de espremer limões para fazer suco. Nos sentamos sobre a mesa até que a porta se abriu.
Isabel correu para atender e eu só sabia me perguntar porque ela levantou se sabia que Benjamim tem a chave. Rapidamente, Benjamim tomou ela em seus braços e a tascou um enorme beijo. Parecia um Dinossauro engolindo uma barata. Eles pareciam não se importar com a minha presença e, em um ato de desespero aparentável, as mãos de Isabel se acomodaram por dentro das calças de Benjamim.
- Eu vou vomitar aqui mesmo. Falem duvido. - Falei enquanto colocava um pouco de comida na boca e revirava os olhos.
Benjamim empurrou Isabel e se desesperou para retomar a postura. Seus olhos estavam arregalados e ele começou a suar.
- Vo.. Você.. Você está aqui? - Perguntou ele.
- Sério? - Respondi enquanto balançava o garfo com a mão direita.
- Isabel, por que não me avisou que ela estava aqui?
- Por que não vi problemas, ué. - Respondeu ela.
- Você devia saber que ela é autista, Benjamim. - Disse eu - Mas não se importe com isso. Vá tomar um banho e se junte a nós. - Completei.
Passados quarenta minutos e estávamos todos nós sentados. Eles dois almoçando e eu acabando com o pode de sorvete de flocos que Isabel havia comprado.
- Então, Helena. - Disse Benjamim - Carrão, hein. 4x4? - Perguntou.
- Sim. Eu gosto de carro grande. - Respondi.
- E como foi em Portugal? - Perguntou Isabel enquanto mastigava.
- Lá é legal, o pessoal mastiga de boca fechada e evita o máximo falar enquanto come.
- Palhaça! - Disse ela enquanto fechava a cara.
- Eu sempre quis saber qual é o esquema financeiro lá. Como se virou? - Perguntou Benjamim.
- O salário mínimo de lá é o mais baixo da Europa, é 557 euros. Óbvio que qualquer um vive melhor do que no Brasil com um salário de 2 mil reais. - Disse eu enquanto fazia umas caretas.
- E como comprou o carro? E a faculdade?
- Dona Margarida me deu. A faculdade está trancada, vou destrancar em breve.
Interrompendo a conversa, alguém começou a bater na porta. Nós três nos olhamos por alguns segundos até Benjamim levantar com um enorme bico após entender, através do olhar de Isabel, que ele deveria abrir a porta. Ele abriu a porta e lá estava o Thomas com um enorme buquê na mão e um sorriso forçado no rosto.
- Precisamos conversar, Helena. - Disse Thomas.
- Você é uma pedra no sapato, sabia? - Perguntei enquanto fazia um enorme bico.
Reparei que Benjamim e Isabel saíram no sapatinho e foram rindo para outro cômodo da casa enquanto Thomas vinha em minha direção e se sentava na cadeira que se encontrava na minha frente e inclinava o corpo para frente.
- Onde estava esse tempo todo?
- Ali.
- Ali onde?
- Ali. - insisti.
- Não pode conversar direito comigo?
- Posso.
- Então, onde estava? - Perguntou.
- Ali. - Repeti.
- DÁ PARA PARAR? - Gritou ele.
- Sabe, até que eu estava com saudade de te ver com raiva.
Thomas, com os olhos cheios de lágrimas, soltou o buquê de de girassóis e me abraçou rapidamente. Ele me apertou bem e, logo após, fez com que eu sentisse o meu ombro úmido. ELE ESTÁ CHORANDO!!!
- Você parece uma moça! - Exclamei.
- A moça que você ama. - Disse sem me soltar.
- Quem disse?
- Você mudou a aparência, mas ainda é a mesma deficiente que conheci.
- Deficiente é a vaca da sua namorada! - Exclamei enquanto tentava me sontar dos braços dele.
- Eu te amo!
- Se persistirem os sintomas, um médico deverá ser consultado. - Disse eu, enquanto fazia uma careta e imitava a voz daqueles locutores.
Thomas me soltou posicionou o rosto frente ao meu. Eu só sabia pensar no quanto ele continuava lindo e em como aquele olhar faz minhas pernas bambearem. Infelizmente preciso manter a postura. Ele não me terá tão fácil.
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O amor que encheu a barriga
RomancePLÁGIO É CRIME! Thomas é um jovem de 25 anos, de pele parda e com cabelos castanhos que combinam com seus olhos cujos cílios são longos e atraentes. Seu maxilar bem desenhado dá um contexto maior aos lábios que, por sua vez, são pequenos e miste...