Capítulo 20 - Helena

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    Tive que ficar a madrugada inteira no mesmo cômodo que aquele incômodo. O que eu não faço pela Isabel, né? Descobri que o nome dele é Thomas. É um bonito nome. Pela manhã, eu e Bebel saímos do quarto e ficamos conversando no corredor, não queríamos incomodar aquele traste, ele estava quase cochilando na poltrona. Reparamos que o Benjamim acordou, Isabel brilhou os olhos assim que viu, foi assim quando ela soube o nome dele também. Como ela consegue? Acabou de sair de um péssimo relacionamento. Aliás, todos os relacionamentos que ela teve foram péssimos. No começo de cada um parecia perfeito e eterno, mas, depois de alguns meses, as máscaras caíram. Ela é bem forte, confesso, eu não teria disposição para continuar de pé mesmo depois de tantas quedas. Parece que todos os namorados dela fazem, de propósito, algo para machucá-la. O idiota se levantou e veio em nossa direção. Pediu para que Isabel fosse vê-lo, ela foi sem pestanejar, me deixando sozinho com aquele lá. Nos encaramos por alguns segundos e abri a boca para insulta-lo, mas preferi me calar, fazer um sinal negativo com a cabeça e debochar visualmente. Fui para fora do hospital tomar um ar e, quando voltei, percebi que estavam falando de mim. Thomas disse que eu não o agradava. Eu não me importo, afinal, ele também não tem a mínima significância para mim. Ele me olhou rapidamente enquanto eu ria e acenava debochadamente, até que ele deu as costas e saiu dali. Resolvi que, já que estava mais perto, iria para casa passar o dia. Não demorou muito para o meu celular tocar. Era a Isabel.

- Fala!

- Amiga, o Ben será liberado do hospital amanhã. Ele me disse onde está a chave do apartamento e pediu para que eu passasse a noite lá. Disse que eu poderia te chamar. Vamos?

- Sério? Onde é?

- No Leblon. Você pode ir daqui a pouco, chegarei lá no início da noite.

- Show! Vou adorar ter liberdade em um apartamento no Leblon. Onde é?

Isabel me passou todos os detalhes de como chegar lá. Tomei um banho demorado e coloquei meu short azul, uma blusa soltinha e uma rasteirinha. Fui de ônibus e metrô porque estava com pouco dinheiro. Foi uma longa viagem, estou exausta. Fico feliz pela Bebel, mas não acho saudável nos entregarmos tão facilmente. E se for só tesão? E se não for o amor que ela acha que sente? Talvez seja isso que sempre faz ela terminar sozinha. Ela não precisa ser tão idiota sempre, nós já somos crescidas. O tempo que ela perde com namoro poderia ser investido em festas e diversão, isso nos traz felicidade e só faz a gente se arrepender dos homens feios que pegamos. Cheguei no suposto apartamento, olhei embaixo do tapete e não encontrei a chave. Será que ela já está aqui? O som está alto, com certeza ela já chegou. Toquei a campainha e ninguém me atendeu. Insisti em tocar e mesmo assim não obtive resposta. Comecei a berrar. Alguns vizinhos apareceram nas portas para ver o que estava acontecendo. Povo estranho. Fiquei lá por alguns minutos e a porta de abriu, junto a ela meus olhos se arreganharam.

- SENHOR, O QUE EU TE FIZ?

Que homem é esse??? Eu não havia visto esse imbecil por esse lado. Olhei ele de cima a baixo e, como eu estava meio desnorteada com aquela visão, acabei perguntando o que ele estava fazendo no apartamento do melhor amigo dele.

- Você sempre vai insistir nessas perguntas idiotas? Esse é o apartamento do Ben, não é sua favela.

- Como sabe que moro em COMUNIDADE?

- Sua amiga mora, concluí que você também seria de lá. Seu jeito não nega.

- Enfim, onde está Isabel?

Perguntei já entrando no apartamento e olhando tudo. Peguei umas fotos que estava na estante enquanto esperava o idiota responder. Bom, até que esse policial é mesmo um gato. Isabel acertou em cheio.

O amor que encheu a barrigaOnde histórias criam vida. Descubra agora