Capítulo 42 - Thomas

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THOMAS

- Como assim seu filho? Por que ela não falou antes? Isso não parece suspeito?

- A idade bate e, para ser sincero, o garoto é a minha cara. Eu estou perdido.

- E a Helena?

- É isso que está me torturando. Eu não entendia o significado do azul no céu até olhar naqueles olhos. Até o brilho do sol fez sentido depois que a conheci, aquilo tudo é apenas um mero reflexo de sua luz. Toda calmaria e confiança que ela me passa apenas com um abraço é de impressionar até os mais estudiosos. Ela trouxe cor a esse mundo cinza, trouxe graça a esse mundo sério e, o mais importante, trouxe amor à minha vida. Eu trocaria duas vidas inteiras por um momento com ela, só para poder olhar aqueles dentes brancos se abrindo através de um sorriso me tomando como motivo. Eu não me vejo em outra sensação maravilhosa, não me vejo sem ela.

- E o que você pretende fazer então?

- O que me sugere?

- Cada leão que você evita matar hoje, é somado aos leões de amanhã. Então, não deixe para depois o que deve ser feito agora. Vá em frente, talvez ela esteja esperando essa maldita mensagem que você treme ao apertar o enter e acaba desistindo de mandar; seja por medo, insegurança ou preguiça mesmo. Talvez ela ouça sua voz sempre que fecha o olhos. Talvez ela tenha borboletas no estômago que se agitam ao ouvir seu nome. Enfim, talvez. Deguste da coragem ao menos uma vez e diga a ele tudo que você sente. Até porque, é melhor sofrer agora do que levar, com você, a certeza de um talvez. Talvez você case; talvez não. Talvez você tenha filhos; talvez não. O que importa é o agora. Não deixe que outra pessoa ponha, na mesa, as cartas que você deveria ter posto. Tire o Ás da manga!

- Você tem razão, Ben. Farei isso amanhã. Eu prometo.

- Eu estarei se precisar.

Me despedi de Benjamim e me dirigi até meu carro, indo, em seguida, até meu apartamento. Os problemas que me rodeiam não podem atrapalhar o que eu sempre costumei fazer. Eu preciso estudar. Reuni todos os meus livros da faculdade e me sentei na mesa que tem ao lado da minha cama. Abri os mesmos e, depois de longos minutos tentando entender o que estava escrito, percebi que não conseguiria me concentrar com tanta facilidade no que sempre foi fácil para mim. Fechei os livros e comecei a olhar fixadamente para o meu interior. Tentei entrar em contato com os meus pensamentos para tentar entrar em um acordo com tudo que me atormentava. Nada adiantou.

Levantei e fui até minha velha vitrola. Não a uso desde que Helena apareceu em minha vida. Coloquei o disco do Miles Davis para tocar e me deitei para tentar acalmar todos os meus nervos. Horas se passaram e eu ainda me encontrava ali, deitado, sem fome e sem cede. Rosa não parava de aparecer para me ofecer algo, eu não me cansava de negar.

Tudo que sinto vontade de fazer é ir até Caroline e pedir para que ela pense em tudo que poderíamos ter sido se ela não tivesse ido embora. Nós poderíamos ter tentado, casado em uma igreja qualquer; poderíamos ter aquele par de filhos e aquele cachorro que ela gosta. Eu e ela poderíamos ter arrumado empregos bacanas e uma casinha naquela cidade que a gente nunca cogitou em morar. Poderíamos passar a tarde de domingo assistindo seriados. Ela poderia me contar um pouco sobre a novela enquanto eu me preocupo com o esporte e reclamo da política. Nossos filhos poderiam ter estudado em uma boa escola, com bons amigos e ótimos professores. Nossa geladeira poderia estar cheia de sonhos e planos que juntamos e congelamos para conquistar depois, porque éramos mais importante um para o outro. Pedir para que ela pense em tudo que poderia ter acontecido, nas grandes brigas e nos pequenos desentendimentos que, de uma outra para outra, nos levaria ao saudoso sexo. Seríamos um ótimo casal se ela não tivesse ido até aquela porta e não tivesse apenas terme feito observá-la partir. Eu poderia ser um bom cônjuge e ser pontual ao pagar as contas da casa. Viajaríamos para a casa dos seus avós ou até mesmo para um sítio distante daqui. Poderíamos ter aquele sofá que eu chamo de "peludo" e os móveis pretos. Poderíamos ter sido. Poderíamos. Hoje eu percebo que fugi para me tornar o cônjuge que ela chamava de perfeito, mas esse não sou eu. Eu mudei cada partícula do meu corpo e, quando finalmente me transformei no "par ideal", ela juntou as escovas de dentes com alguém que é o reflexo do meu passado. Nós seríamos um ótimo casal, acredite. Eu lamento ela não ter merecido.

Me torturei em meus pensamentos até adormecer. Meu corpo se encontrava em escassez de pensamentos positivos. Acordei pela manhã, ainda desanimado e nenhum afim de ir até à faculdade, mas preciso me motivar, hoje vou me abrir totalmente com Helena.

Fiz a barba, usei aquele perfume amadeirado que ela gosta e coloquei a melhor roupa que encontrei. E fui, confiante, até a faculdade. Me sentei naquele banco onde estava ontem e a esperei chegar, ansioso. Escutei sua risada e, quando levantei a cabeça, me deparei com a cena que mais me causou raiva na vida. Aquele chefe dela estava com as mãos em seus ombros enquanto a guiava pela faculdade. Helena caia em gargalhadas ao ouvir piadas que com certezas não tinham graça. Me levantei de pressa e franzi a sobrancelha ao perceber que ela me viu e não mudou a postura.

- QUE PORRA É ESSA, HELENA?

Ela me olhou por um instante e fez cara de desdém enquanto aquele crápula tomava a frente e dizia:

- Thomas, não é o que está pensando.

- Cala a boca! Eu não estou falando com você!

Helena resolveu defendê-lo e tornou a falar:

- Você não precisa falar assim com ele. Ele está sendo um ótimo amigo.

- Meus pais também eram amigos e olha eu aqui.

- Não tenho tempo para suas infantilidades, Thomas.

- Eu não perguntei. Você vai embora comigo.

- Você não manda em mim.

- Certo! É você quem sabe.

Ajeitei minha camisa e fui embora, esbarrando nos ombros daquele cara. O encarei por segundos antes de dar as costas aos pombinhos.

Resolvi que não ficaria na faculdade hoje, a raiva tomou todo o meu corpo e eu precisava espairecer. Entrei no carro e fui até o enderço que Caroline me deu. Não demorou para que ela abrisse a porta e me encasse, assustada.

- Thomas? Que surpresa!

O amor que encheu a barrigaOnde histórias criam vida. Descubra agora