Capítulo 13 - Helena

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    Cheguei na boate. Vou usar todo o dinheiro que a dona Margarida me deu. Minha mãe odeia que eu faça isso, ela sente que usa a pobre senhora, mas não percebe que já faz parte da família, e que se não fosse a gente, dona Margarida já teria morrido de tanta solidão. O nome da minha mãe é Maria, nascemos em um bairro pobre, da baixada. Prefiro não falar o nome. Sempre tivemos que improvisar para comer ou para qualquer outra coisa. Só curtimos uma boa flexibilidade financeira quando estamos por aqui. Enfim! Resolvi afogar todas as minhas mágoas passadas essa noite. Não vou ter limite, até porque não sou cartão de crédito. Nem cartão de crédito eu tenho. Comprei cerveja, não gosto de bebida quente. Enchi a cara a última coisa que veio na minha cabeça, sobre a boate, foi eu ter começado a dançar sozinha, na pista. Quando acordei, não reconheci o quarto, nem a camisa masculina que eu estava vestindo. Só sei que tinha um cheiro maravilhoso, doce e amadeirado. Será que achei outro gringo naquele lugar? Levantei da cama, receosa com o que poderia encontrar naquele lugar. Fui até a cozinha e encontrei uma senhora, preparando a mesa para o café da manhã.

- Bom dia, mocinha. Está melhor?
Corei na hora! Quem é essa senhora? O que eu falo? O que eu estou fazendo aqui?

- Um gato comeu sua língua?

- Bom dia, senhora. Onde estou?

- Está na casa do meu patrão.

ELE TEM UMA EMPREGADA? NOSSA! DEVE SER MARAVILHOSO E RICO AINDA. ACHO QUE DESSA VEZ EU ACERTEI!

- E seu patrão, onde está?

- Ele deu uma saidinha, mas já deve estar voltando.

- Tudo bem. Se incomoda se eu esperar ele sentada no sofá? Quero saber o que houve ontem.

- Sem problemas, querida. Pode ficar lá.

Sentei no sofá e fiquei tentando me lembrar qual foi a besteira que fiz dessa vez. Olhei as fotos na estante e vi um casal bem bonito, com uma criança linda da suposta mãe. Havia várias fotos desse casal espalhados pela sala de estar. Ouvi o barulho da porta e retomei minha postura, não sei o que esperar de um homem que foi tão gentil ao me trazer para cá e cuidar de mim assim. Ainda bem que minha mãe sabe que eu talvez não volte para casa quando eu saio para me divertir. A porta abriu e tomei um susto imenso. Era aquele imbecil que quase me atropelou. Corri para o quarto e comecei a arrumar minhas coisas. Ele soltou as coisas sacolas de mercado e correu em minha direção.

- O que está fazendo?

- Estou arrumando minhas coisas, não está vendo?

- Estou, mas por que está fazendo isso?

- Você se aproveitou de mim só porque eu estava bêbada, seu idiota? Acha que pode fazer isso só porque eu não estava em condições de responder por mim?

- Quem disse isso?

- Eu concluí depois de ver que foi você que me trouxe para cá.

- Você não me conhece.

- Conheço o suficiente para não confiar em você.

Eu comecei a cuspir palavras que provavelmente estava derrubando esse ego enorme dele. Fiquei falando por minutos até que ele me interrompeu com um tom de voz alto e surpreendente.

- POR QUE VOCÊ TEM QUE SER TÃO BABACA? EU TIREI VOCÊ DA MÃO DE VÁRIOS HOMENS QUE TENTAVAM SE APROVEITAR E TROUXE VOCÊ AQUI. TE DEI UM BANHO E TE VESTI. DEITEI VOCÊ NA MINHA CAMA E DORMI NO QUARTO DE HÓSPEDES SÓ PARA EVITAR ESSE TIPO DE PENSAMENTO E VOCÊ CONTINUA ACHANDO QUE SOU EU O IDIOTA?

Não tive reação diante daquelas palavras. Fiquei quieta e esperei ele terminar de falar. Eu ainda não poderia sair por baixo. Afinal, quem ele pensa que é para gritar comigo? Pensei durante alguns minutos e finalmente falei.

- Então, você me deu banho? Isso não é se aproveitar?

Ele já estava com labaredas nos olhos, eu podia ver as veias querendo saltar em sua testa e percebi que ele passava a língua no interior dos lábios durante a irritação.

- VOCÊ É UMA IMBECIL! EU DESISTO.

- Vou levar como um elogio, tchau.

Peguei minhas coisas e fui até a porta. Ouvi aquela voz bem mais calma e com um tom de deboche vindo em minha direção.

- Vai levar minha camisa de recordação?

Eu me enchi de raiva, voltei até o quarto e troquei de roupa na frente dele. Seus olhos arregalaram e ele não soube o que fazer. Já vi que deve transar igual aquele gringo.

- Por que está despida no meu quarto?

- Me diz você, não tomei banho e coloquei só uma blusa para esconder minha nudes. Você que foi o "herói" da noite.

Ele ficou quieto e apenas me observou sair, batendo a porta do apartamento. Mal sei onde estou, tive que andar até o prédio onde minha mãe trabalha. Depois de tomar um banho e me deitar, não consegui tirar tudo que aconteceu nessa manhã da cabeça. Como ele pode ser tão arrogante? Ele gritou comigo. Egocêntrico, imbecil.    

O amor que encheu a barrigaOnde histórias criam vida. Descubra agora