Capítulo 45 - Thomas

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- Isso não é mais da sua conta. - Respondeu enquanto tirava os braços do meu controle e saia rapidamente do meu ponto de visão.

A pior sensação do mundo é aquela que você sente quando percebe que tudo que você fez por aquela pessoa foi em vão. Que cada detalhe que você percebeu não valeu de nada após o primeiro tropeço. Que acertar mil vezes nem se quer abriu contagem.

Entrei no elevador e me olhei no espelho. Eu não conseguia ver mais aquele bom homem. Eu não vou mentir, é triste, nunca me senti tão inexperiente comigo mesmo. Estou destruído, não sei o pensar.

Aquele beijo em Caroline foi completamente precipitado, um momento de carência, não devia acontecer. Até ela se assustou quando eu a tomei em meus braços.

Um suor começou escorrer sobre meus membros e eu já estava escorrengando em cima dos meus chinelos. Tudo havia parado de fazer sentido.

Cheguei ao andar do meu apartamento e um senhor que morava ao lado me viu e não pôde deixar de perceber que uma lágrima escorria em meu rosto.

- O que houve, rapaz? - Perguntou enquanto levantava a sobrancelha direita.

- Não houve nada. - Respondi querendo encerrar de vez aquela conversa.

- Entre, venha tomar uma água.

- Meu apartamento é bem aqui.

- Eu não perguntei sobre seu apartamento. Eu pedi para que venha tomar uma água.

- Tá bem. - Respondi assustado enquanto o seguia até seu apartamento.

Aquele lugar era enorme e bem decorado.

- Onde está sua esposa? - Perguntei enquanto girava meu corpo para procurar alguém.

- Eu moro sozinho. - Respondeu enquanto pegava a água.

- Sozinho?

- É, sozinho. - Falou, encerrando aquele assunto. - Vamos falar sobre o que houve?

Nos sentamos sobre um sofá marrom, de coro. O senhor, de aproximadamente 70 anos, colocou os pés dobre a pequena mesinha que havia na frente do sofá.

Falei por uma hora inteira e, por incrível que pareça, ele não desviou olhar de mim.

- O que seu coração está te mandando fazer, meu jovem? - Perguntou com a voz mansa.

- Eu acho que ainda há sentimento quando se trata de Caroline. - Respondi sem ter certeza do que eu estava falando.

- E essa outra moça? - Perguntou. - Helena, né?

- Sim. - Confirmei- Veja bem. Sempre que procuro pela felicidade, é na esperança de encontrar a Helena, topar com seu sorriso na esquina, sentir o famoso "frio na barriga", perceber minha voz embargar. É como se eu fosse um animal que sempre escolhe ir ao abate. Sou sempre abatido pelo olhar dela; seus olhos pretos que refletem tudo que não é transmitido pelo som daquela voz. Ela é simplesmente inexplicável, Simplesmente incrível e, por mais que não me queira mais, é simplesmente minha. - Encerrei ofegante.

- Sabe, meu rapaz. Você a ama. - Respondeu com certeza.

- Mas nós estamos com problemas.

- Quando eu era criança, quis ser vários super-heróis. Eu já quis ser o superman e voar, ser o batman e ter acessórios legais, ser o homem-aranha e soltar teias. Agora, mais velho, escolhi ser apenas eu. Entendi que todos esses poderes não fazem tanto efeito quanto um elogio ao senhor que teve um dia ruim. Todos esses não tem a mesma intensidade que o sorriso fácil que se abre todos os dias para as pessoas mal educadas. Uma mão que ajuda pode doer mais que um soco na cara. Eu cresci e decidi que quero ser apenas eu, mas nunca o mesmo. Hoje eu quero ser eu, só que em um lugar melhor. Todos enfrentamos problemas, não ache que é o único. Nenhum problema é maior que o outro; talvez meu peixe, para mim, tenha o mesmo significado que seu pai tem para você. A questão é que, como como disse Einstein: "A mente que se abre para uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original". Entenda que você é privilegiado pelo simples fato de ter oxigênio. Então, dance, cante, estude e aceite que é igual a todo mundo. Levante a cabeça e olhe para o futuro ao invés de olhar para o seu umbigo o todo tempo. Aí, quando você começar a enfrentar dificuldades, vai entender que.. Bom.. Bem-vindo ao mundo. - Completou - Espere a poeira baixar e vá atrás da bela moça, rapaz. Não espere o tempo passar para se dar conta que mora em um enorme apartamento cheio de mentiras e rancores. O orgulho preencheu isso aqui por inteiro- falou enquanto se levantava e começava a andar pela sala- Eu não tenho filhos, não tenho esposa e nem um animal de estimação. Eu sou sozinho. Não seja como eu. - Terminou enquanto deixava transparecer um semblante abatido e solitário.

O amor que encheu a barrigaOnde histórias criam vida. Descubra agora