Já que voltei para casa e passei o dia inteiro nesse calor infernal. Vou descer o morro e comprar algo para eu comer, não estou afim de fazer janta. Minha comunidade é enorme! Eu amo esse lugar, mas sairia daqui na primeira oportunidade. Ninguém aguenta tanta violência que esses policiais causam. Já chegam atirando e só perguntam depois. Deus me livre desses vermes! Depois que lanchei, tornei a subir o morro para voltar para casa. No meio do caminho, um tiroteio intenso começou. Era uma gritaria enorme e, por mais que eu já estivesse acostumada, entrei em pânico. Corri até um beco e fiquei parada ali, esperando os tiros darem uma trégua para que eu pudesse correr até minha casa, não era muito longe dali. Ouvi uns passos e entrei em desespero, comecei a chorar como uma criança e chorei mais ainda quando um policial virou o fuzil rapidamente para a minha cabeça.
- NÃO ATIRA, PORRA. NÃO ATIRA!
Um breve silêncio se instalou ali, até que ele começou a gritar comigo. Aquela voz parecia familiar, mas o desespero não me deixou pensar em nada.
- COLOCA AS MÃOS NA PAREDE, ANDA!
Eu já estava tão acostumada com o procedimento, que meu corpo foi no automático. Ele demorou um pouco para fazer algo, até que resolveu me revistar, sua mão passava em meu corpo de forma que parecia não estar procurando algo que lhe oferecesse perigo, e sim algo que lhe causasse prazer. Resmunguei baixo, indignada.
- Não pode me revistar, eu sou mulher.
- Liga para a polícia.
O tom de deboche daquele idiota fez com que meu sangue subisse à cabeça. Fiquei quieta e torci para que aquilo acabasse logo, eu não via a hora de ir para a casa e me sentir com o mínimo de segurança possível. Em ato inesperado, alguns dos bandidos que ali passavam na hora, atiraram em minha direção. Como podem ser tão caolhas? O policial está bem aqui e eles atiram em mim? O policial pulou na frente da bala e caiu com o peito sangrando. Para que serve esse colete idiota? Fiquei surpresa com a reação do policial. Se ele soubesse o que eu falo da polícia, duvido que faria isso. Abaixei e deitei ele sobre o meu colo, comecei a agradecer enquanto eu tremia muito por culpa de tudo que estava acontecendo.
- Não é melhor me agradecer no hospital?
- Tudo bem, vamos.
Os outros policiais chegaram logo depois de tudo isso, parecia até aqueles filmes irritantes onde a ajuda só chega quando a merda toda já aconteceu. Descemos o morro e fomos até uma ambulância que já estava o esperando. Tiraram a toca ninguém que cobriu a rosto dele e eu dei dois passos para trás. Não acredito que é ele! Foi essa magnitude que salvou minha vida? Eu não sabia mais se minhas pernas estavam bambas pelo medo que ainda havia em mim ou se era culpa do meu tesão por ele que se fez presente novamente. Eu sabia que conhecia aquela voz de algum lugar. Ele desmaiou e eu entrei em desespero. Ele não pode morrer agora, não. Os socorristas pediram minha presença e eu aceitei na hora. Entrei na ambulância e não parava de encará-lo, agradecida. Fizeram todos os procedimentos e uma enfermeira ligou para um amigo dele. Esse amigo chegou desesperado ao hospital e começou a conversar com ele.
- Como isso foi acontecer, amigão? Vamos lá, acorde!
Uma lágrima caiu em meus olhos e eu decidi que ficaria lá com ele.
- Você pode ir, se quiser. Eu fico com ele.
Encarei ele por alguns instantes e percebi que ele estava chorando. Ele estava com a voz trêmula e pareceu realmente preocupado.
- Obrigado por acompanha-lo.
- Não tem problema. Se me dá licença, vou ligar para uma amiga e pedir para que ela traga roupas limpas. Preciso me trocar.
Me levantei e saí do quarto. Enquanto eu discava o número da Helena, o amigo do gostosão saiu do quarto e foi até uma senhora, deu um dinheiro para ela e voltou para o quarto. Helena me atendeu rápido e eu até estranhei.
- Oi, Bebel boca de mel.
- Larga de ser idiota! Pode me trazer roupas limpas? Estou cheia de sangue.
- Que mico, Isabel. Menstruou?
- Não! Aquele policial gostoso levou um tiro. É uma longa história. Estou naquele hospital perto da sua casa. Pode trazer?
- Eu até perguntaria se você não tem outra amiga, mas eu não estou aguentando mais ficar nesse apartamento. Vou ver se ainda me sobrou dinheiro e vou, com certeza.
- Tudo bem, meu bem. Obrigado!
Eu liguei para ela porque é a minha amiga mais próxima, a única que eu confio. Voltei ao quarto e aguardei que Helena chegasse. Trinta minutos depois recebi uma mensagem dela e me levantei dizendo que ela havia chegado. Fui até lá fora buscá-la e levei cerca de uns cinco minutos para me trocar. Voltamos ao quarto e eu avisei ao entrar. O rapaz que ali estava olhou para trás e ficou com um semblante assustado. Eu me assustei também e olhei para Helena, que para minha surpresa, também parecia assustada. Parecia um circo de horrores, como se eles fossem inimigos íntimos e que estavam prestes a se atracar.
- Só pode ser brincadeira!
- Só pode mesmo. O que você está fazendo aqui?
Eu estava meio perdida e tentei esclarecer as coisas para mim mesma. Quando perguntei, responderam ao mesmo tempo enquanto pareciam queimar de raiva.
- Sim!
- Sim!
Ele parecia não mais se importar com o amigo que estava ao lado, baleado e respondeu a Helena com provocação.
- O que estou fazendo aqui? Meu melhor amigo está baleado nessa cama. Você está cega? É meu carro que está sobre a cama?
Eu fiz uma cara de confusa me surpreendi com aquela afinidade que pareciam ter. Helena, irritada, resolveu por lenha na fogueira.
- Isabel, você foi sentir tesão logo pelo melhor amigo desse crápula? Você não tem juízo?
Eu fiquei vermelha de vergonha e de raiva ao mesmo tempo. Aquela situação já estava se tornando um incomodo. Um gostoso desse morrendo e esses dois discutindo como crianças.
- Vocês precisam ser tão babacas logo agora? Não sei o que está acontecendo aqui, mas sei que não é parar acontecer nesse momento. Vamos focar no paciente.
Eles concordaram enquanto se encaravam com um tom de raiva. Será que está saindo um amor daí? Será que Helena está finalmente apaixonada? Essa eu pago para ver. Foi uma longa madrugada, tive que aguentar as provocações que um fazia para o outro. Até que eu estava gostando de ver aquilo. Era engraçado.
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O amor que encheu a barriga
RomancePLÁGIO É CRIME! Thomas é um jovem de 25 anos, de pele parda e com cabelos castanhos que combinam com seus olhos cujos cílios são longos e atraentes. Seu maxilar bem desenhado dá um contexto maior aos lábios que, por sua vez, são pequenos e miste...