- O que foi, Rosa?
- Não foi nada. Tom. Não foi nada.
O que será que ela quis dizer com isso? Rosa podia ter dito milhares de coisas, inclusive que achei a mulher certa. Todas as mulheres são certas para ela. Voltei ao meu quarto e peguei o livro Mein Kampf, que fala sobre Adolf Hitler. Não, eu não o admiro, apenas gosto de estudar por conta própria cada parte da história. Uns dizem que ele é de direita, outros acham que ele é de esquerda. Então, vou estudar antes de sair cuspindo palavras que roubei da boca de alguém. Não sou de apenas ouvir o que dizem por aí e adotar as palavras, dizendo que é minha opinião, também. Bom, eu até tentei manter concentração na leitura, mas a esquentadinha não saia da minha cabeça. Não é de natureza feminina sobreviver aos meus encantos. Ela parece não se importar com minha beleza e meu dinheiro. Talvez ela esteja se fazendo de difícil. Então, vou ensiná-la o que é dificuldade. Acha que sou um cachorro? Não sou! Hoje não vou sair, decidi estudar política para, quem sabe, ter uma ideia própria que possa mudar o rumo do Brasil? Estamos em meio uma crise econômica, é necessário que haja uma reforma. Passei o dia inteiro estudando e tomando café. Sou viciado em café. Benjamim me ligou, disse que teria que ir à baixada, o batalhão o convocou para uma invasão em um dos morros de lá. Desejei boa sorte e pedi para que ele não morresse. Ele disse a mesma frase de sempre: "Relaxa, cara. Sou imortal até que me provem o contrário". Ele é demais, não tem jeito. Resolvi escrever umas coisas em meu bloco. Escrever é minha saída dos momentos ruins, é minha comemoração dos momentos bons e a calmaria encontrada no meio de todo esse caos. Depois que escrevi, pedi um minuto da atenção de Rosa para que eu pudesse ler para ela. Ela concordou e eu comecei.
- Já ouvi histórias que protestavam a favor do amor como sendo suficiente. Essas pregam que com amor tudo pode ser suportado. Bom, espero ser perdoado pelos ultra-românticos, mas amor não enche barriga, nem funciona como alicerce de um casal; respeito, confiança, postura e consenso, sim. O amor não passa de um grande conjunto de manias diferenciado que, assim como as coisas citadas anteriormente, não funciona sozinho. Você pode até acreditar que o amor funciona sozinho após tanta repetição alheia, mas não pode desconsiderar a certeza de que um coração não ama por dois. Você não é um bloco de rascunho onde seu par pode errar e apagar sempre só porque existe amor em você. Amor não é insistir em algo que não está dando certo. É como descer em uma corda. Quando as mãos começam a queimar, é necessário que você a solte.
- Acabou?
- Não, tem mais: Um relacionamento apaixonado que sempre dá errado é como uma estrada obstruída por um enorme buraco. Talvez você precise cair no mesmo 87 vezes para conseguir entender que existem caminhos melhores, repletos de respeito, carinho, entendimento e um possível amor construído ao passar do tempo. Mas por que muitos insistem em seguir a estrada obstruída mesmo depois de tantas quedas? Talvez pela esperança de ter ajuda para atravessar. Talvez por crer que conseguirá subir mesmo já estando bem lá no fundo. Talvez por amor. É aí que percebemos que nunca atravessaremos esse buraco sem ajuda. E que essa estrada obstruída é a pessoa que insiste em errar, e que você insiste em ter ao seu lado porque aprendeu, depois de tanta repetição, que amor é suficiente. Agora acabou. O que achou
- Eu amei! Por que não escreve um livro e admite que isso tudo aí é um desabafo, e que você apenas tem medo de sofrer novamente e adota, para si, uma filosofia que fecha os caminhos para um novo amor?
Lá vem ela de novo com esse assunto.
- Rosa, não quero mais falar sobre isso. Que bom que gostou do texto. Obrigado!
- Ok! Mas sobre escrever um livro não era brincadeira. Você tem potencial e recursos financeiros para lançar um.
- Pensarei com carinho. Prometo.
- Tudo bem, então. O que quer para o jantar?
- Tudo que você faz é ótimo. Me surpreenda!
Eu realmente amo a comida que a Rosa faz. Lembro-me quando podíamos nos sentar juntos para comer: eu, Rosa, minha mãe e meu pai. Que saudade dos meus velhos. Resolvi levar a Rosa até o shopping, ela me criou até hoje, ela merece um lazer. Ela ficou toda contente quando ficou sabendo de tudo que propus e foi correndo se arrumar. Coloquei minha calça bege, meu tênis rasteiro preto e uma branca. Entramos no carro e seguimos em direção ao shopping. No meio do caminho, recebi uma ligação do Benjamim, mas quando atendi, era uma mulher do outro lado. Uma enfermeira, dizendo que Benjamim foi baleado em meio a operação. Não acredito que vão provar para ele que ninguém é imortal. Manobrei o carro quase derrapando e Rosa se assustou.
- O que está acontecendo, Thomas?
- Benjamim levou um tiro, vamos ao hospital.
Tadinha da rosa, não é possível que no único dia que resolvi não ser fechado e decidi levar ela para se divertir, isso acontece. Fui até a baixada, depressa. Chegando ao hospital, desci do carro de uma maneira que a Rosa não conseguiu acompanhar. Ela resolveu ficar na área de fumantes enquanto eu ia lá dentro. Benjamim estava entubado. Uma moça muito bonita, de pele clara e cabelos negros estava parada ao seu lado, suja de sangue e com um semblante preocupado. Não dei tanta importância a isso porque meu melhor amigo estava com risco de vida. Segurei a mão dele e comecei a falar.
- Como isso foi acontecer, amigão? Vamos lá, acorde!
Uma lágrima caiu em meus olhos e eu decidi que ficaria lá com ele.
- Você pode ir, se quiser. Eu fico com ele.
A moça me encarou por alguns instantes e me disse que ficaria também, que devia isso a ele. Será ela aquela mulher a qual ele me contou? Enfim, isso não importa.
- Obrigado por acompanha-lo.
- Não tem problema. Se me dá licença, vou ligar para uma amiga e pedir para que ela traga roupas limpas. Preciso me trocar.
Ela se retirou do quarto com sua blusa suja de sangue e fez o telefonema. Fui até a Rosa e pedi para que ela fosse descansar. Dei o dinheiro do Táxi e um trocado para que ela pedisse um lanche, se quisesse. Ela agradeceu e se retirou, desejando boa sorte ao meu amigo. Ao voltar do quarto, fiquei 30 longos minutos encarando o Ben, preocupado com tudo que acabara de acontecer. A moça se levantou e disse que sua amiga havia chegado, que a buscaria na entrada do hospital. Eu concordei e continuei ali, rezando para que meu amigo ficasse melhor. Cinco minutos depois, eu ouço ela dizer que voltou e, quando me viro, um silêncio de quase um minuto se instala no quarto do hospital...
- Só pode ser brincadeira!
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O amor que encheu a barriga
RomancePLÁGIO É CRIME! Thomas é um jovem de 25 anos, de pele parda e com cabelos castanhos que combinam com seus olhos cujos cílios são longos e atraentes. Seu maxilar bem desenhado dá um contexto maior aos lábios que, por sua vez, são pequenos e miste...