Capítulo 30 - Bônus de Rosa

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    Thomas quase não vem para casa depois que conheceu essa menina, mas não estou reclamando. É bom que ele tenha achado alguém. Desde o começo eu sabia que essa menina ia ser alguém muito importante na vida dele. Eles são diferentes, por isso demostram ser dependentes um do outro. Passei o dia curtindo a banheira e aproveitei para me vestir à vontade. Quando a noite chegou, senti um mau pressentimento e não consegui dormir. Levantei no meio da madrugada para tomar um copo d'água e a porta abriu. Eu dei dois passos para traz, com um pouco de medo, e me deparei com o Thomas e Helena. Ele estava todo sujo se sangue, machucado.

- O QUE ACONTECEU?

Thomas parecia irritado com algo. Não me respondeu e seguiu até o quarto banheiro. Helena começou a me explicar tudo e eu fiquei perplexa com o acontecido. Sabia que algo ruim iria acontecer, só não esperava que seria com o Tom. Ele saiu do banheiro e foi direto para o quarto, sem olhar para nós. Helena interrompeu a conversa e foi atrás dele. Resolvi não me meter e fui até meu quarto, mas ainda estava sentindo aquela ruim sensação. Eu não sei o que é, mas já que o Thomas está bem, vou tentar cochilar. Eu dormi brevemente mas acordei bem cedo. Fiquei na cozinha, preparando o café enquanto Helena acordava e vinha até a cozinha, também.

- Precisa de ajuda, Rosa?

- Algumas coisas então em falta, preciso ir ao mercado.

- Deixa que eu vou.

Dei o dinheiro a ela e ela saiu. Fiquei um tempo ali, tentando entender o que se passava na minha cabeça. Thomas estava bem, dormindo, não há motivos para preocupação. O porteiro me ligou, perguntando se podia transferir o interfone para o meu apartamento. Uma moça estava querendo falar comigo. Fiquei curiosa e disse que podia, sim.

- Diga.

- Dona Rosa?

- Ela mesma. Quem é?

- Oi, Rosa. Meu nome é Melany. Eu preciso conversar com você, é urgente.

- Nós nos conhecemos?

- Não, mas é importante.

Fiquei pensando por alguns segundos e decidi deixa-la subir. Não demorou muito para alguém bater na porta. Quando abri, vi uma moça extremamente linda. Eu estava boquiaberta porque toda aquela beleza me lembrava meu filho. Thomas e nem ninguém sabe dele. Marcos fugiu de casa enquanto novo. Tivemos um desentendimento por conta de uma menina que ele namorava.

- Entre, por favor.

- Obrigada. Licença.

Fomos até a cozinha e ela se sentou. Permaneci em pé, não conseguia imaginar o que seria de tão importante.

- O que quer conversar comigo?

- É sobre meu pai.

- O que seu pai tem a ver comigo?
- Ele faleceu.

- E o que seu pai tem a ver comigo?

- Ele me falava sobre você, e resolvi vir até aqui.

- O QUE SEU PAI TEM A VER COMIGO, MENINA?

- ELE É SEU FILHO!

Logo depois dessa minha explosão inesperada, eu gelei. Tudo que estava ao meu redo sumiu e mil coisas passaram em minha cabeça. Eu me via em cenas do passado, com Marcos correndo e sorrindo, ainda criança. Isso não pode estar acontecendo. Eu não parava de chorar enquanto ela me contava tudo que acabara de acontecer. Não vi meu filho crescer, mas estou presenciando sua morte. Ficamos ali por alguns minutos e minhas lágrimas foram secando, eu não tinha mas o que chorar. Ela me perguntou se podia passar um tempo aqui, na casa do Tom. Prometi que poderia fiar se ele concordasse.

- Rosa, onde está Helena?

Eu estava tão anestesiada com aquela notícia que nem reparei que Thomas acabou de acordar. Resolvi não deixar transparecer e respondi naturalmente.

- Helena deu uma saída. Disse que voltaria em alguns minutos.

Ele veio em nossa direção e vi que Melany estava desconcertada. Tom sempre causa essa coisa nas jovens mulheres. Até algumas de minhas amigas, da terceira idade, são interessadas por ele.

- Olá, Thomas.

- Já nos conhecemos?

- Não. Me desculpe. Meu nome é Melany.

Thomas parecia desconfiado e curioso.

- Rosa, podemos conversar na sala por um minuto?

Concordei sem pestanejar e o segui até a sala de estar.

- Quem é essa, Rosa?

- É minha neta.

- NETA?

Ele deu o maior grito, mas rapidamente percebeu que estava dando mole para que Melany ouvisse.

- Neta? Você não me disse que tinha filhos.

- Pois é, eu tinha.

- Como assim "tinha"?

- Ele faleceu ontem.

- E onde está a mãe dela?

- Morreu junto com o meu filho. Morreram afogados.

Eu deixei transparecer um semblante muito abatido e Tom percebeu. Perguntei se ela poderia ficar ali e ele demorou um pouco a responder, até que perguntou:

- Helena já viu ela?

- Não. Ela chegou assim que Helena saiu.

Pelo pouco que conheço essa menina, Melany será um problema enorme. Ela vai encrencar, com certeza. Não preciso ser uma expert em psicologia para saber o temperamento e as manias de Helena. Ele concordou em hospedar minha neta ali até ela arrumar um outro lugar para ficar. Foi até ela e a chamou para conversar no quarto. Eu permaneci na sala enquanto eles conversavam por longos minutos. Helena chegou pouco após e foi diretamente até a porta do quarto. Seu jeito escandaloso fez com que até o pessoal que estava na praia ouvisse seu grito.

- QUE PORRA É ESSA, THOMAS?

Eu arregalei os olhos e fiquei de longe, apenas observando Helena deixar transparecer o sentimento que havia dentro dela. Vi que ela entrou rapidamente logo após de soltar as bolsas no chão e entrou no quarto. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que não era boa coisa. Eles discutiram por algum tempo até que ela saiu do quarto, toda emburrada, e parou na cozinha guardando as coisas. Thomas foi até ela e conversaram por alguns instantes. Eles começaram a se beijar e eu aproveitei para ir até o quarto conversar com a Melany.

- Não se preocupe com a Helena.

- Não estou preocupada. O que ele viu nela?

- Tudo que faltava nele, eu acho.

- Faltava nele tantas coisas ruins assim?

- Eu não sei, mas ele está feliz. Isso é o suficiente.

Ela concordou comigo, mas parecia incomodada com algo. Não demorou muito e Helena retornou ao quarto e começou gesticular e falar alto.

- Ô! Se liga! Eu não gosto de você e não preciso saber quem você é. Algo me diz que você não é flor que se cheire, então não tente dar uma de cheirosa com o Thomas.

Melany parecia conter uma suposta raiva enquanto persistia em deixar transparecer um semblante sereno, mas preocupado.

- Desculpa se deixei uma imagem errada com você, Helena. Não foi minha intenção.

- Não te desculpo.

Helena deu as costas e saiu desfilando do quarto. Foi até o Tom, deu um selinho no mesmo saiu do apartamento usando aquelas roupas sujas da praia. Thomas foi até a varanda, mas logo depois que olhou para a praia, voltou correndo e saiu rapidamente do apartamento. Não sei muito bem o que está acontecendo, mas está claro que Helena e Thomas vão acabar se casando. Melany veio até aqui para confirmar isso. A implicância desses dois abafaram, por um instante, a morte de Marcos.    

O amor que encheu a barrigaOnde histórias criam vida. Descubra agora