Capítulo 29 - Bônus de Melany

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            Eu tinha acabado de chegar do meu curso técnico quando soube da notícia. Meus pais estavam em um lago e acabaram morrendo afogados. Eu chorei, gritei, não sabia como reagir. Como é possível alguém sofrer tanto de uma vez só? Por que meu pai e minha mãe? Com 22 anos, sozinha, não tinha mais para onde correr. Meu pai havia me contado, há alguns anos, de sua mãe. Ele fugira de casa quando adolescente e, desde então, não teve mais contato com ela. Passei o dia tentando descobrir o endereço dela e descobri que ela passa todos os dias na casa de seu patrão, no Leblon. Peguei duas conduções e cheguei até lá. Falei com ela pelo interfone, mas não me identifiquei. Ela liberou a minha entrada no prédio e eu fui até seu apartamento. Conversamos por alguns minutos e ela não parou mais de chorar quando soube de tudo que havia acontecido. Perguntei se podia ficar uns dias naquela casa, pois eu não ia conseguir ficar na minha sem sofrer com a perda. Ela disse que me daria a resposta assim que conversasse com Thomas. Conversamos um pouco sobre ele e ela disse que ele provavelmente ia aceitar. Alguns minutos depois a porta do quarto se abriu e um Deus grego passou por ela. Não é possível que esse seja o Thomas! Ele estava quase alcançando a perfeição. Seu rosto inchado carregava uma barba por fazer e um olhar sereno. Eu me arrepiei toda e um fogo invadiu o meio das minhas pernas.

- Rosa, onde está Helena?

- Helena deu uma saída. Disse que voltaria em alguns minutos.

Helena deve ser a namoradinha dele. Que droga! Ele começou a andar em minha direção e cada passo que ele dava era uma explosão dentro de mim. A vontade que eu tinha era de agarrá-lo e pedir para que ele me consolasse em seu quarto.

- Olá, Thomas.

- Já nos conhecemos?

- Não. Me desculpe. Meu nome é Melany.

Tivemos esse breve diálogo enquanto ele tocava a minha mão, me cumprimentando. Ele tinha um aperto de mão firme, mas cuidadoso e encaixado. Dali já dava para tirar uma conclusão de que o mesmo era uma máquina de fazer sexo. Conheço bem esse tipo de homem. Ele com certeza marca o território por onde anda. Ele se virou para a minha avó e disse:

- Rosa, podemos conversar na sala por um minuto?

Ela não hesitou em concordar e foram até a sala de estar. Me ajeitei na cadeira e comecei a espiar, tentando ouvir a conversa. Ele percebeu e eu retomei a postura rapidamente.

- NETA?

Ele gritou, mas logo percebeu o erro e tornou a falar baixo novamente. Acho que não vai dar certo. Ele não vai deixar que eu fique. Essa tal de Helena com certeza será um problema. Fiquei na cozinha, pensando no que faria a partir de agora. Ele passou por mim e me chamou para conversar no quarto. Mil fantasias sexuais passaram pela minha cabeça enquanto eu concordava e ia atrás dele. Ele sentou na cama e minha vontade era de sentar nele. Contei a ele sobre meus pais e ele resolveu começar a falar.

- Eu também perdi meus pais. Você ainda curtiu muito os seus, eu ainda era bem jovem e não tive tempo de me arrepender das minhas rebeldias. Não tive tempo de corrigir meus erros e perder a vergonha de dizer o quanto eu amo minha mãe. Do quanto admiro meu pai. Eu sei o que você está sentindo, e não vou dizer que vai passar. Não vai. Você vai te que conviver com isso a vida inteira. Terá momentos felizes, não ache que vai viver depressiva, mas de uma hora para outra vai se lembrar de algo que te deixará magoada novamente. Eu te aconselho a encontra alguém que segure suas pontas. Você vai cair constantemente, é fato, mas se tiver alguém que te levante, não verá isso como um bicho de sete cabeças.

Aquelas palavras entraram em minha mente como um tiro. Eu não consegui segurar os prantos e me derramei em seus braços. Abracei ele e não parei mais de chorar. A porta do apartamento se abriu e uma moça entrou, nos avistando rapidamente. Ela veio até nós e, quando nos viu, soltou as sacolas e começou a gritar como uma louca.

- QUE PORRA É ESSA, THOMAS?

Thomas parecia desesperado. Começou a gaguejar e tentar explicar tudo que estava acontecendo, mas a doida veio em minha direção para me agredir. Ele se jogou na frente e a segurou.

- Helena, se controla!

- É SÓ EU SAIR QUE VOCÊ ARRUMA OUTRA, THOMAS?

- Eu não arrumei ninguém, retardada. Ela é neta da Rosa.

Ela, que estava tentando incansavelmente vir para cima de mim, parou e corou. Deu as costas, pegou as sacolas e foi até a cozinha.

- Não se preocupe, você se acostuma com ela. Helena é complicada e esquentada, mas tem um coração enorme.

Eu sei que não vou me acostumar e espero que ele se canse dela logo. São totalmente diferentes, um rapaz tão sereno e lindo como esse não pode ficar com essa desregulada. Ela é tão crua. Tão cheia de nada. Ele foi até a cozinha. Ela estava guardando as compras na geladeira e começaram a conversar por uns instantes. Ela parecia estressada; ele parecia acostumado. Não demorou muito para se beijarem e eu fiquei ainda mais decepcionada com aquilo tudo. Eu sou muito mais que ela. Minha avó veio até o quarto e se sentou ao meu lado.

- Não se preocupe com a Helena.

- Não estou preocupada. O que ele viu nela?

- Tudo que faltava nele, eu acho.

- Faltava nele tantas coisas ruins assim?

- Eu não sei, mas ele está feliz. Isso é o suficiente.

Concordei com ela enquanto queimava de inveja daquela moça. Quando menos esperamos, Helena veio até o quarto e começou a cuspir palavras.

- Ô! Se liga! Eu não gosto de você e não preciso saber quem você é. Algo me diz que você não é flor que se cheire, então não tente dar uma de cheirosa com o Thomas.
Quem ela pensa que é? Não pode chegar e falar igual a uma favelada e vomitar assim. Não vou agir igual a ela. Vou mostrar ao Thomas que sou como ele, para que ele deixe de procurar nela o que não existe.

- Desculpa se deixei uma imagem errada com você, Helena. Não foi minha intenção.

- Não te desculpo.

Ela deu as costas e saiu como uma lacraia do quarto. Deu um selinho naquele Deus grego e saiu do apartamento. Ela estava com algumas manchas de sangue na roupa, mas eu preferi não perguntar. Pelo jeito dela, deve ter matado alguém. Thomas pegou um copo de café e foi até o que parecia ser a varanda, mas logo voltou correndo, soltando o copo de café e saindo do apartamento. Já vi que vai ser difícil, mas eu ainda vou ter um caso com esse homem.  

O amor que encheu a barrigaOnde histórias criam vida. Descubra agora