Capítulo 16 - Helena

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Eu passei o dia inteiro sem fazer nada. Estava entediada e não sabia mais a quem recorrer. Não tinha festa, não tinha bar, não tinha bebida na geladeira. É bem difícil viver assim, preciso arrumar algo para fazer. Resolvi sentar para conversar com a minha mãe. Ela estava vendo novela, eu sei como ela odeia quando alguém interrompe, mas não pude mais ficar sem fazer algo.

- Oi, mãe.

- Estou vendo novela, Helena.

- Mãe, como você está?

- O que você quer?

- Pare com os coices, só quero conversar.

- Estou vendo novela, Helena.

- Você já disse isso.

- Então, por que ainda está aqui?

Não aguento a minha mãe. Como uma mulher de 50 anos pode ser tão ranzinza? Só sabe reclamar de tudo, está sempre insatisfeita. Quando eu estava quase morrendo de tédio, recebi uma ligação da Isabel.

- Oi, Bebel boca de mel.

- Larga de ser idiota! Pode me trazer roupas limpas? Estou cheia de sangue.

- Que mico, Isabel. Menstruou?

- Não! Aquele policial gostoso levou um tiro. É uma longa história. Estou naquele hospital perto da sua casa. Pode trazer?

- Eu até perguntaria se você não tem outra amiga, mas eu não estou aguentando mais ficar nesse apartamento. Vou ver se ainda me sobrou dinheiro e vou, com certeza.

- Tudo bem, meu bem. Obrigado!

Me alegrei tanto que pedi perdão para Deus por estar contente em ir ao hospital ver uma pessoa baleada. Coloquei um vestido rodado preto e uma sapatilha da mesma cor, me olhei no espelho e detestei. Vão acabar pensando que já fui pronta para o velório. Troquei e coloquei o vestido rodado azul e uma sandália. Penteei bem meu cabelo e coloquei um laço bonitinho. Estou me sentindo uma mocinha. Desci e peguei um uber, o taxista queria sugar todo o dinheiro que não tenho. Cheguei ao hospital, encontrei Isabel e entreguei-a as roupas. Pedi para que ela me levasse até o quarto, não queria esperar fora do hospital. Chegando lá, concluí que devo ter tacado pedra na cruz.

- Só pode ser brincadeira!

Agora eu tenho certeza que taquei pedra na cruz em minha vida passada. Em todo lugar que eu vou esse cara está. Vou subir o monte de joelho, fazer promessa, sei lá.

- Só pode mesmo. O que você está fazendo aqui?

Isabel, no meio de tudo, sem entender nada, perguntou se já nos conhecíamos.

- Sim!

- Sim!

Respondemos ao mesmo tempo enquanto encarávamos um ao outro.

- O que estou fazendo aqui? Meu melhor amigo está baleado nessa cama. Você está cega? É meu carro que está sobre a cama?

- Isabel, você foi sentir tesão logo pelo melhor amigo desse crápula? Você não tem juízo?

Isabel corou na hora, ela e o idiota se encararam por um instante até que, em um ataque de fúria inesperado, ela começou a falar.

- Vocês precisam ser tão babacas logo agora? Não sei o que está acontecendo aqui, mas sei que não é parar acontecer nesse momento. Vamos focar no paciente.

Concordamos com os olhos soltando raios. Meu santo não bateu com o dele desde o primeiro olhar que trocamos, mas vou ficar aqui para auxiliar minha amiga. Durante a madrugada que passamos lá, eu e ele trocávamos desavenças do nada, como se fossemos crianças. Eu não ligo se parecer infantil, mas não vou deixar esse imbecil montar e mim enquanto põe o ego no pedestal.

O amor que encheu a barrigaOnde histórias criam vida. Descubra agora