Capítulo 26 - Thomas

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            - Não precisamos, não. Não tenho hora para ir embora e quero conversar com a sua mãe.

Helena ficou irritadíssima e eu estou amando isso. A mãe dela parece ser muito legal, já estou gostando dela. Conversamos por uns instantes e ela me contou sobre o passado de Helena. Falou sobre todos os outros homens que passaram pela vida dela. Meu peito se encheu de raiva. Eu sou infantil demais a ponto de não aceitar que ela tenha tido outros, mesmo não querendo nada demais com essa esquentadinha. Eu não acredito que alguém já esteve na vida dela e deixou escapar essa mulher maravilhosa por dentro e por fora. Se eu não detestasse tanto ela, com certeza casaria. Fiquei sabendo de muita coisa sobre ela e soube de seu irmão. Por que ela nunca me contou? Talvez seja por isso que ela é tão fechada. Eu entendo muito bem a dor de uma perda, é difícil compreender que todos nós estamos aqui só de passagem. A Rosa já me levou em um centro espírita. Ela é kardecista. Eu aprendi muita coisa sobre a morte. Eles dizem que chorar por saudade é normal e necessário, pois é alguém querido que está desencarnando. Mas eles me explicaram que não podemos chorar por muito tempo, pois isso pode atrapalhar nossos entes queridos que já se foram. Eu já conversei com os meus pais através de um médium. Eu me senti em paz por alguns minutos, mas isso logo acabou. Eu queria vê-los todos os dias, queria fazer com que aquilo se tornasse uma rotina para mim, mas eles não aconselham. É como se eles se tornassem pessoas em um hospital, presas aos aparelhos. Digamos que essas pessoas fiquem sabendo que a paz só se faz presente em sua casa se eles estiverem lá. Aí, essas pessoas, mesmo sem forças, se levantam e se desprendem dos aparelhos. É assim no mundo espiritual, se nos comunicarmos com eles constantemente, eles sentirão dor ao vir. Se soltaram dos "aparelhos" que os mantém bem. Enfim. Eu queria passar toda minha experiência para a Helena. Eu queria que ela me desse espaço para mostrar que eu também sofro com isso. Poderia ajudar. Foi ficando tarde e eu fui gostando ainda mais da mãe dela. Até que não seria uma má sogra. Por que Helena não consegue ser igual? Por que ela tem que ser tão mesquinha e esquentada? A patroa da Dona Maria chamou-a para ir até um jantar que teria em um clube, ali perto. Helena não demorou muito para contestar.

- Um jantar, Dona Margarida? É sério?

- Claro, mocinha. Um jantar.

- E eu não posso ir?

- Não. Só eu e sua mãe fomos convidadas.

- Vou fazer um chá de bebê para mim. Está achando que nasci ontem.

Margarida riu e se arrumou rapidamente. Dona Maria entendeu a mensagem e correu para se arrumar enquanto eu ficava ali, parado, olhando para a Helena.

- Você não vai dizer nada, Thomas?

- O que quer que eu diga? Elas vão sair, ué.

- Você também está compactuado com isso?

- Eu?

Comecei a rir porque vi, quando olhei para a varanda, a Dona Rosa fazia um sinal para mim. Ela tentava dizer, através de gestos, tudo que deveria acontecer quando ela saísse. Helena não parava de reclamar enquanto elas andavam até a porta. Saíram do apartamento e foram até o elevador. Helena ficou na porta, contestando sem parar.

- Por que não cala a boca? Elas não vão desistir de ir.

- Por que você tem que ser tão idiota? Não percebe que elas querem nos deixar sozinhos?

- Qual é o problema nisso?

- Nenhum.

- Feche a porta.

Ela fechou a porta devagar e ficou olhando para mim. Me levantei e fui até o banheiro.

- Preciso de um banho, quer me acompanhar?

O amor que encheu a barrigaOnde histórias criam vida. Descubra agora