Era uma linda manhã, o café estava na mesa e o Dudu no sétimo sono. Cá entre nós, eu não tinho uma noite calma assim há tempos. O céu está limpo, pássaros cantando e pessoas estão felizes lá fora. São exatamente 06:35 e elas estão mesmo felizes.
Preciso acordar o Eduardo e arrumá-lo para escola. Fui até seu quarto e o acordei, com carinho.
- Filho, acorde. - Está na hora de ir à escola. - Completei.
Ele levantou, sonolento e sem me dar ao menos um beijo. Seguiu até a cozinha e se sentou. Pegou os biscoitos e levou até sua pequena boca. Ele mal conseguia abrir os olhos, estava caindo de sono.
- Sabe, meu bem. Você é a cara do seu pai. - Afirmei.
- E como é meu pai, mãe? - Perguntou.
- Você ainda vai conhecê-lo. - Vamos, é hora de irmos. Você não pode se atrasar.
Ele correu para se arrumar enquanto eu escutava um barulho na porta.
Fui até a mesma e, quando abri, um espanto me pegou por completa.
- Thomas? Que surpresa! - Exclamei, assustada.
- Precisamos conversar, Caroline. - Disse ele, atordoado.
- Claro, entre.
- Com licença - Ele disse enquanto passava pela porta e observava tudo em volta. - É bem bonito aqui.
- É, eu me virei para decorar. - Falei enquanto ajeitava umas fotos que estava na estante. - Não está da maneira que quero, mas é meu cantinho.
- Por que foi embora? - Thomas perguntou do nada, sem ao menos me deixar ter tempo para responder. - Por que?
Fiquei alguns segundos o olhando, estasiada, sem ter o que dizer. Eu precisava ser evaziva, não havia uma resposta concreta para a minha partida.
- A pergunta é: por que me deixou ir? - Perguntei com uma cara de desolada enquanto me sentava no sofá. - Por que deixou que eu partisse se ainda me amava?
- Eu te deixei ir porque eu quis ser sensato e maduro, ao invés de apenas afetivo e de fácil manuseio. Eu te deixei ir porque quis experimentar, ao menos uma vez, a sensação de te ver voltar arrependida. Eu te deixei ir poque entendi que nós nunca nos misturamos e que não fomos capazes de dar conta dessa bagunça que fizemos em nós mesmos. Eu te deixei ir porque todos aqueles contos de fadas e filmes românticos que eu mesmo criei deixaram, aos poucos, de ter graça. Eu te deixei ir por ser responsável o suficiente para não manter alguém refém. Eu te deixei ir porque uma pessoa mal controla ela mesmo, quem dirá outra pessoa. Eu te deixei ir porque ninguém deve ficar onde não é de mera significância para si. Eu te deixei ir porque não via mais você me olhar como se eu fosse o seu super-herói. Eu te deixei ir porque estou me sentindo incapaz até mesmo de abrir aquele pote com a tampa dura. Eu te deixei ir porque entendi que o que é meu volta, independente do rumo que esse alguém tornará a seguir. Eu te deixei ir porque, entre o seu bem e mal, eu acabei me tornando seu bem-maligno. Eu te deixei ir porque eu achei que te amava, ou acho que te amo. Eu te deixei ir porque.. bom.. chega de porquês. Até porque, na verdade, eu nem sei por que te deixei ir. - Repondeu Thomas sem ao menos pensar no que ia dizer, deixando claro que tudo era sincero.
Aquelas palavras atravessaram o meu peito como raios ultra-violetas e derrubou tudo que havia em mim. Antes que eu pudesse responder, Dudu apareceu arrumado.
- Mamãe, vamos logo. Eu não quero me atra.. - Paralisou-se ou olhar para Thomas e mudou a fala. - Esse é o moço que gritou com você, mamãe.
Thomas, envergonhado, se calou e abaixou a cabeça enquanto eu explicava ao meu filho que tudo não passava de uma brincadeira. Que éramos melhores amigos.
- Eu levo vocês até a escola dele. - Propôs o meu passado. - Meu carro está lá embaixo.
- Por mim tudo bem. - Afirmei. - Filho, você pode ir até seu quarto pegar as chaves da mamãe? - Pedi ao Eduardo.
No instante que ele correu até o outro cômodo, encarei o Thomas e percebi que suas mãos tremiam ao perceber que estava sendo observado.
- Olha, Tom. Eu sei das suas necessidades, mas eu não sei ser o necessário. Me desculpe. Eu não sei por sobre a mesa o que você quer que seja servido. Você merece muito mais do que uma pessoa morna que não dá conta da sua ebulição constante. Não me espere voltar, eu não vou. Não quero mais te causar transtornos, não quero mais te causar dor de cabeça. - Afirmei na tentativa de reverter todo o passado.
Thomas me olhou por uns instantes e se calou. Dudu chegou e ele se levantou para nos levar até a escola.
Entramos em seu carro e seguimos até a escola que, por sua vez, não era tão longe dali. Estava frio, Thomas me emprestou o casaco que tinha guardado em seu carro. Aquele tecido carregava seu cheiro amadeirado. Ele ainda usa o mesmo perfume há anos. Conservador, bonito, vaidoso. Esse homem nunca deixará de mexer comigo.
Chegamos na escola do Dudu e, de repente, um grito fino que vinha do outro lado da rua entrava em nossos ouvidos.
- THOMAS? - Gritou aquela moça vulgar que estava no apartamento dele.
Thomas mudou de cor em questão de milésimos de segundos enquanto gaguejava tentando explicar, mesmo que ela não pudesse ouvir.
Ela deu as costas e saiu correndo, parecia estar chorando. Thomas deu um passo em sua direção, deixando-me subentender que ele iria correr para alcançá-la, mas logo desistiu. Suspirou e continuou o que estava fazendo.
- Não se preocupe, Tom, ela não merece você. Não com essas infantilidade toda que a rodeia. - Afirmei com um sorriso no rosto.
Ele permaneceu em silêncio enquanto eu me despedia do Dudu.
Voltamos ao carro e ele, que há dias gritou comigo, raivoso, me agarrou em um ato desesperado de obter afeto. Nos beijamos e, eu preciso confessar, ele melhorou MUITO esse aspecto.
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O amor que encheu a barriga
RomancePLÁGIO É CRIME! Thomas é um jovem de 25 anos, de pele parda e com cabelos castanhos que combinam com seus olhos cujos cílios são longos e atraentes. Seu maxilar bem desenhado dá um contexto maior aos lábios que, por sua vez, são pequenos e miste...