Capítulo 54 - Helena

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Como assim aquela criança não é filho do Thomas? Como assim tudo que aquela imbecil disse foi apenas para manter ele preso? Como ela foi capaz de fazer ele sofrer novamente? É impressionante! Podem trazer dez cientistas para me estudar que nenhum deles vão conseguir explicar a minha vontade de socar a cara dela. O Thomas não merece tudo isso, ele passou a vida inteira com medo de amar de novo e quando eu finalmente consegui fazer isso mudar, aquela infeliz aparece e estraga tudo. Eu tenho certeza sobre o que está passando na cabeça dele.

- Podemos ir para o meu apartamento, Ben? - Perguntou Thomas, olhando pela janela.

- Mas já estamos chegando no meu. - Benjamim retrucou.

- O meu não é tão longe. Eu quero ir para casa.

Benjamim me olhou de canto e deu os ombros. Passamos pelo prédio onde ele morava e seguimos até o apartamento de Thomas. Lá chegando, Benjamim saiu do carro e tentou ajudar.

Para a nossa surpresa, Thomas devantou a mão esquerda pedindo para que o Ben parasse.

- Eu não sou tão inútil assim. Eu consigo sozinho. - Disse Thomas dando a volta no carro e indo até a portaria.

Saí do carro e, quando dei o primeiro passo seguindo ele, o mesmo disse:

- Onde você vai?

- Ficar com você, ué. - Respondi contorcendo a testa.

- Eu não preciso de ajuda, obrigado. - Disse ele sem olhar para trás. - Vá ficar com o seu namorado novo. - Completou.

- Eu quero ficar e cuidar de você.

- Eu não preciso de ajuda. - Repetiu.

- Você já disse isso.

- Então por que ainda está aqui? - Retrucou ainda sem olhar para mim.

Dei as costas e fui até o carro, bati a porta com força e cruzei os braços.

- Não tem geladeira em casa? - Perguntou Ben.

- Cala a boca! - Eu disse, já chorando.

Fomos até o apartamento de Benjamim e Isabel estava lá, deitada no sofá, vestindo uma camisola cheia de bolinhas com cores diferentes. Seu cabelo estava totalmente embolado amarrado em um rabo de cavalo. Havia um pote de sorvete enorme em cima de sua barriga enquanto ela trocava, com a mão direita, o canal da TV.

Fui em sua direção, tomei o pote de cima dela e sentei no sofá ao lado.

- Ou!

- Shhh! - Soltou Benjamim.

Isabel resolveu não questionar mais o roubo do sorvete e se sentou.

- Quer me contar o que houve? - Perguntou ela.

- Eu não sei mais o que fazer. Eu fiz tudo certinho! - Reclamei.

- Me explica, meu anjo. - Disse Isabel enquanto se ajeitava no sofá.

- Veja bem. Eu fiz jogo duro, sumi por um tempo, mudei de aparência, mudei o meu jeito. - Falei enquanto balançava as mãos apontando uma lista imaginária.

- Continua. - Disse ela enquanto serrava os olhos.

- Eu fiquei igual a ele, amiga. Eu, hoje, sou o Thomas em forma feminina.

- É isso que ele quer? - Perguntou, sorrindo.

- Qual é a graça?

- Não percebeu? - Fez uma cara de quem estava achando a coisa mais fofa do mundo.

- O quê?

- Ele não se apaixonou por ele, Helena. Ele se apaixonou por você. Ele se encantou pela esquentadinha, mesmo que isso você não tenha mudado. Ele se apaixonou pela Helena do passado. Não mata essa Helena.

- A Helena do passado não combina com ele.

- E você já montou um quebra-cabeças com peças iguais?

- Eu nunca montei um quebra-cabeças.

- Helena, a questão é que achava que merece essa dor, mas não. - Isabel segurou meu rosto e continuou. - Termina com esse novo rapaz e vai conversar com o Thomas.

- Não tem rapaz nenhum. - Respondi levantando do sofá e indo em direção à geladeira guardar o pote de sorvete.

- Você disse que estava com outro alguém para irritar o Thomas? - Perguntou Isabel, levantando e indo até a cozinha, também.

- Eu não podia sair por baixo. - Dei os ombros. - Eu não queria deixar transparecer que eu não consegui, em todos esses meses, me deixar com outros homens.

- Ele também não. - Disse ela, parecendo ter achado uma solução. - Ben me disse que ele dois conversaram e ele disse que não conseguia.

- Ele mentiu!

- Como sabe?

- Thomas é uma máquina de sexo. Ele tem um bicho graúdo em sua cueca, aquilo foi criado em cativeiro. A circulação que corre ali consegue suprir três corpos meus.

Isabel me encarou durante um bom tempo, sem querer acreditar no que estava ouvindo. Ela olhou de um lado para o outro, procurando o Benjamim.

- Me molhei toda, Helena.

- Te manca, Isabel. - Revirei os olhos.

- Estou brincando. - Respondeu enquanto pegava em minhas mãos. - Eu quero que você tente ser feliz de novo.

- Não vale a pena. Não vou dar outra chance. - Respondi.

- Amiga, amar é dar chances quando há mais nenhuma. - Insistiu ela.

- Amor não enche barriga, Isabel.

- Talvez o egoísmo das pessoas seja explicado pela falta de um amor presente, a falta de querer. Talvez precisemos, para sobreviver ao caos, de uma pessoa que nos dê bom dia antes de acordarmos, ou que nos deseje uma boa noite antes de dormirmos. O amor não funciona sozinho, mas a falta dele tira a graça de qualquer outro sentimento. É como se fosse um combustível para a alma; a combinação perfeita para a criação da tão desejada estabilidade emocional. Que beleza deve ser amar e ser amado, não? Por mais que não tenhamos, ainda, experimentado tal sensação, é a esperança de conhecer esse prazer que nos motiva a continuar tentando; nos levando até mesmo aos erros e às escolhas erradas por culpa de uma sede inexplicável de um amor confiável, tranquilo e -finalmente- recíproco.

- É por isso que você sempre trocou de namorado?

- É como andar de bicicleta, droga! Eu precisei cair várias vezes, mas agora eu aprendi a andar e estou muito bem estruturada com a minha bicicleta. Benjamim é uma poti.

- Eu amo você, Isabel.

- Eu também te amo. - Respondeu ela enquanto estampava um enorme sorriso no rosto. - Vai tentar?

- Não.

O amor que encheu a barrigaOnde histórias criam vida. Descubra agora