O amor que encheu a barriga

Capítulo 25 - Bônus de Maria

            - MÃE!!!

Helena odeia quando faço isso, e é por isso que eu não paro de fazer. Eu não perco a piada. Raramente ela para com alguém. Nem acredito mais quando ela diz que gosta. Dessa vez ela trouxe um gato para dentro de casa. Estou orgulhosa. O pai dela não a viu crescer, nos deixou o mais rápido possível e me deixou a responsabilidade de pai e mãe. Ela sempre foi uma criança levada. Virou rotina receber ligação da escola dela e ouvir reclamações: "Helena xingou a amiguinha"; "Helena faltou com respeito ao professor"; "Helena não copia a matéria". Não sei o que essa garota tinha para dar tanto trabalho. Há partes da vida dela que ela não conta a ninguém. O irmão mais velho dela morreu de overdose, aos 25 anos. Desde então ela mudou completamente. Eles eram tão apegados que meu coração dói só de lembrar. O que salva nosso restinho de família é a minha patroa, a Dona Margarida. Ela se prontificou a pagar a faculdade de Helena e nunca deixa faltar nada quando preciso. Praticamente moro aqui, quase não vou embora.

- Bom, já que alguém teve coragem de te aturar, espero que dure dessa vez.

- Thomas, precisamos ir.

Senti que ele se envolveu na minha brincadeira e resolveu zombar da minha filha também. Eu estou adorando esse rapaz!

- Não precisamos, não. Não tenho hora para ir embora e quero conversar com a sua mãe.
Helena corou de raiva e concordou com vá vontade. Eu e o Rapaz conversamos durante alguns minutos e isso foi suficiente para eu falar sobre todos os namorados dela. É bom que ele saiba que ela já sofreu muito na vida e que, se quiser algo, tem que diferente deles. Helena e ele se encaravam e ele parecia enciumado. Será que alguém realmente está gostando dessa louca? É bom e engraçado ao mesmo tempo. Gostar da Helena requer coragem. Ela é muito complexa, não se abre com ninguém, por mais que seja muito extrovertida. Ela só quer saber de diversão, pouco se importa com a faculdade. É complicado demais achar alguém disposto a compreende-la ou, pior, muda-la. Eu só não digo que ela não tem um coração de gelo, porque gelo derrete. É pedra! Ela e uma imensidão de defeitos e qualidades. É forte demais, admiro e me orgulho dela por isso. Mas o problema é que todos nós precisamos de uma fraqueza. Precisamos de alguém tire de nós a armadura formada pela dor de uma perda ou de um fim. Ela não deixa espaço para esse alguém, por isso carrega consigo o peso da armadura, da amargura. Eu sei qual é o peso de tudo isso, por isso sofro ao ver minha filha achar que é feliz sozinha. Ela é autossuficiente, entendo e gosto disso. Mas eu quero ter netos. Quero ver minha filha criando as responsabilidades de uma mãe. Eu quero ver nela um coração lindo como aquele que ela tinha aos cinco anos de idade. Aquele coração inocente e feliz de verdade. Eu quero olhar nos olhos dela e poder vê-los brilhar novamente. Eu sempre fui uma mãe exigente, mas sempre deixei que ela tomasse as próprias decisões. Mesmo quando ela era bem pequena. Eu mostrei todos os tipos de caminhos possíveis em uma situação e deixei que ela escolhesse. Espero que ela acerte dessa vez. Ele parece ser um bom rapaz.