Capítulo 53 - Thomas

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- Onde você estava esses meses todos? Como você abandona a faculdade, sua família, seus amigos e eu?

- Eu não larguei a faculdade, família e amigos. - Disse Helena enquanto levantava e me dava as costas.

- Mas e eu? - Perguntei enquanto virava ela segurando em seu braço esquerdo.

- Thomas! - Exclamou Helena- Veja bem: Eu econtrei um passarinho preso com as asas embaixo de uma pedra. Eu tirei a pedra de cima e mesmo assim o passarinho não conseguia voar. Então, peguei-o no colo e comecei a conversar. Eu disse que eu também estava presa em algo e por isso eu não conseguia seguir em frente. Por isso eu não consigo voar. Conversei com aquele passarinho por um bom tempo. Finalmente, o passarinho voou por entre minhas mãos e sumiu em meio as árvores, e eu disse para mim mesma que aquele passarinho era a primeira coisa que eu já sentira saudade em toda minha vida. - Completou ela, ofegante.

- Por que você falou com o passarinho? Você tá fumando maconha agora?

- Você é um imbecil! - Falou indo para a sacada.

Fui até ela imediatamente e a segurei pelo rosto, dando um beijo feroz e bem encaixado. Helena deu alguns tapas em meu peito mas logo se entregou. Foi um beijo de saudade, um beijo com vontade. Ao desenrolar do mesmo, senti algo úmido tocar minhas bochechas. Abri os olhos entre o beijo e notei que lágrimas escorriam do rosto de Helena. Lágrimas que não pareciam de felicidade. Interrompi o que estava acontecendo e imediatamente perguntei:

- Ei? - Chamei - Que passas? - Completei com uma voz sutil e baixa.

- Eu tenho outro alguém, Thomas.

Fiquei ali, parado, durante dois minutos. Finalmente, depois da longa encarada que dei ao vento, respondi:

- Eu havia me esquecido.

Helena permaneceu em silêncio enquanto me encarava sem parar de chorar.

- Por que está chorando? É você que tem outro.

- VOCÊ TEM UM FILHO, PORRA! VOCÊ VOLTOU COM A MULHER QUE ESTRAGOU A SUA VIDA!

Não tive mais o que responder, de novo o silêncio tomou conta do lugar. Parecia um filme, o tempo fechou no mesmo instante e uma chuva interminável começou a cair. Dei as costas e saí em silêncio.

- Onde você vai? - Disse Benjamim que, por sua vez, estava no cômodo ao lado com um copo na parede tentando ouvir o que era dito por mim e Helena.

Não respondi e bati a porta do apartamento. Fui até o apartamento de Caroline e, lá chegando, espanquei a porta.

- Já vai, droga! - Gritou ela.

Ao abrir a porta, Caroline estava enrolada em uma toalha, com o corpo molhado e alguns arranhões no pescoço. Entrei, ignorando sua aparência, e fui até a sala. Lá chegando, comecei a andar de um lado para o outro, ofegante.

- O que houve? - Falou Caroline enquanto não parava de olhar para o quarto.

- Onde está meu filho?- Perguntei.

- Está na casa de um amiguinho de escola.

- Então por que você não para de olhar para o quarto? - Indaguei serrando os olhos.

- Por nada, oras!

Aquilo não me foi convincente e me fez correr imediatamente para o quarto que, para minha surpresa, abrigava um homem de cabelos negros, estatura média e uma barriga de chop lamentável.

- MAS QUE PORRA É ESSA? - Gritei abrindo os braços.

Rapidamente, o barrigudo que há poucos intantes estava tentando subir na janela para se esconder, estufou os peitos femininos e me encarou. Ele deu dois passos para frente e, quando percebeu que eu não me mexi, automaticamente parou. Ameacei ir para cima do mesmo e ele retrancou.

Parei imediatamente para pensar e notei que isso era maravilhoso. É a chance que tenho para me redimir com Helena. Eu vou largar Caroline, ela me traiu.

- Calma, goma, só vim pegar meu filho.

- Você não vai levar o meu filho, Thomas. - Disse Caroline, com um semblante de Lúcifer.

- Por que não? - Perguntei.

- Por que ele é filho do Jaime. - Respondeu enquanto direcionava o olhar para o gorducho.

- Jaime? Mas que porra de pessoa se chama Jaime?

- O cara que come a tua mulher. - Respondeu o Zeca Pagodinho.

Minha cara foi no chão e, imediatamente, dei um soco na cara dele. Ele não pensou duas vezes em revidar e, para minha surpresa, aquele cara era lutador. Ele quebrou a minha cara em poucos segundos e só fui liberado através da pena de Caroline que disse:

- Deixe esse idiota ir, Jaime. Ele já vai sofrer o suficiente.

Deixei o apartamento de Caroline repleto de sangue e ematomas. Minha cara imediatamente ficou inchada e toda roxa. Fui até o elevador e uma senhora desesperada perguntou se eu precisava de ajuda. Pedi o celular dela e liguei para o Ben que, por sua vez, não parava de gargalhar. Por trás de sua risada eu ouvia a voz de Helena que parecia estar desesperada. Antes mesmo de sair do prédio, Benjamim disse que estava a caminho. Me pegaram na portaria e Helena só sabia chorar e gritar.

- Dá para você parar de gritar? - Perguntei.

- EU VOU ARREBENTAR A CARA DAQUELA PIRANHA! - Exclamou Helena. - BENJAMIM, QUE PORRA DE POLICIAL É VOCÊ? PRENDE AQUELE CARA!

- E o que vou dizer? - Perguntou Ben - Você está preso por bater no meu amigo?

- É!- Respondeu Helena, revoltada.

- Certo, vamos lá dar um susto nele.

Eu não tinha disposição, tampouco coragem de voltar lá para apanhar novamente do nanico. 50 minutos depois, Benjamim e Helena voltaram caminhando e dando altas risadas.

- Eu não acredito que você apanhou daquela coisa, Thomas. - Disse Helena, rindo sem parar.

- É! Eu também não acredito. - Disse Benjamim.

- Que legal, olha, vamos fazer uma janta para falar mal de mim. - Debochei - Agora, o que vocês fizeram lá?

- Fiquei me dedicando à apartar Helena e Caroline. - Disse ben.

- E por que Helena não está ao menos arranhada? - Perguntei.

- Porque se eu apanhasse, meu nome seria Thomas. - Respondeu ela.

Fechei a cara e permaneci em silêncio enquanto Benjamim arrancava com o carro e ia até seu apartamento. O assunto não mudava, só sabiam falar de como ela engraçado imaginar eu apanhando daquele espirro de pica.

- Afinal, onde está seu filho, Thomas? - Perguntou Helena, que estava no banco da frente e se debruçou para trás.

- Não é meu filho.

Helena congelou por alguns segundos, mas perguntou:

- Como não?

- É filho do Jaime.

- Quem é Jaime?

- O anão.

- Seu anão? - Perguntou rindo.

- Helena, chega!

- É sério?

- É!

Helena se ajeitou no banco da frente e permaneceu em silêncio o resto da viagem. Eu daria tudo para saber no que ela estava pensando. Helena me fez perceber que quem não sabe diferenciar o amor por paixão do amor por necessidade, acaba tateando o escuro. Quem opta por se completar através de outro alguém ao invés de ser 100% sozinho, pisa descalço em um chão que não conhece. Não deixe a ansiedade tomar seu coração. Sentir medo é normal, querer ser amado também é. Revise seus planos e não feche os olhos antes de apontar para um suposto amor. Ponha em cima da mesa quem você é e não aceite menos que isso.

O amor que encheu a barrigaOnde histórias criam vida. Descubra agora