- Hoje eu sei o que vou fazer da minha vida. Eu vou me livrar de tudo que é seu, nem que seja preciso apagar o meu eu. Olha, eu descobri que te amo e gritei o suficiente para que todos ouvissem, mas ninguém me ouviu. Na verdade, você não ouviu. Eu fiz de tudo para ser reconhecida e notada, mas ninguém me notou. Na verdade, você não notou. Por isso resolvi seguir em frente, essa é a última carta, não vou mais escrever sobre você. Minhas ideias esgotaram, minha esperança morreu e, infelizmente, ela era a última coisa que me restara, era um vestígio seu. Então, peguei minhas costas e estou indo embora, não quero mais ouvir falar teu nome. Resolvi que serei mais vaidosa, vou me dedicar aos estudos e arrumar um emprego bacana. Vou cuidar de mim mesma e não depender mais de ninguém. Na verdade, não dependerei mais de você. O tempo passou e eu não posso dizer que tudo que você disse era mentira, mas talvez tenha sido algo que você queria que fosse, e não foi. Então não listarei mais motivos para que meu lado racional te perdoe novamente, nem permitirei que meu coração mendigue amor. - Li baixinho enquanto observava lágrimas que caiam na folha do bilhete.
Fui até o apartamendo do Tom, ou melhor, Thomas, e peguei tudo que é meu. Coloquei o bilhete em cima de sua cama e resisti a todas as coisas boas que Rosa me falava sobre ele. Eu não quero mais ficar. Não quero passar por tudo novamente.
- Fique, minha querida. Demorou bastante para que vocês se entendessem. Não jogue esse tempo no lixo. - Suplicou Rosa enquanto passava a mão em meu cabelo emaranhado.
- Rosa, eu demorei para perceber que será saudável considerar uma mudança. Vou mudar de emprego, cogitar aprender uma nova língua, mudar de casa, amigos e mudar o conceito de família. Vou mudar meu sorriso, minha maneira de olhar o mundo e abrir minha mente para novas opiniões. Serei diferente a cada minuto que se passar. Vou cortar o meu cabelo de uma forma diferente, pintá-lo daquela cor que me neguei a achar legal porque todos diriam o contrário. Vou tatuar minhas costas, começar a beber e, se me der vontade, vou fumar, também. Eu serei uma nova pessoa, não vagarei mais por aí à toa. Todos em minha volta vão sentir o impacto da minha mudança, vão ver que deixei de ser criança. Não me importarei mais com o que dizem de mim e nem com o que pensam. Não falarei mal de alguém que não está presente para contar sua versão do acontecido. Afinal, existem três versões sobre cada coisa que acontecer na sua vida. A sua versão, a versão do outro e a versão verdadeira. Entendi que não devo mais simplesmente abraçar a negatividade e a mania de culpar tudo e todos por algo que é exclusivamente de minha responsabilidade. Bom, eu resolvi mudar completamente. Vou ser uma nova pessoa, mas nunca deixarei se ser eu. - Desabafei em prantos.
- Olha para você. Está falando tão bonito. Acha mesmo que Thomas não te fez bem? Ele mudou você por inteira. - Insistiu ela.
- Bom, eu não posso negar, sou uma pessoa melhor. Mas isso não significa que eu tenha que ficar para sempre com alguém que ainda se vê preso ao passado. Eu não mereço ser segunda opção. Não vou ficar sentada vendo-o brincar de máquina do tempo. A minha vida não pode parar, e não vai parar. - Retruquei enquanto me levantava e respirava fundo.
Rosa se calou enquanto me observava bater a porta do apartamento. Aquela estava sendo a pior tarde da minha vida, apesar de todos os problemas que já existiram nela.
Agora estamos contra a parede e podemos olhar para trás, para os últimos anos, e ver exatamente onde perdemos imensas oportunidades de obter paz e calmaria através de um amor tranquilo. Mas o "iria, poderia, deveria" sempre será uma boa justificativa para os seus erros e omissões, não é mesmo? É muito fácil apontar dedos para qualquer coisa concreta ou abstrata. É muito mais confortável. Bom, eu tenho algo a dizer sobre isso, porém não garanto que será dentro da formalidade ou do politicamente correto. Deixar de fazer algo que queremos por medo de ser julgado ou apenas medo de não dar certo é tão divertido quanto um consolo com cerol. Todos nós vamos errar, isso é fato. Mas o que diferencia a humanidade não são os erros cometidos, e sim a maneira que nós comportamos diante deles. Chega de dizer ou pensar que iria, poderia ou deveria fazer tal coisa. Faça! Tenho certeza que um resultado inesperado não será tão ruim quanto a dúvida eterna, quanto aquela pergunta que se ficará no seu cérebro indagando se daria ou não certo. Levante-se e aja!
Eu não vou mais ser a menina submissa que aponta dedos ao invés de consertar meus defeitos. Eu mudei, e a mudança chega para todo mundo.
Talvez o egoísmo das pessoas seja explicado pela falta de um amor presente, a falta de querer. Talvez precisemos, para sobreviver ao caos, de uma pessoa que nos dê bom dia antes de acordarmos, ou que nos deseje uma boa noite antes de dormirmos. O amor não funciona sozinho, mas a falta dele tira a graça de qualquer outro sentimento. É como se fosse um combustível para a alma; a combinação perfeita para a criação da tão desejada estabilidade emocional. Que beleza deve ser amar e ser amado, não? Por mais que não tenhamos, ainda, experimentado tal sensação, é a esperança de conhecer esse prazer que nos motiva a continuar tentando; nos levando até mesmo aos erros e às escolhas erradas por culpa de uma sede inexplicável de um amor confiável, tranquilo e -finalmente- recíproco.
- Vestirei minha melhor roupa, maquiarei-me da melhor maneira possível e irei. Por que não agora? Eu sou linda. O mundo é meu. Não vou esperar esse telefone tocar, ele não vai me ligar. Não vou esperar a campainha tocar, ele não vai chegar. Não vou me preocupar com ele; pré-ocupação é tão eficaz quanto mastigar um pedaço de carne para resolver um cálculo matemático. Eu não estou gorda. Eu não preciso mudar; ele é quem precisa. Ele precisa enxergar a mulher incrível que eu sou, mas para isso acontecer eu devo expor a tal. Começarei agora a se amar. Me darei essa ordem! Vou tirar essa roupa que ele me fez usar e vou aquele vestido bem apertado que eu amo. Não ligarei para quem diz que é de prostituta, passarei meu batom vermelho. Antes de amar alguém Eu preciso estar completa comigo mesma, então, vamos resolver isso, Dona Helena. O mundo é um lugar que você nunca esteve, e ele está esperando por você. - Falei enquanto me olhava no espelho do elevador sem perceber que o mesmo já estava aberto e Thomas estava me observando.
Minhas pernas bambearam e toda essa lição de moral foi de ralo. Tentei passar por ele, mas o mesmo me segurou pelos braços e me olhou bem perto. Ogro.
- Aonde você vai, Helena? - Perguntou feito um troglodita.
- Isso não é mais da sua conta. - Respondi enquanto arrancava meu braço de sua posse e caminhava rapidamente para fora do prédio.
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O amor que encheu a barriga
RomancePLÁGIO É CRIME! Thomas é um jovem de 25 anos, de pele parda e com cabelos castanhos que combinam com seus olhos cujos cílios são longos e atraentes. Seu maxilar bem desenhado dá um contexto maior aos lábios que, por sua vez, são pequenos e miste...