- Estou sem fome. Obrigado!
Aceitei e deixei passar, mas não vou negar que estou completamente irritada com tudo isso. Eu nunca fui de trazer alguém aqui em casa. Aí, quando resolvo trazer, a pessoa me trata com indiferença de uma hora para a outra. Eu não sou qualquer uma. O mal da grande maioria é descarregar a culpa de alguém que se foi em alguém que acabou de chegar. O próximo não tem culpa do seu passado, não seja tão infantil. Não é que eu me feche para o amor, é que eu prefiro um estilo de vida livre. Admiro quem tem coragem de assumir esse sentimento, mas acho que está faltando muita coisa para que eu passe a valorizá-lo. O amor deveria ser feito para unir duas pessoas, não para gerar ciúme, brigas ou até mesmo esse lance de abrir mão. Quem ama não deixa ir, assim como quem ama não vai embora. Essa coisa de falar que amor é representado por ciúme e algumas briguinhas que logo se resolvem é história para boi dormir. O amor deveria servir para nos alegrar pelo que passou, não nos entristecer pelo que terminou. É um sentimento complexo e existem muitas versões, eu sei, mas essa é a minha. O amor só vai merecer minha atenção quando estiver em alguém que tem uma única personalidade, e que me entenda ao invés de me controlar. Amor é algo construído, nós criamos essa coisa abstrata dentro da gente com o objetivo de suprir nossas necessidades em um relacionamento. Mas isso é entendido por muitos como uma desculpa para se acomodar ao que está ruim. "Ela me traiu, só perdoei porque amo"; "ele me bateu, mas tenho muito amor por ele. Por isso estou aqui". PELO AMOR DE DEUS! O que estraga o amor são vocês! Parem de achar que tudo se justifica com essa palavra, ela vai acabar sendo desvalorizada por muitos, assim como eu a desvalorizei. Não consigo mais acreditar em ninguém. É ruim, mas eu não ando por aí dizendo que o amor ou aquilo. Entendo que ele não encha barriga e que não funcione sozinho, tampouco quero alguém ao meu lado agora, mas pensem bem nas coisas que saem de suas bocas. O amor não tem culpa do cara idiota que você conheceu. O amor não tem culpa se você quis perdoar e presenciou outro erro. De um tempo para cá também culpava o amor por tudo de ruim que acontecia comigo. Depois que conheci o Thomas e presenciei mais um levante da Isabel, mudei completamente de ideia. Não estou dizendo que estou amando, só estou colocando em cima da mesa a história de cada um e reparando que nada foi culpa do amor. Apenas tiveram o desprazer de conhecer algumas pessoas que chegaram prometendo tudo do bom e do melhor e que, logo depois, foram embora sem cumprir uma promessa se quer. Reparei, também, que eles têm reações diferentes diante um desastre amoroso. Eu até entendo que a morte dos pais do Thomas tem participação nessa armadura que ele vestiu, mas o amor não tem nada a ver com o que aconteceu com eles. Ele se fecha para todas as mulheres depois que se decepcionou com aquela menina. Isabel, por outro lado, não pensa muito antes de tentar amar de novo. Ela se decepciona, chora, bate com a cabeça na parece, come potes e potes de sorvete, passa o dia de pijama e nem coloca a cara na rua. Mas logo depois se levanta e entende que passou, e que já chorou mais do que o cara que a vez sofrer merecia. Acho isso bacana demais, por mais que eu não consiga ser assim. Não sou de chorar, mas também não sou de tentar de novo. Me desanimo e pronto. Sai para entregar alguns currículos porque não estava mais aguentando aquele baixo salário. Não quero mais ser freelancer. Fui em várias empresas no centro da cidade, mas uma delas me chamou atenção. Entrei e conversei com uma secretária. Ela disse que era uma empresa de consultoria, e que estavam precisando de novos empregados, mas não seria tão fácil. Apenas os indicados por pessoas importantes conseguiriam trabalhar ali. Perguntei se havia alguma vaga para o cargo de secretária e ela disse que sim, mas que era ainda mais difícil. Entrei e resolvi preencher o formulário. Me mandaram ir até uma fila onde estavam várias mulheres lindas e bem vestidas. Eu estava me sentindo um lixo com aquela calça jeans clara, uma sapatilha e minha blusa social que modelava minha cintura. Quem era eu perto daquelas mulheres maravilhosas? Todas me olhavam com cara de nojo e eu estava me segurando para não descer um belo barraco naquele lugar. Elas não me conhecem, não sabe o quanto eu quero arrastar a cara de uma por uma no asfalto. O tempo foi se passando e uma por uma foi sendo chamada. Eu era uma das útilmas e minhas esperanças já estavam se esgotando. Fui chamada quando eu estava quase indo embora, cansada de tanto esperar. Entrei na sala e me deparei com um homem gordinho, de cabelos grisalhos e com óculos de grau. Ele não me olhou em momento algum, ficou o tempo todo olhando para uma papelada que estava sobre minha mesa. Fez um sinal com a mão para que eu começasse a falar e eu já comecei a me arrepender de estar ali. Ele era arrogante e frio diante tudo que eu falava, só fazia sinal com a cabeça como se estivesse ouvindo sem vontade alguma. E é o que realmente estava acontecendo, ele não queria estar ali, e eu comecei a não querer também. Ele me mandou voltar no dia seguinte e eu retomei 5% de toda a minha esperança, mas essa porcentagem se perdeu quando a menina que servia café me contou que todas as outras mulheres voltariam amanhã, também, que seria a mesma coisa que hoje e que todos os anos são assim. No dia seguinte, retornei e me sentei em uma poltrona que estava bem perto da porta de seu escritório. Percebi que ele estava discutindo com um homem eu lá dentro estava, exigindo que o mesmo desse um jeito em seu problema. Ele disse que o processo precisa andar e que ele quer ver a filha dele, que não pode ficar à disposição da ex-mulher pois não é ela quem deve decidir se ele pode ou não ver a filha. Guardei todas as coisas que eu ouvi e comecei a pensar em algo para me destacar entre todas aquelas metidas. Eu não estou aqui à toa, não posso estar. A história toda se repetiu e eu fui uma das únicas a ser chamada. Entrei e, sem esperar ele fazer o sinal, comecei a falar.
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O amor que encheu a barriga
Roman d'amourPLÁGIO É CRIME! Thomas é um jovem de 25 anos, de pele parda e com cabelos castanhos que combinam com seus olhos cujos cílios são longos e atraentes. Seu maxilar bem desenhado dá um contexto maior aos lábios que, por sua vez, são pequenos e miste...