Capítulo 38 - Bônus de Rosa

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Melany me disse que essa noite eu teria que ir até o interior para resolver uns problemas do meu filho. Eu concordei sem hesitar, eu estava triste com toda essa situação e, já que não pude passar minha vida inteira ajudando meu filho, espero que eu consiga fazer algo por ele. Eu sei que é tarde, mas eu vou fazer.

- Que horas iremos?

- Eu não vou, vó.

- É seu pai. Como assim não vai?

- É que não quero sofrer mais do que já estou sofrendo.

- Eu entendo. Tudo bem. Tem problema se você ficar sozinha?

- Problema nenhum.

Estranhei um pouco. Eu sei que ela está sofrendo muito e que é nova demais para ter perdido os pais, mas ela tem um pouco de responsabilidade. Ela deveria ir. Bom, não vou insistir. Só ela pode dizer o que está sentindo. Eu não sou ninguém para julgar. A viagem é longa, arrumei minha mala e separei um dinheiro que eu estava juntando e fui até a rodoviária, de táxi. Talvez a viagem dure até dias. Cheguei na hora certa, o ônibus já estava saíndo. Corri e alcancei. Entrei e me sentei. Passei a madrugada inteira tetando dormir, mas não conseguia para de pensar no porque de eu ter deixado meu filho ter ido embora. Agora estou aqui, destruída por dentro. Um pedaço de mim foi embora e eu não posso fazer nada. Quase chegando lá, o sinal já estava ficando fraco e eu recebi uma mensagem de Melany no whatsapp. Eu não sou muito moderna, mas o Tom me ensinou a enganar um pouco.

- Vó, vamos nos animar um pouco. Não gosto de ver a senhora assim.

Ela mal me conhece e já é muito atenciosa, eu estou adorando essa menina.

- Como pretendo animar?

- Vamos fantasiar uma situação diferente. Digamos que eu tenha arrumado uma briga aqui com uma senhora do prédio.

- Você arrumou briga?

As mensagens chegavam ao meu celular e eu estava realmente me distraindo.

- Não, vó. Vamos lá. Me manda um áudio de como você falaria com o Thomas pelo telefone, pedindo para ele vir embora porque eu tinha arrumado uma confusão.

Eu estranhei um pouco essa maneira de animar, mas eu concordei. Nessa altura do campeonato eu jã não estava mais podendo escolher. Gravei um áudio insistindo para que Thomas viesse embora e, assim que enviou, o sinal do meu celular terminou. Melany me deu um endereço e eu fui até lá. Cheguei em frente a casa e vi que a mesma era muito humilde. Não acredito que deixei meu filho passar por isso a vida inteira. Ele deve ter enfrentado muitas necessidades e a culpa é minha. Não fui uma mãe muito responsável. Chamei por alguns minutos e ninguém me atendia. Cheguei a achar que a casa estava abandonada. Uma senhora, vizinha daquela casa, me viu gritando e resolveu me informar.

- Meu bem, ninguém mora aí não.

Estranhei e expliquei toda a situação para ela. Provavelmente ela deve estar dizendo que não mora ninguém porque o meu filho morreu. Ela ouviu atentamente e retrucou:

- Não. Ninguém mora aí há anos.

- Não?

Estranhei novamente e fiquei sem saber o que fazer. Meu celular estava sem sinal e eu estava sem dinheiro. O filho dessa senhora saiu da casa da mesma logo após.

- Desculpa interromper. Eu ouvi toda a conversa. A senhora está procurando o Marcos?

- Sim. É meu filho. Você o conhece?

- Nós trabalhamos juntos. Ele é caminhoneiro.

- Ele não mora por aqui?

- Aqui no interior, sim. Aqui perto não.

O amor que encheu a barrigaOnde histórias criam vida. Descubra agora