Capítulo 2

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MATILDE

Como uma rotina nestes dias que atingiram temperaturas estupendas, o tecido muito fino assentou sobre o meu corpo, e eu podia respirar de alívio por não me apertar. A noite foi agitada. As temperaturas nos seus vinte e sete graus, até às quatro da manhã. Adormeci durante uma hora, até que a minha Joana iniciasse os seus pontapés matinais.

A caminho do meu emprego, comprei dois bolos e uma água que me encheu não só a barriga como a alma. Os movimentos das ruas já eram denotados pelos carros que passavam de um lado para o outro, ou as pessoas que saíam das suas casas para visitar a praia, bem cedinho, antes das horas de maior calor. Antes de abrir o café, ficava sempre junto ao paredão para observar a tranquilidade do mar e as ondas embater nas arribas, desgastando as rochas.

No parque de estacionamento, mesmo situado a alguns metros de mim, vejo o primeiro carro do dia ser estacionado em plenas oito e meia da manhã. Da minha mala retirei o telemóvel, e para introduzir um pouco mais de alegria nas minhas redes sociais, uma fotografia das pequenas ondas e algumas pessoas a correr pela areia apareceram nas mesmas.

– Bom dia – assusto-me quando oiço alguém dizer do meu lado, levando de imediato a mão junto do meu coração. – Desculpa, não queria assustar-te – vejo Filipe rir, um pouco atrapalhado.

– Já por aqui? – indaguei, percebendo que o rapaz era ainda mais exemplar do que aquilo que deduzira.

– O horário manda! – usa um gesto militar para se inclinar perante mim. – E a chefe também – gargalha.

– As pessoas só começam a aparecer por volta das dez horas. Até lá, podes ir aprendendo algumas coisas – com as chaves na mão, desinstalo o alarme pelo código e vejo todas as persianas que bloqueavam a entrada revelar o interior do café. – Pronto? – Filipe assente, entrando logo dentro do balcão, familiarizando-se com o ambiente. – Comecemos pelo mais básico, então –

Por causa da minha enorme barriga, demorei um pouco mais até chegar até ele, passando por uns obstáculos que se interpunham no caminho, tão simples como pequenos pedaços de madeira que interditam a passagem a clientes para aquela zona. Chegada até ele, deixei que a língua de fora denunciasse o meu cansaço neste pequeno percurso.

– A máquina liga-se aqui, certo? – assenti, vendo as suas habilidades perante uma máquina de café. – Este é o filtro usado para tirar dois cafés, e este um – bati palmas, e ele faz-me uma vénia em agradecimento. – De resto, não sei nada mais. – enruga a testa, e eu observo o moreno um pouco perdido no meio dos filtros e os diferentes tipos de café que se podem tirar.

– É muito simples. Tens ali o café moído, fazes assim – exemplifiquei. – colocas nos filtros, e o café sai normalmente – deixo uma gargalhada sair, sem puder evitar. – o mais difícil é quando pedem aqueles cafés mais elaborados. Ali tens a chávenas enormes. Quando pedem um "Café com leite elaborado", por exemplo, usas este pequeno vaporizador para que se crie uma espuma envolta do leite e do café. Um descafeinado é diretamente daquelas dosagens que ali estão. E os cappuccinos são os tradicionais com as saquetas; introduzes o conteúdo, mexes muito bem, e colocas água a ferver da máquina, que sai daquele pequeno instrumento. Tens é de te certificar que a máquina tem sempre água, pois caso contrário os cafés irão sair queimados ou a máquina irá sair queimada – perante tanta informação, o novo funcionário mexe nervosamente nos seus cabelos.

– Eu sou muito desajeitado, sabes? E nada bom com a memória, espero mesmo que isto corra bem. – ajudo-o a tirar o seu primeiro café, o qual bebe e inclina a sua cabeça. Em seguida, cospe o conteúdo para dentro, novamente. – Açúcar – elabora uma expressão hilariante, procurando por água para beber.

(desa)sossegoOnde histórias criam vida. Descubra agora