Capítulo 30

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MATILDE

Eu voltara.

O branco da divisão, em conjunto com a luz que entrava pela janela que dava para todo um outro complexo hospitalar, fora a primeira coisa que vi. E então eu soube, soube que estava bem. O meu coração palpitava a centenas de batimentos por minuto quando me apercebi que estava sozinha. A minha bebé – fora o meu primeiro pensamento, e as lágrimas começaram a assombrar o meu rosto.

No momento em que tentei levantar o meu corpo, fui atingida por dores demasiado intensas na zona abdominal, e não arrisquei mais. Era noite lá fora, e eu com medo. Completamente só, não sabia como reagir a esta dor física e emocional.

A porta abria e uma pequena incubadora entrava, seguida de uma enfermeira e a Dra. Sofia.

– Bem-vinda de volta, Matilde – elas disseram, com um sorriso no rosto. – Estás com um rosto muito carregado e sério, mamã – não estava a perceber a origem da sua felicidade, quando eu estava completamente destruída.

– Matilde, querida – os meus sentidos estavam confusos, mas quando encarei a senhora reconheci-a como a enfermeira Marta. – Está tudo bem, voltaste –

– É normal que tenhas acordado confusa, sem a tua bebé, mas nós fomos realizar os exames de sempre para verificar, de algumas em algumas horas, o estado de saúde dada a sua prematuridade. – Ela estava viva – Vais já poder vê-la –

– Como é que ela está? – perguntei, observando a pequenina aproximar-se de mim.

– Ela está ótima, sem quaisquer sequelas. Um pequeno milagre – mais lágrimas rolaram pelo meu rosto assim que espreitei e vi os seus pequenos fios de cabelo castanhos, o seu corpo pequeno revestido por um fatinho.

– A tua família já esteve aqui. Os teus pais e o Duarte acabaram agora mesmo de deixar o hospital. – os batimentos voltaram ao normal e eu respirei de alívio. – O teu irmão mais novo ficou desolado, e como sendo o único compatível contigo, ele doou o seu sangue para que tu pudesses ter acordado bem – a médica explica-me, e eu sorrio, mesmo que a águas salgada percorresse o meu rosto.

– O Filipe estava desolado. Vai ficar tão feliz por saber que já acordaste – Marta parece preocupada, e eu sinto-me mal porque o coloquei nesta posição. – A pequena Joana foi mais cedo para casa, mas assim que souber que a mamã está bem, vai trazer um sorriso naquela face redondinha –

– Obrigada por terem cuidado bem dela – o meu olhar prendeu-se no ser humano pequeno que mais cedo me provocara o susto da minha vida.

– É o meu trabalho, Matilde. Estou mesmo muito feliz que estejas connosco, pensei que vos tinha perdido – diz, e a última frase a ser recordada por mim vagueia pela minha mente. – Dentro de pouco tempo já devem estar a trazer um jantar para ti. Nós vamos certificar-nos que todos sabem que vocês estão mesmo bem. – o gesto de despedida da avó da minha filha sossegou-me, como se trouxesse um pouco do seu filho com ela.

A noite passara de forma bastante tranquila, sem complicações, com visitas constantes de outros enfermeiros e com a colocação de mais analgésicos através do meu sangue – o que me ajudou muito. As poucas horas que dormi foram derivadas ao cansaço. Quando acordava, sempre olhava para ver a bebé dormir tranquila, ou para a ver mover os seus dedos que eu queria tocar.

Dez da manhã, e eu estava bastante pálida, exausta, mas com um sorriso no rosto porque ao abrir os meus olhos, o que eu encontrei fora a melhor coisa que a vida me poderia ter dado; Filipe, com Joana no seu colo que pegava de forma desajeitada num ramo de flores, que logo desceu dos seus braços, demonstrando os seus dotes de caminhada até mim.

(desa)sossegoOnde histórias criam vida. Descubra agora