Capítulo 31

182 17 4
                                    


MATILDE

Era-nos impossível conter a emoção num momento como este. Madalena era a bebé mais sossegada com quem eu lidara. Os seus pequenos fios de cabelo castanhos são acariciados pelas nossas mãos, que juntas, seguramos a pequenina contra o meu peito descoberto.

O brilho no seu olhar verde denunciava as lágrimas que estava prestes a cair, ao segurar pela primeira vez este ser humano precioso, que continha metade do seu material genético, ou talvez mais um pouco dada as parecenças aquando bebé a esta menina. Nestes últimos dias tem sido difícil lidar com a situação de Madalena, com a angústia sempre presente, a tentar manter sorrisos no rosto quando queríamos ter a nossa menina connosco, tal como Joana que balbuciava algumas palavras, apontando para a irmã – confusa porque ela estava inserida dentro de um cubo de vidro.

A bebé Madalena adaptou-se a mim de forma natural, envolvendo o seu corpo, como se ainda estivesse dentro de mim. A pediatra responsável pelo seu caso sorria, vendo o quão bem ela estava a desenvolver-se e a crescer saudável.

- Não posso deixar de elogiar o vosso trabalho enquanto pais de uma criança prematura. É toda uma peripécia quando isto acontece, e aqui parece fluir com tanta naturalidade que me deixara incrédula. As vossas palavras realmente ajudaram a que ela se adaptasse ao ambiente familiar. Congratulo-vos por isso e por mais – Dra. Teresa falara, e eu guardei todas as palavras no meu coração.

– Obrigada – a sua pequena cabeça cabia quase na palma da minha mão, e ela estava tão próxima de poder deixar a maternidade e vir connosco para casa. – Ela é realmente uma doçura. – beijei a sua testa, pelo qual recebi um pequeno grunhido vindo da sua boca.

– Volto dentro de uns dias. As enfermeiras virão verificar de hora em hora, saberão lidar com estas situações. Até breve! – ela despede-se, e deixa-nos sós, apenas por breves minutos.

– Amo-te, muito obrigado! – num espaço de um ano em que mantemos contacto, nunca o vira tão emocionado. Ele sempre fora grato por todas as oportunidades que lhe foram dadas, mas desta vez, ele parecia sentir que os seus agradecimentos nunca eram suficientes. Bem, para mim eram.

– Quem tem de agradecer sou eu, amor. Sem ti, não teríamos esta pequena aqui – beijei os seus lábios, um beijo repleto de baixão que apenas parou com um tossir desconfortável.

– Não acredito nas poucas vergonhas que andam a fazer com a minha sobrinha a ver – Francisco diz, e Catarina, atrás dele, ri e ri. Escondi o meu rosto, olhando para a bebé Madalena que já estava mais do que satisfeita, dormindo sobre mim.

– A Joana? – perguntei, radiante ao relembrar-me, pela centésima vez, que dia era hoje.

Há um ano atrás nascera Joana Afonso Silva, a menina que viria a tornar-se traquina, mas muito feliz. O meu primeiro amor, o primeiro de muitos.

– Amor da mãe! – gritei, fingindo não vê-la, mas sei exatamente que estava atrás do tio João. – Não faço ideia onde ela está, talvez seja melhor guardar os beijinhos para a Madalena. – assim que virei o rosto, oiço os seus passinhos correr até mim. Não seria típico da bebé de um ano de idade se não tropeçasse a meio do seu percurso.

– Ma! – berrou, com lágrimas nos seus olhos, enquanto que os adultos do quarto apenas queriam rir da sua reação. – Ma-mã! Mada! – ela tornava em repetir, querendo subir para a cama onde eu estava.

Joana era adorável, e o mais incrível, para além de ser a minha miúda especial, ela revelara-se inteligente ao ponto de saber tantas palavras com apenas um ano de vida – o que, claro, deixava toda a família, não só babada, como orgulhosa.

(desa)sossegoOnde histórias criam vida. Descubra agora