MATILDE
O tão ansiado dia chegara, e eu poderia pôr fim a esta espera angustiante. Vigésima semana e a minha barriga saliente não o deixava mentir. Foi por esta altura, o ano passado, que eu vira as primeiras imagens explícitas da minha Joana, e ela agora estava aqui comigo, sobre o meu ombro enquanto que eu saboreava uma taça de cereais com iogurte.
Filipe aparecera no apartamento, depois de ter ido buscar mais algumas roupas. A sua vida é praticamente feita neste meu cantinho desde a Universidade, e o espaço começa a ficar apertado, especialmente agora que as prendas que foram chegando relativo ao meu aniversário comemorado à umas semanas se encontravam por todo o lado.
Depois de beijar a testa da bebé de sete meses, uniu os nossos lábios, sorrindo. Saímos do edifício e Joana sempre a brincar com o conjunto de pêndulos presentes no seu carrinho. Durante a longa viagem de trinta minutos, finalmente chegávamos ao complexo hospitalar. Com cuidado, o moreno pegou na minha mão e com a outra guiava Joana Afonso bastante acordada, ao contrário de mim.
- A minha mãe deve estar por aqui, hoje. - acenei, enquanto me deparava de novo naquela sala, mas desta vez eu vinha acompanhada.
- Estou a viver uma série de deja vú's. - acabei por admitir, olhando tudo à minha volta. - Passou um ano desde que descobri que iria ser uma menina, mas antes disso mesmo, sentei-me aqui mesmo, imaginando a vida dos casais que entravam e saíam, e pensava no quão sozinha eu estaria nisto - senti o seu olhar verde sobre mim, ouvindo-me atentamente. - Estou tão grata por te ter aqui comigo. -
- Amor, eu sempre estarei aqui - massageou a minha barriga e ainda me roubou um beijo antes que fosse chamada ao consultório da minha médica.
O que eu mais quero neste momento é que ele ou ela esteja bem.
- Bom dia, Matilde - respondemos da mesma forma, e ela sorriu na minha direção, compondo os seus óculos. - Consigo notar à distância que estás nervosa -
Os procedimentos foram os mesmos e eu deitei-me sobre a cama, enquanto que o moreno segurava a menina curiosa no seu colo. - A Joana está tão linda - ela comenta, acarinhando as suas bochechas enquanto preparava tudo.
- Querem saber o género hoje? Ou guardar surpresa? - pergunta, e eu olhei para o pai do bebé, que me respondeu com um sorriso de orelha a orelha. É, ele queria o mesmo que eu.
- Já que pergunta... - ri, e logo o gel frio entrou em contacto com a minha barriga.
- Muito bem. Vamos ver se ele colabora. - observei o ecrã preto e branco e emocionei-me ao vê-lo ali, já com formas humanas. - Ele está a desenvolver-se muito bem. Como vêm, já possui muitos dos órgãos bem formados. Os parâmetros estão dentro do normal... - e eu vejo que ela se aproxima mais do ecrã, o que me deixa logo em alerta.
- O que se passa, Dra.? - noto a preocupação de Filipe, pois ele viveu comigo estes meses de espera, apenas para ouvir boas notícias.
- Os meus anos de experiência não me enganam, e o que tenho para vos dizer é o que vocês mais querem saber - ela sorriu na nossa direção, ao ver o nosso estado de ansiedade. - Têm aqui uma saudável menina - e eu não pude evitar que as lágrimas saíssem. - Muitos parabéns, e continua a tratar bem de ti, Matilde. Tem tudo para correr bem -
Demorei um pouco a recuperar o sorriso. Estes meses estiveram cheios de sobressaltos, e a internet não me ajudava. Tudo o que li deixou-me num estado ansioso proibido. Saber que ela estava bem fez-me deixar sair um longo suspiro, e logo senti a mão do rapaz sobre a minha, enquanto ouvíamos os conselhos habituais.
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(desa)sossego
RomanceEm plena época balnear, Matilde fica um pouco aflita quando tenta gerir o seu pequeno negócio e conciliar com o que a vida lhe concedera devido a erros do passado. O calor e a inquietação obrigaram-na a procurar um novo funcionário para o café qu...