dois.: ge-la-to!

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Matilde

– Onde se esconderam as mulheres da casa? – ouvíamos os passos lentos de Filipe, observando a sombra do esconderijo para onde fora arrastada. As duas traquinas seguravam os risos, acreditando que o pai não nos encontraria ali. – Está a querer parecer-me que tenho de tomar o pequeno-almoço sozinho – ele desvia a sua rota e vemos o seu corpo a sair do quarto.

Nesse momento, Joana e Madalena saem debaixo da cama e correm para abraçar o pai. Ele ainda finge o pequeno amuo, mas logo de seguida arranja uma tática para arrancar gargalhadas a todos, provocando cócegas às duas que caem no chão, contorcendo-se. O moreno beija as bochechas de ambas que correm até à cozinha, deixando-nos sós.

O meu marido aproxima-se de mim e consegue conduzir-me à insanidade apenas com os seus lábios colados aos meus. Ele pega nas nossas mãos e une-as, dizendo: – Esse anel fica aí tão bem –

– Posso concordar contigo... E acrescentar que o teu anel te completa – mordo o lábio quando sinto os seus lábios no meu pescoço.

– Estiveste irrequieta esta noite, o que se passa? – ele para e observa-me. Desvio o meu olhar do seu verde intenso e encaro o chão de madeira.

– Não consegui parar de pensar no que a Madalena disse – admito e sinto os seus dedos pentear os meus longos cabelos. – E tomei uma decisão – o seu olhar interroga-me. – Quero ficar com elas. Durante o verão, como o meu trabalho é flexível e eu mando em mim própria, posso perfeitamente cuidar delas, não quero ter de lidar com aqueles comentários. –

– Vamos perceber o que aconteceu e logo decidimos, sim amor? – planta um beijo sobre a minha frente e eu abraço-o, levando-o comigo até à cozinha onde sou surpreendida pela primeira refeição do dia já pronta.

– Entretanto queria ir passar a tarde à praia, achas que eles podem? – digo, referindo-me aos meus irmãos e respetivas companheiras.

– Quanto ao Francisco e à Catarina não sei, mas o Duarte e a Alice estão de férias. – ele começa a dar atenção à mais nova, colocando-lhe o prato à sua frente. Faço o mesmo com Joana que parece estar a adorar sentir-se acomodada na cadeira enquanto a colher viaja para a sua boca. Não consigo não olhar para ela sem me recordar do seu pai biológico, do sorriso que herdara dele, do seu jeito alegre e em como nunca lhe contei tal coisa; talvez deva começar a adquirir coragem para tal.

– Vamos de pijama, princesas? – acordei do meu pequeno momento vendo Filipe com as duas meninas ao colo, observando-me. – Hoje vamos falar com a professora, pode ser? – não ouvimos queixas por parte da mais velha, mas a mais nova escondeu o seu rosto o que me causou uma pequena dor.

– Vou preparar-me rápido, consegues vestir a Madalena? – ele assente e a mais traquina salta para o meu colo, seguindo-me até à casa de banho onde vesti algo mais elegante. Arrisquei nuns sapatos com salto básicos e não tendo qualquer tempo em lavar e secar o meu cabelo, fiz duas tranças em todo ele.

– Mamã! A Madalena está separada de mim, não consegui defendê-la – Joana fala, enquanto coloco o tecido fresco sobre o seu corpo.

– Não te preocupes, meu amor. Nós vamos resolver o assunto em menos de nada – beijei a sua testa, acabando por ceder mordendo as suas bochechas levando-a às gargalhadas.

– Eu pensava que a mana sentia muitas saudades vossas todos os dias, não sabia que a professora dela era má – Joana fala, já no carro, enquanto as colocamos em segurança.

(desa)sossegoOnde histórias criam vida. Descubra agora