Capítulo 4

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MATILDE

O alarme do meu telemóvel tocara repetidamente esta manhã. A rotina tornara-se mais intensa que o normal quando me apercebi que esta noite havia adormecido e dormido por todas aquelas em que não o fiz. Eram as oito e meia da manhã quando o ecrã se acendia pela sua quinta vez, segunda indicava. Era a quinta vez que o alarme tocava juntamente com um lembrete da minha consulta de hoje.

Numa correria, apressei-me num banho e em selecionar uma roupa aleatória para logo conduzir até ao meu local de trabalho onde certamente já estaria Filipe. Nove horas da manhã quando saí de casa e a primeira chamada do rapaz chegara. Ao conduzir, não atendi o telemóvel o que deve ter deixado o moreno preocupado. O trânsito era mínimo e demorei quinze minutos a chegar ao meu café.

- Desculpa - foi a primeira coisa que disse quando vi Filipe a olhar para a linha do horizonte, entre o mar e o céu. - Esqueci-me completamente de te avisar que hoje iria para uma consulta. Para além do mais adormeci e já estou atrasadíssima - olhei para o relógio no meu pulso verificando que faltava uma hora para a consulta. O hospital situava-se do outro lado do rio Tejo, o que me colocava a quase trinta minutos de viagem.

- Precisas que eu fique aqui? - assenti, digitando o código com tal pressa que saiu errado e o alarme disparou. Rapidamente cessei o barulho e estava a ficar nervosa pelo tempo a passar. - Sozinho? - voltei a acenar que "sim" e ele olhou-me um pouco assustado.

- Tu consegues gerir isto. Eu acredito - despedi-me rápido dele, mas não sem antes ser impedida de novo.

- Não precisas que vá contigo. Se calhar era melhor devido à tua gravidez - ele aponta para a minha enorme barriga no seu sexto mês e meio de gestação. A verdade é que era a primeira vez que fazia esta viagem sozinha, pois o meu irmão encontrava-se no centro de Portugal e a minha cunhada estava a frequentar as aulas de antecipação aos exames.

- Eu desenrasco-me - disse, entrando por fim de novo no carro. Estava calor, demasiado calor. Abri as janelas do mesmo e começo por ligar o carro e a rádio.

- Por favor diz alguma coisa, quando chegares - sorri na sua direção e iniciei a minha longa viagem.

Estava a ficar um pouco sobressaltada, com medo que algo acontecesse enquanto conduzia até lá. Decidi ligar para a receção e dizer que iria chegar atrasada à consulta por motivos pessoais. Eles foram muito simpáticos e deixaram que eu fosse recebida pela minha obstetra assim que chegasse lá.

Uma hora depois encontrava-me finalmente a estacionar o carro e felizmente havia chegado mesmo uns minutos antes da marcação e eu suspirei de alívio. Massageei a barriga ao sentir um pequeno movimento nesta. Sorria, apaixonada por esta nova fase da minha vida. Quem me visse neste momento chamar-me-ia parvinha.

- Bom dia. Eu tenho marcação da Dra. Sofia para as dez e meia. - a rececionista logo me mandou esperar, o qual eu fiz por cerca de quinze minutos até ver uma senhora grávida sair do gabinete da médica, junto com o marido, com uma expressão triste, talvez destroçada.

O meu nome foi chamado e logo vou para o gabinete, no qual vejo Dra. Sofia a refletir sobre alguns papéis à sua frente. Tentei sorrir, mas a verdade é que fico a imaginar a vida das pessoas que passam por mim e reflito demais sobre isso. Acabo por sair afetada, com medo.

- Olá, Matilde! Deita-te por favor, já aí vou. - não dificultei e fiz o que ela mandou. Pouco tempo depois ela largou um suspiro e dirigiu-se até mim. - Como está a nossa joaninha? - aplica um pouco de gel sobre a barriga, ao mesmo tempo que a cutuca, como sempre faz.

(desa)sossegoOnde histórias criam vida. Descubra agora