catorze.: "odeio-te!"

120 10 3
                                    

14º CAPÍTULO – 2ª PARTE NOVO!

Catorze.: "odeio-te!"

MATILDE

A cidade acordara com o sol irradiando energia; o suficiente para que, às seis da manhã, espreitasse às janelas das casas. Custar-nos-ia, no entanto, uma hora na cama, com os nossos corpos em sintonia geométrica, para que, por fim, abríssemos os olhos para um novo dia. A minha barriguinha cedera lugar a uma barrigona, do dia para a noite. Oito meses já lá iam, trinta e quatro semanas completas, e a exaustão tomara rumo nesta fase da vida já há algum tempo.

Uma camisola branca do meu moreno assumia o meu corpo, ainda que preguiçosamente. Acariciei o meu ventre, como um hábito constante, sorrindo inconscientemente. Do exterior do quarto, o qual ainda não havia abandonado esta manhã, ouviam-se algumas vozes que se aproximavam lentamente do corredor e logo depois se ouviam desde o quarto de Madalena. Escolhi um dos pares mais largos de calções que possuía e decidi que era hora de deixar uma das minhas bases destes últimos meses.

Na cozinha, procurei pelo meu pequeno almoço de sempre; um iogurte e quatro torradas sempre acompanhados pelo meu chá matinal. Já com a caneca entre as minhas mãos, caminhei lenta e tranquilamente pelo corredor, ouvindo sempre os móveis a arrastar. Parei quando os três rapazes – homens – passariam por mim com um dos armários. Sorriram, mas tão centrados na tarefa, nada disseram.

– Bom dia, preguiçosa – Duarte refere, dirigindo-se até mim para me abraçar. – Como se estão a comportar esses meninos aí? – passa a mão pelo ventre, e pelo contacto, sente, mesmo que mínimo, o movimento de um dos gémeos.

– Estão a deixar a mãe descansar nestas últimas semanas – excetuando as dores de costas, e as posições difíceis de adaptar, em nada se compara ao segundo trimestre e ao primeiro, para mim, os mais atribulados.

– Olá, Matilde – Francisco aparece atrás do irmão, que quase o ultrapassa em altura, e cumprimenta com um beijo em cada bochecha. Noto já um leve cansaço no suor que escorre pela sua testa. – Olá, pequenos – desta vez, ele coloca ambas as mãos sobre a barriga, e há leves movimentos pela esquerda da minha zona abdominal.

– Já estão aqui à muito tempo? – pergunto, vendo já os progressos que foram feitos. As duas camas, embora juntas, já se situavam aqui, e os armários em lados opostos, como ficara planeado.

– Umas horas. O Filipe foi levar as meninas até à Catarina e Alice e nós chegámos, começando desde logo a trabalhar. – Francisco sorri, afastando-se. – Está a ficar bem? –

– Está ótimo! Continuem, mas cuidado com as paredes brancas, por favor – foi a única repreenda que lhes dei. – Vou deixar-vos trabalho, então – quando ia sair, o meu moreno vem até mim e colide os seus lábios com os meus, deixando-me motivada para o dia, e com a alegria que ele transmitia, poderia dizer que tive o mesmo efeito nele.

E era isto que eu mais admirava neste homem, que para sempre iria ser um jovem, porque os trinta anos dele são os vinte de muitos. Por vezes, eu era irritante, impaciente, tornava-me uma criança nas suas birras; mas ele sempre estava lá para mim, e quando eu menos esperava, abraçava-me transmitindo-me tudo de bom que ele tinha, tranquilizando-me a mim e aos nossos bebés. Eu gritava até com as portas deixadas abertas, e lá aparecia o ser humano com um olhar verde brilhante para me explicar que não havia motivos para tanta irritabilidade. Quando não estava nestes dias, chorava, ou por memórias que assolavam a minha mente, mesmo que de repente, ou porque pensava no que não era suposto para a minha saúde mental.

Peguei no computador e levei-o até à secretária que colocámos, à relativamente pouco tempo, na sala, iniciando mais uma sessão no projeto que, apesar de meu, pertencia de igual forma ao moreno que trabalhava arduamente na construção de um quarto para os dois filhos que vinham a caminho. Com a luz natural do verão a entrar nas janelas da casa, foquei-me em terminar mais alguns orçamentos e simular despesas de uma empresa fictícia, para criar algumas noções de contabilidade.

(desa)sossegoOnde histórias criam vida. Descubra agora