Capítulo 9

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MATILDE

Casa é onde o teu coração vive e estar aqui de novo, repleta de amor à minha volta deixa-me sem palavras para agradecer tudo o que estes seres humanos já fizeram por mim. Os meus pais estavam mais felizes que nunca, sendo que eles nunca foram dados à tristeza. Voltei a rever o meu irmão e cunhada com um sorriso na cara saudável. O moreno, dono de uns olhos verdes invejáveis, tinha finalmente conhecido a bebé pela qual nós nos conhecemos. A sua mãe estava aqui, na sala também. Tem-se tornado muito bom contar com o apoio dela e as suas dicas, para além das da minha mãe, perita na maternidade.

Pouso Joana sobre a cama e recomponho a minha roupa. Ela parecia estar completamente satisfeita com a refeição e logo em seguida voltou a adormecer na mesma posição da última vez. Levo-a comigo para a sala onde estavam todos os convidados de uma festa de "Boas Vindas" surpresa da Joana. O pequeno berço móvel que ali se encontrava é o conforto para a minha bebé, podendo desta forma vigiá-la.

– Matilde – ouço e reconheço a voz de Filipe. – Como está a Joana? – é a primeira coisa que pergunta quando se dirige a mim, com um copo de vinho que todos tinham na mão, menos eu.

– Está ótima. Acabou agora de adormecer. –

– Que coisa mais querida. O meu sobrinho leva horas para adormecer, já faz muitas birras. Em comparação com ele, a Joana é mesmo um amor – relata e eu não consigo parar de pensar no pequeno sorriso que ela deu quando se sentiu no colo do moreno.

– Já foram para o Porto? – questiono, sabendo que a irmã e o marido iriam viajar para o Porto pois tinham conseguido emprego para ambos lá. Ele não pôde ir ao hospital por causa disso mesmo, todo o seu tempo livre fora ocupado pelas arrumações na casa da irmã mais velha.

– Sim. Apesar de ser mais perto que os Estados Unidos, morro de saudades deles. Estivemos muito tempo separados, e voltaram somente por um mês e meio – suspira e eu acabo por pousar a minha mão no seu ombro, tentando transmitir-lhe força.

Sirvo um copo de vinho para mim e recebo um olhar surpreendido de todos os ali presentes. Rio e explico a minha posição: – Estão a esquecer-se que poupei-me do álcool durante mais de nove meses – a verdade é que eu sempre bebia um copo de vinho em algumas refeições, ou quando o verão começava, as cervejas bem geladas refrescavam o meu corpo e a minha alma, e eu sentia falta do sabor.

– Não me embebedes a menina – a minha mãe fala preocupada e eu asseguro que está tudo bem e que quando ela voltar a ter fome, o golo de álcool que bebi já havia sido digerido pelo meu corpo.

O jantar ia ser servido em breve, ainda era dia. Começaram todos a organizar a mesa, no pequeno jardim que eu tinha neste apartamento. O cheiro de Empadão de Carne que só os meus pais sabiam fazer deixaram-me com água na boca. Encarreguei-me de colocar a pequena num ovo ajustável e levei-a para ao pé de nós. Estava tão sossegadinha.

– Nunca te cheguei a perguntar se estava tudo bem contigo, perdoa-me – Filipe, que se sentara ao meu lado para ver os outros trabalhar, fala e eu logo assinto.

– Está tudo ótimo – exceto as dores que a menina me causa para mamar, ou as noites mal dormidas, mas isso é o menos quando a tenho comigo. – E pelo café, tem aparecido muita gente? –

– Imensa. Nem sabes. Tive de contactar o fornecedor ainda hoje para que fizesse a encomenda uns dias antes do previsto, espero que não te importes – ele fala tão rápido, que logo se cansa.

(desa)sossegoOnde histórias criam vida. Descubra agora