Capítulo 22

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MATILDE

O calor produzido pela madeira abraçava os nossos corpos, que, em frente à lareira, disfrutavam de um chá, com mantas sobre os mesmos, assistindo aos típicos filmes da época natalícia.

Meia-noite, e com o entusiasmo de crianças, alguns dos alarmes programados tocaram nos telemóveis com diferenças de segundos. Os meus irmãos levantaram-se e correram para o pinheiro, como fazia desde pequenos, e desde que me lembro, criando uma roda com espaço aberto para os restantes.

Dada a correria e risos de toda a gente, a minha bela adormecida acordara, pelo que iria connosco para o meio da roda. Formado o semicírculo de oito pessoas e da bebé, rápido recolheram os presentes que tinham de oferecer a cada um de nós. Esta era a tradição que se mantinha à anos. Era tudo feito de forma tão divertida, sem emoções tristes, apenas gargalhadas pela noite fora.

- Eu gostava de ser a primeira a distribuir as prendas, se possível - todos assentem, nem um pouco desconfiados, e Catarina pisca-me o olho, quando entrego os sacos a cada um, sem que nenhuma palavra seja dita.

Abertos os embrulhos, todos pareciam felizes com o que lhes havia dado. - Matilde, como é que uma chupeta da Joana veio aqui parar? - começaram as perguntas.

- Sim, no meu saco está outra - Duarte pegara na mesma, observando-a.

- Porque é que na minha também está? - João também estava confuso, e eu olhei para o que a mesma dizia. "Tio João" "Tio Duarte" "Tio Francisco"

- Querida, não sabia que tinhas comprado uma gravata para a Joana, mas não percebo porque estava ao lado de outra - a confusão estava instalada, e eu apenas sorria para todos. "Olá Avô" com o desenho de uma barriga de grávida feito pela minha melhor amiga era o que o tecido de seda apresentava.

- Matilde - aquela voz. "Parabéns, papá. Ansioso por me conhecer?" - ideias da rapariga que estava a gostar de assistir às expressões de incógnita nos homens da casa.

Deixei-os trocar ideias, ouvindo alguns "Ela está a adorar ver as nossas caras de parvos" "É daquelas partidas que ela viu na internet, só pode" "Rapazes, olhem o que o Filipe tem" e fora Francisco quem resolvera o enigma. "O quê? De novo?" "Matilde?" "Explica-te, por favor?"

- Sim, vocês vão ser tios, outra vez! - sem eu estar à espera, eles atiraram-se para cima de mim, abraçando a minha barriga.

Enquanto isso, observava a reação do moreno, que examinava o chapéu em miniatura, vezes e vezes sem conta. "Minha querida filha, milhões de obrigados!" era a vez do meu pai, que deixou um beijo na minha testa. Subitamente, todos desviaram a atenção para o local onde eu olhava tão focada.

Será que ele não está feliz?

Não possui qualquer emoção no rosto, e isso está a assustar-me.

Todos ficaram para além de felizes com a receção desta notícia, mas eu apenas queria conhecer a felicidade dele.

- Filipe, querido, estás bem? - ouvi a voz da minha mãe, que me fez voltar a visualizar o moreno, com a cara escondida entre as mãos. - Esta é a nossa deixa. - e do nada todos desapareceram do nosso redor, pegando em Joana.

Tentei aproximar-me, e ouvi um soluço, o que me fez recuar. - Eu vou ser pai? - pergunta, e levanta o seu olhar, para eu o encontrar vermelho das lágrimas que derramava.

- Sim - deixei as minhas mãos escorregarem pelo meu tronco e pararam acima da barriga. - Vamos ter um bebé - olhei para baixo, e vi-o de novo com o boné na sua mão. - Não estás feliz? - arrisquei.

(desa)sossegoOnde histórias criam vida. Descubra agora