FILIPE
O som das gotas da chuva era intenso à medida que estas caiam sobre os vidros da casa. Assobios do vento faziam-lhe companhia. A madrugada fora longa, a minha mente a tentar descansar. Quando decidi que, por fim, era hora para acordar, os meus olhos abriram encontrando a claridade do dia e a face mais esbelta que poderia ter melhorado o meu dia. Matilde dormia, a sua respiração profunda a indicar-me que demoraria a regressar ao consciente.
Desviei alguns dos cabelos que atravessavam o seu rosto, beijando a sua nuca em seguida. Todos os dias, quando acordo, me pergunto como tive eu a sorte de conhecer Matilde, com Joana e Madalena de acréscimo. Como pude eu sequer ter feito uma rapariga mulher como ela apaixonar-se por mim?
Afastei os cobertores do meu corpo, com cuidado para não a acordar, voltando a cobrir a sua pequena figura. A casa estava silenciosa, as meninas não tinham acordado ainda. Chegado à cozinha eram oito horas da manhã, e o silêncio tardaria pouco em permanecer. Em breve, Joana e Madalena correriam para a cozinha, fariam a sua rotina habitual da manhã. Antes que isso acontecesse, preparei algumas torradas e num tabuleiro coloquei iogurtes como pequeno almoço para os mais velhos. Seguido sempre por Mafalda e Tobias, encaminhei-me de novo para o quarto.
Matilde ainda dormia, confortável entre o calor dos cobertores. Voltei à minha posição antes de me levantar, e cobri as suas bochechas com a minha mão, fazendo leves carinhos por essa zona.
– Bom dia, amor – disse, beijando a ponta do seu nariz. As suas pálpebras moveram-se lentamente.
– Olá – ela fala, rouca, e com ainda dificuldades em manter os olhos abertos. – Bom dia – sorri, mais acordada.
Colidi os nossos lábios e caímos no esquecimento do pequeno almoço por alguns minutos. Agradeceu-me pela refeição, e depois de ingerida, ela desapareceu pela casa de banho deixando-me com a tarefa de ter de lidar com os pequenos seres humanos acabados de acordar.
– Papá! – ouvi o primeiro grito e corri até ao quarto da mais nova, vendo o seu rosto vermelho, bem como os seus olhos verdes irrigados de sangue. – Má! – ela começa a chorar, quando aponta para Joana, que confusa a olha.
– Madalena, o que foi? – vou para perto dela, tentando perceber o que há de errado com ela. – Princesa – ergo a sua face e, assustando-me, ela grita mais alto.
– Mana – Joana aproxima-se, vendo a mais pequena reagir daquela forma. – Pai, eu não fiz nada – afirma, envolvendo as suas mãos no meu braço, com os seus olhos azuis tornarem-se um mar de lágrimas em segundos.
– Madalena – pedi delicadamente à pequena, e quando a minha visão se tornou mais ampla, que a sua mão direita segurar o braço esquerdo. – Dói, amor? –
– S-him – consegue dizer entre um soluço. Com alguma técnica e cuidado, os meus dedos deslizaram pela sua pele sensível, e ela gritava mais uma vez. – Papá! – beijei as suas bochechas, tentando abstraí-la uns segundos enquanto detetava o que se passava com ela.
– A mana...! – Joana saiu disparada do quarto da irmã e eu não pude impedi-la, focado e preocupado com o que me apercebia.
– O pai precisa de pegar em ti, sim bebé? Vamos ter com a mamã? – ela assentiu, acalmando os seus gritos, mas não as suas lágrimas.
Os meus batimentos cardíacos denunciavam a minha ansiedade, o meu nervosismo. Encontrei Matilde, com as mãozinhas de Joana entrelaçadas com a dela, ainda com uma toalha a envolver o seu corpo, confusa e preocupada.
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(desa)sossego
RomanceEm plena época balnear, Matilde fica um pouco aflita quando tenta gerir o seu pequeno negócio e conciliar com o que a vida lhe concedera devido a erros do passado. O calor e a inquietação obrigaram-na a procurar um novo funcionário para o café qu...