Capítulo 6

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MATILDE

Trinte nove semanas e eu rodeada deste ambiente que não quero deixar por uns tempos. Apeguei-me como nunca a este trabalho. Adoro poder servir as pessoas e observar o ambiente com o mar como música de fundo quando as vozes dos clientes não se sobrepõe. Ainda permaneci sozinha em casa uns dias, mas cada pequena dor eu sentia o meu coração acelerar e as probabilidades de a minha pequena nascer e eu sem ajuda assustavam-me. Filipe tem-me suportado tanto nestas últimas semanas. Os meus pés incharam bastante e com este calor tornava-se insuportável usar qualquer calçado se não havaianas num tamanho acima do meu comum.

Hoje era o primeiro dia deste fim de semana que prometia muita gente. Finais de julho e os emigrantes e turistas preparavam as suas vindas. Para além do facto de estes dias o café tem-se enchido destes mesmos, sei que é por estas alturas que eles atravessam as fronteiras do país sem parar.

Eu apenas permanecia sentada a observar o trabalho do meu único funcionário que este mês iria receber um aumento e não o sabia ainda. É verdade que sem o trabalho dele eu jamais conseguiria o lucro que estou a obter. Bem vi quando a minha barriga começara a pesar, os meus movimentos a serem mais lentos e pessoas a deixarem o café sem serem servidas; outras, atenciosas, esperavam pacientemente, devido à minha condição. Para além disso, ele tem-me aturado nesta última reta em ir buscar-me a casa e deixar-me na mesma todos os dias.

- Good Morning - ouvi e quando olhei vi o moreno olhar para um casal inglês. - I would like to have a Iced Tea of Mango and Pinneapple, please. My wife just wants a gasocarbonic water. - vi o quão bem ele os atendeu e entendeu tudo direitinho. No fim, eles deixaram alguma gorjeta.

Aos poucos e poucos, em plenas dez horas da manhã, as pessoas iam dispersando para as praias. O café ficava vazio a cada minuto que passava e o ar voltava a circular mais frio, o que me fez suspirar.

- Não sabia desse teu tão fluente inglês - eu comento com o rapaz dos olhos verdes que finalmente soltara uma grande respiração de alívio.

- Antes de regressar a Portugal estive cerca de três meses no Reino Unido, a viajar por todo aquele país e arredores. Digamos que aprendi bastante. - ele senta-se ao meu lado e pude ver que corria suor na sua testa. De facto, estava imenso calor hoje e nem o ar condicionado melhorava.

- Que experiência! Deve ter sido muito bom para ti esses tempos. Não só viajaste como ainda aprendeste a língua mais importante do mundo. - ele sorri, e nada volta a dizer. As portas iniciam o seu movimento de novo e ele respira fundo, preparando-se para voltar de novo ao trabalho.

- Bom dia - ouço uma pequena gargalhada, e como estou mesmo atrás do balcão não consigo ver quem acabara de entrar. - Eu vinha aqui raptar a minha cunhada. Será possível. -

- Às suas ordens - Filipe diz, e aponta para o pequeno sofá onde eu estou sentada, quase deitada. Pouco depois vejo a porta de acesso ao balcão abrir e dois seres humanos loiros com um sorriso no rosto quase que contagiante.

- O que fazem aqui? - pergunto, confusa.

- Viemos raptar-te -

- Mas eu... - tento refutar, dizendo que não queria ir a lado nenhum, mas já Catarina pegava na minha mala e o meu irmão ameaçava levar-me ao colo.

- Queremos passar mais algum tempo com essa barriguinha antes que ela desapareça por completo e achámos por bem ir comprar umas roupinhas para a Joana. O que nos dizes? - a noiva de Francisco diz, enquanto é envolvido pelo seu braço direito, enquanto que eu sou amparada pelo seu braço esquerdo.

(desa)sossegoOnde histórias criam vida. Descubra agora