Capítulo 27

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MATILDE

As suas mãos envolviam a minha barriga, com o seu rosto deitado no meu pescoço causando-me cócegas. O seu leve ressonar fez-me crer que ele dormia ainda profundamente e que seria difícil de acordar. Com cuidado, desenlacei as nossas pernas e retirei as suas mãos de mim, levantando-me muito lentamente. O moreno moveu-se e eu paralisei, vendo cada pequeno movimento que fazia. Ele abraçou a almofada onde dormira, mas não acordou.

Com passos insonoros, deixei o nosso quarto para me dirigir ao quarto de Joana que devia estar a acordar para tomar o pequeno almoço em poucos minutos. Verificava minuto a minuto o meu telemóvel, esperando receber a tão esperada mensagem.

– Bom dia, filha – penteei os seus cabelos louros, espalhados pelo colchão. Ela fizera uma careta, enrolando o seu corpo, mas logo abriu os olhos. – Sabes que dia é hoje? –

– Papá! – ela bateu palmas, o que me levou a silencia-las numa questão de segundos "Não podemos fazer barulho, amor" e ela compreendera.

Com os seus passos desajeitados habituais, ela conseguiu aguentar nos seus pés todo o caminho, segurando-se firmemente a mim. "Já o temos. Dá-nos dois minutos" sorri, satisfeita, e sentei-me, à espera.

Enquanto Joana bebia o seu leite, sempre sossegada, por outro lado, a sua irmã decidira chutar-me constantemente. Ouvi um bater leve na porta que me levou a conhecer a sua chegada e ao abrir a porta deparei-me com os padrinhos da minha primeira menina e uma caixa sobre as mãos do loiro.

– Obrigada por me terem feito este favor – nesta reta final, estava ainda mais proibida a realizar qualquer esforço. – Ele vai adorar – sem eu estar à espera, Catarina entrega-me um saco com uma prenda para Filipe, a qual desconheço ter-lhe pedido.

Pé ante pé, todos vamos até ao nosso quarto, onde ele está exatamente na mesma posição em que o deixei, no entanto, já não se ouvia o seu leve ressonar.

– Parabéns a você,

Nesta data querida

Muitas felicidades

Muitos anos de vida

Hoje é dia de festa

Cantam as nossas almas

Para o menino Filipe

Uma salva de palmas! – e ele acordou, sobressaltado com o barulho. O seu peito encontrava-se suava, possivelmente pelo calor que já se fazia sentir a esta hora da manhã. Filipe abriu um sorriso, observando-nos.

Joana, surpreendendo-nos e quase me levando a um mar de lágrimas, correu o curto caminho até à cama saltando para a mesma. – Ela acabou de...? – pergunta estupefacto, enquanto a menina o abraço.

– A nossa Joana já anda e corre! – Catarina pousa a mão sobre o peito do meu irmão, emocionada. – Ainda à uns tempos a tínhamos nos braços, balbuciando coisas sem sentido, e já faz toda uma acrobacia – fala, referindo-se às suas pernas esticadas, enquanto que o pai e aniversariante a enche de beijos na sua barriga gordinha.

Enquanto ele estava distraído com a bebé, Francisco pegara no bolo e acendera as velas com o número vinte e seis. – Que celebremos estes e muitos mais – ele falara, enquanto se aproximava com o bolo, para que ele assoprasse as velas. Nesta pequena tarefa teve ajuda da menina loira, divertida com toda a situação, rindo e mostrando orgulhosa os quatro dentes.

(desa)sossegoOnde histórias criam vida. Descubra agora