Capítulo 5

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Matilde

A campainha ainda não havia deixado de tocar. Os meus movimentos são lentos e cuidadosos enquanto seguro a minha barriga e tento abrir a porta com a outra. Do outro lado, Catarina surge sorridente e com o seu ar veranil. Com ela transportava também uma mala típica desta época.

- Muito bom dia, Matilde! - abraça-me, como pode devido à minha barriga, e logo fecha a porta do meu apartamento. - Como está a tua pequenota? -

- A crescer - digo, com orgulho. Trinte e seis semanas e o nervosismo aumenta, assim como o tamanho de Joana.

- Estás tão gordinha - a loira acaricia a minha barriga, e recebe logo um pontapé da sua sobrinha. - Esta criança vai ser atleta. Já reparei um padrão de movimentos sempre que sente a mão de alguém - eu concordo imediatamente com ela.

- Ultimamente já tem abrandado o seu ritmo, e ainda bem - suspiro. As minhas últimas noites têm sido muito mais descansadas e a minha felicidade deriva disso mesmo. - Já só falta vestir-me, esperas um pouquinho? - Catarina é rápida a acenar e enquanto me segue para o quarto, ao passar pela cozinha pega nos pequenos queques que tinha feito na noite anterior. Cozinhar é uma das poucas coisas que me mantém ocupada nesta altura.

Estendi o bikini sobre a cama e a minha cunhada ajudou a escolher um vestido largo para o dia ser passado na praia. Era ainda bastante cedo quando estávamos a sair da minha casa para passar no comboio e recolher Francisco que se atrasara como sempre. Nove horas da manhã e o trânsito para a Costa estava razoável, não ficámos presos numa fila enorme.

- Eu convidei o Filipe Miguel, o novo funcionário lá do café. Espero que não se importem - eu informo e não ouço qualquer tipo de desaprovação da parte deles. Filipe iria usufruir do primeiro dia de folga porque eu o obrigara a isso; já havia trabalhado bastante nestas últimas semanas sem parar um segundo.

- Tomamos o pequeno almoço aqui? - Francisco, que agora conduzia o meu carro, parou em frente a uma pastelaria e eu logo assenti, já a pensar no doce que poderia proporcionar-me. - Diz lá que não penso em ti, maninha - como ele era relativamente mais alto que eu, ao abraçá-lo, ele aproveitou para despentear o meu cabelo.

- Deixa a rapariga, chico - Catarina resmunga com ele, de uma forma engraçada, enquanto entramos no estabelecimento que está vazio a esta hora da manhã. Entretanto avisei o moreno, por mensagem, que estaríamos ali até ele chegar.

- Bom dia. O que vão querer? - um senhor veio ter connosco com um lápis e um bloco de notas.

- O menu do pequeno-almoço do dia, se faz favor - Catarina e Francisco são rápidos a decidir, enquanto que eu encaro a exposição de bolos acabados de fazer.

- Para mim pode ser um chá de menta, o croissant de chocolate, aquele bolo de arroz e um compal de ananás, por favor - o homem aponta tudo apressadamente, com os olhos bem arregalados. - Eu preciso de comer por dois, meninos - comentei com o casal que apenas riu.

Uns minutos mais tarde já estávamos a devorar a nossa primeira refeição. E quando falo em devorar refiro-me a mim que já tinha comido praticamente tudo. A porta é aberta e eu reconheço o Filipe que logo vem na nossa direção.

- Olá - ele acena na direção do meu irmão e da sua companheira. - Sou o Filipe. - noto uma ponta de timidez quando ele se apresenta a ambos.

- Senta-te - ordenei, rindo quando vi que ele ainda estava em pé, provavelmente para não se sentir demasiado intrometido. Ele sentou-se na única cadeira livre daquela mesa para quatro. - Vais querer alguma coisa? - ele nega, confessando que já havia comido.

(desa)sossegoOnde histórias criam vida. Descubra agora