MATILDE
São tantas as emoções contidas em mim. Dia trinta de julho finalmente conhecera Joana. Nasceu uns dias antes de tempo, mas mesmo assim saudável e forte. Os exames mostraram estar tudo normal com ela e eu respirei de alívio. A enfermeira Marta, mãe do moreno que trabalhava agora no meu café, mostrava-se bastante feliz com o nascimento de Joana, de alguma forma.
– Joana Afonso Silva – escrevi, enquanto sussurrava para mim. Nesse momento, os seus olhinhos abrem e ela olha em sua volta, mostrando-se curiosa. – Então meu amor? – falei, pegando na sua pequena mão e ela logo agarrou o dedo indicador.
Queria ter dormido mais, mas a pequena acordara-me demasiadas vezes durante essas duas horas de sono. Eram neste exato momento doze horas da manhã e já havia trocado algumas mensagens com os meus pais e irmãos que vinham a caminho para nos ver.
Andava de um lado para o outro com a menina que parecia absorver cada detalhe do ambiente que nos rodeava. A certa altura, ao ouvir o trinque da porta depois deste silêncio durante longos minutos, ela assusta-se e eu tento embalá-la para que se acalme.
– Bom dia – João e Duarte sussurraram e eu voltei-me na sua direção. – Desculpa – entram em silêncio e pousam o enorme ramo de rosas que traziam com eles.
– Assustámos a menina? – Duarte espreita um pouco e eu vi um enorme sorriso formar-se no seu rosto. – Que linda – eles aproximam-se mais de nós enquanto eu ainda balanço ao de leve Joana.
– Estava aqui muito silêncio, foi com certeza o trinque que a assustou – estava finalmente a acalmar e deixou-nos conhecer os seus olhos grandes e claros.
– Os pais já estão lá fora, mas vão ser os últimos a entrar – João fala enquanto, pouco a pouco, aproxima o seu dedo da cara da pequena. – Sabes quem ela me faz lembrar? – nego e logo vejo um sorriso formar-se no seu rosto. – Tu, quando eras bebé. Totalmente igual, talvez um pouco mais pequenina, mas loirinha e cabeluda. – João era quase dez anos mais velho que eu, tendo segurado todos os irmãos nos braços o que o torna na pessoa mais babada quando fala de nós. Na altura, a aldeia onde vivíamos apenas tinha pessoas idosas e quando nós aparecemos foi uma alegria.
– Está tão sossegadinha – Duarte fala, do lado oposto ao do irmão. – Veio mesmo de surpresa. Nós tínhamos de ir embora hoje à tarde e olha – passo-a para o colo de João e ela não refila.
– Quis-nos conhecer, não é princesinha? – toca o seu nariz e quase jurei ver um pequeno sorriso no movimento dos seus lábios pequenos. – Quando saem daqui? –
– Dentro de dois dias – abanei os ombros e voltei a deitar-me naquela cama. O que eu mais quero é regressar ao conforto do meu apartamento.
– Eu vou sair, para chamar o Francisco e a Catarina. Até já – num ato de carinho beijaram a testa da pequena e pousaram-na no meu colo.
Pouco tempo depois a porta abrira de novo, e desta já Joana estava a dormir no meu colo. Estava prestes a colocá-la no berço quando o meu irmão entra seguido da noiva.
– Bom dia – cumprimentam-me e logo sorriem para a pequena menina. – Bem vinda Joaninha – ela logo se adapta, mais uma vez, ao colo de um dos tios, sem emitir qualquer som de reprovação ou choro.
– Toma – Catarina, mais cabisbaixa lá atrás, entrega-me uma caixa rosa. – É uma prenda nossa – no seu interior uns sapatos brancos feitos de renda revelam-se em conjunto com mais um fatinho de bebé branco. O meu coração começou a bater mais depressa quando olhei para cima e vi a minha cunhada observar a bebé e lágrimas deixam os seus olhos.
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(desa)sossego
RomanceEm plena época balnear, Matilde fica um pouco aflita quando tenta gerir o seu pequeno negócio e conciliar com o que a vida lhe concedera devido a erros do passado. O calor e a inquietação obrigaram-na a procurar um novo funcionário para o café qu...