treze.: "momento certo, dor insistente"

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MATILDE

O meu desespero agravava-se, quando, a estes sintomas, se assumia a ansiedade que enviava informações erradas à minha mente para que as minhas reações não fossem as melhores. Levantara-me, pela terceira vez, nesta madrugada, para fazer o que de melhor conseguia no momento: expulsar a pouca comida que o meu estômago conseguira incluir durante o jantar e tentativas de recuperar das situações anteriores.

– Será melhor irmos ao hospital, Matilde – Filipe afagava as minhas costas, enquanto envolvia o meu rosto em água, livrando-me daquelas náuseas horríveis – ou na tentativa de o fazer.

– Não, amor, e as meninas? – voltei a enrolar o meu cabelo no topo da cabeça, analisando a minha figura pálida ao espelho. Sinto-me fraca.

– Custa-me tanto ver-te assim – ele diz, com preocupação a assolar a sua voz. – Perguntar-te-ia se quererias um chá, mas já percebemos que o teu corpo não o quer – ele seguiu-me quando voltei para o quarto. – Água com açúcar, pode ser? – acenei, não sabendo mais o que fazer.

A minha garganta doía, inflamada pela força dos alimentos em querer retroceder todo o processo. Desde a simples salada que comi, já com o pequeno sentimento de náusea a rodear-me, às torradas, passando pelos dois chás anteriores que obriguei o meu corpo a aceitar e que este não quis nem se preocupar em digeri-los.

Segundos depois, podia ver o semblante de Filipe, que me ajudou numa nova posição na cama, colocando almofadas sobre as minhas costas doridas. Bebia a água o mais calma possível e queria acreditar que aquela era a solução final, quando, por fim, acalmava, e pude fechar os olhos por alguns segundos, sentindo o calor do corpo do meu homem contra o meu, enquanto fazia de tudo para que eu pudesse dormir.

A verdade é que dormira uma meia hora, antes de ter de recorrer de novo à casa de banho e acordar Filipe com o meu choro. Doía tanto. Minutos depois, tentava tranquilizar a adrenalina que se ativara no meu sistema para uma defesa do exterior – neste caso, do meu interior. Não sei o que de errado se passava comigo.

Janeiro passaria, como todos os anos, lento que nem um caracol. Fevereiro ia a meio caminho, e esta era a noite que antecedia o tão esperado dia dos namorados para as empresas de marketing e venda de produtos para este mesmo dia. Eu mesmo tinha preparada um menu especial no meu estabelecimento, mas sinto-me incapaz de segurar as minhas pernas, fracas, que tremiam a cada passa. Sentia o meu sistema a falhar.

Seis horas e meia da manhã, marcava o relógio. Segundos depois, ouvimos passos a correr em nossa direção e quando no nosso campo de visão entraram as duas pequenas, elas vinham preocupadas, com os seus rostos a demonstrar aflição. Oh, não. Elas não podiam sofrer com isto.

Mamã, 'tás a chorar? – questionou a mais velha, ajoelhando-se ao meu lado.

– Não, meu amor. Foi só água que a mãe pôs para acordar – odiava mentir-lhes desta forma.

Mas nós ouvimo-'te, mamã – Madalena insistia, com a sua pequena mão nas minhas coxas. – 'Tás bem?

– Sim, apenas precisava de vir até aqui, percebem, meus amores? Não se preocupem com a mãe, está tudo bem – dizia eu para mim própria.

Filipe assistia à nossa conversa, tentando a todo o custo fugir às perguntas das curiosas meninas. – 'Tá bem, mas nós dar mimo – Joana falou, e numa questão de minutos, lá estavam as minhas duas traquinas envolvidas nos nossos lençóis e a acariciar o meu corpo, imitando os passos do pai que não parava de me mirar.

(desa)sossegoOnde histórias criam vida. Descubra agora