MATILDE
Voltara aos anos de adolescência. Olhei para o espelho em frente, analisando o vestido escolhida pela minha progenitora e pensando se não seria um exagero. Esta olhava-me com um sorriso no rosto, aquele sorriso dela, presente quando me preparei para a gala de finalistas e viria a sair com o meu primeiro namorado.
– Estás linda, filha – ela compõe o tecido, alisando-o ao longo do meu corpo. – Ainda temos tempo? Precisava de falar contigo – olho para o relógio e confirmo, sorrindo na sua direção.
– Falta cerca de meia hora – aviso.
– Tu sabes, não temos falado muito, a nossa proximidade foi perdendo-se nestes meses... – olhei triste para ela. – Eu gostava de saber como anda a tua vida, Matilde – pegou nas minhas mãos, e as duas sentámo-nos na cama.
– Desculpa, mamã – encostei a minha cabeça ao seu ombro. – Tenho sentido que está tudo um pouco parado, a não ser o crescimento da bebé Joana – olho para a mesma, colocada no seu berço. – A minha vida estagnou um pouco, mas eu sinto que está prestes a mudar –
– Explica-me lá isso melhor – quando dei por mim, estava deitada sobre o seu colo, com a mulher loira a acariciar os meus cabelos soltos e lisos.
– Ao princípio, a chegada do Filipe fora-me completamente indiferente, ele era o meu empregado. Mas ao longo dos últimos meses de gravidez, ele foi acompanhando, sempre se preocupou com o nosso bem-estar, para além de que lhe devo tudo pois foi graças a ele que conseguir manter o café aberto nesta altura que tanto rende. À umas semanas atrás fomos sair, tu recordas-te, certo? – ela abana a cabeça, sorrindo largamente. – Sei la... foi tão diferente. Nunca tinha presenciado tanta boa energia perto de mim, algo inexplicável. –
– Gosto de ver esse brilho natural em ti, de novo – de repente, voltara muitos anos atrás, quando recebia o colo e os carinhos da minha mãe para adormecer.
– No dia do casamento do mano... Ele estava distante, não falava muito, sempre sério, acabámos por admitir que queríamos descobrir um novo caminho juntos. O Filipe, mãe... Ele beijou-me, e eu jurei que iria perder o coração ali mesmo, tamanha adrenalina percorreu o meu sangue. –
– Vocês têm tudo do vosso lado, basta captar bem os sinais. Se queres ficar do seu lado, de qualquer forma, luta, luta e não desistas. Faz-te bem teres o jovem de olhos verdes ao teu lado, e a Joana não desaprova. – beijei a sua bochecha repetidas vezes. – Faz-me o favor de seres feliz nesta noite, nós cuidamos bem da Joana e do teu novo animal. – deposita um beijo sobre a minha fronte, deixando-me só no quarto.
Retoquei a pouca maquilhagem que estava no meu rosto e preparei-me para sair de casa. Sentia as minhas pernas como gelatina à medida que os meus passos me aproximavam do carro já ali estacionado. Antes que eu pudesse entrar, ele saiu, revelando-se elegante, à sua maneira informal.
– Boa noite – senti os seus lábios contra a minha testa, e subitamente todo o meu organismo quis-se revoltar contra mim, pelo que o meu tremer denunciou o nervosismo. Apenas o toque das suas mãos contra os meus braços desprotegidas me deixa assim.
– Olá – disse, tímida. A minha vertente mais envergonha e introvertida a sobressair, ao fim de mais de três anos sem sinal da mesma.
– Vamos? – fala, e aí reparo que tinha fixado o meu olhar no seu. Engoli em seco, e fugi para dentro do carro, com a porta que fora aberta para mim. – Espero não te roubar muito tempo. Sei que a Joana pode ser imprevisível, por isso trouxe um jantar para o meu apartamento, espero que não te incomode –
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(desa)sossego
RomanceEm plena época balnear, Matilde fica um pouco aflita quando tenta gerir o seu pequeno negócio e conciliar com o que a vida lhe concedera devido a erros do passado. O calor e a inquietação obrigaram-na a procurar um novo funcionário para o café qu...