FILIPE
3 meses mais tarde... Dezembro.
Matilde dormia, com Joana no seu peito. Rendido ao momento carinhoso, não consegui ganhar coragem para as acordar. Abandonei o veículo, depois de estacionado na zona dedicada a isso mesmo, começando então a retirar todos os nossos pertences para estas nossas férias.
A viagem de mais de quatro horas e meia havia derrotado todos, mas principalmente a mãe que viera a cuidar da bebé todo o caminho. Fazia o mínimo de barulho possível ao arrastar as malas pelo chão de pedra, mas tornara-se impossível. Tinha de acordá-las.
- Boa noite, princesas - beijei a testa de cada uma delas. Matilde foi a primeira a abrir os olhos, ainda que meio fechados pelo sono. Em seguida, e depois de mais uns carinhos nas suas grandes bochechas, a bebé de quatro meses acordava. - Bem-vinda, Joana - com a permissão de Matilde, peguei na menina ao colo, ajudando em seguida esta a levantar-se.
- Já é de noite? - mostra-se confusa e eu sorrio, olhando para ela despenteada, mas linda na mesma. - Quanto tempo dormi? -
- Umas duas horas - digo e ela arregala os olhos.
- Desculpa, devia ter-te feito companhia -
- Não tens de pedir desculpa. Compreendo perfeitamente que a Joana por vezes te deixe cansada. - ela avançou até mim, roubando-me um beijo seguido de um sorriso, enquanto agarrava nas bagagens.
Em poucos minutos, com a campainha que tocara a avisar a nossa chegada, toda a família se reunira ali, às onze horas da noite, para nos receber. Catarina e Francisco, que eu já não via fazia semanas, estavam ali desde hoje cedo. Quando dei por ela, já a menina loira observava tudo ao seu redor, roendo a chupeta e sorrindo para todos.
- Que saudades, meu amor! - os pais de Matilde logo a envolveram num abraço. Haviam passado mais de dois meses sem a ver. - Onde está o meu docinho? - ela apontou na minha direção e António e Maria logo se dirigiram, deliciados, para ver a neta.
- Boa noite, rapaz - António cumprimenta-me, e eu fico instantaneamente nervoso.
- Olá, Filipe - Maria Luísa tenta aliviar o ambiente sério formado, quando os olhos azuis do pai de Matilde não saem de mim. - Olá coisa boa da avó - sem dentes ainda, Joana solta um sorriso, seguido de um riso que deixa todos a admirá-la.
De seguida cumprimentei Francisco, Duarte e João, estes últimos já na condição de cunhado, pela primeira vez. Apesar de rapazes, não consegui deixar de sentir a proteção que eles tinham para com a irmã e que a um passo falso me iriam atirar por um penhasco.
- Remodelámos o anexo, Matilde. Tem lá um quarto com lareira e televisão com tudo o necessário para vocês e para a menina. Espero que não te importes, mas tivemos que transportar as tuas roupas que deixaste cá para lá. - a morena sorri e assente, sem qualquer incómodo notório.
- Vou ter de doar essas roupas, já não me servem - encolhe os ombros, o que apanha de surpresa todos, inclusive a mim. Ela não engordara tanto assim - pensava eu.
- Já comeram alguma coisa? - António questiona, já com um semblante menos carregado, com a neta ao colo. Nós negamos. - Então sirvam-se - ele aponta para todo um balcão repleto de taças com o seu jantar.
A fome sentida por mim era pouca, pelo que comi uma taça de sopa com um sabor a campo e logo fiquei satisfeito. Matilde, por sua vez, comera uma entrada, o prato da carne, e ainda comera a mesma sopa.
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(desa)sossego
RomanceEm plena época balnear, Matilde fica um pouco aflita quando tenta gerir o seu pequeno negócio e conciliar com o que a vida lhe concedera devido a erros do passado. O calor e a inquietação obrigaram-na a procurar um novo funcionário para o café qu...