Capítulo 19

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FILIPE

3 meses mais tarde... Dezembro.

Matilde dormia, com Joana no seu peito. Rendido ao momento carinhoso, não consegui ganhar coragem para as acordar. Abandonei o veículo, depois de estacionado na zona dedicada a isso mesmo, começando então a retirar todos os nossos pertences para estas nossas férias.

A viagem de mais de quatro horas e meia havia derrotado todos, mas principalmente a mãe que viera a cuidar da bebé todo o caminho. Fazia o mínimo de barulho possível ao arrastar as malas pelo chão de pedra, mas tornara-se impossível. Tinha de acordá-las.

- Boa noite, princesas - beijei a testa de cada uma delas. Matilde foi a primeira a abrir os olhos, ainda que meio fechados pelo sono. Em seguida, e depois de mais uns carinhos nas suas grandes bochechas, a bebé de quatro meses acordava. - Bem-vinda, Joana - com a permissão de Matilde, peguei na menina ao colo, ajudando em seguida esta a levantar-se.

- Já é de noite? - mostra-se confusa e eu sorrio, olhando para ela despenteada, mas linda na mesma. - Quanto tempo dormi? -

- Umas duas horas - digo e ela arregala os olhos.

- Desculpa, devia ter-te feito companhia -

- Não tens de pedir desculpa. Compreendo perfeitamente que a Joana por vezes te deixe cansada. - ela avançou até mim, roubando-me um beijo seguido de um sorriso, enquanto agarrava nas bagagens.

Em poucos minutos, com a campainha que tocara a avisar a nossa chegada, toda a família se reunira ali, às onze horas da noite, para nos receber. Catarina e Francisco, que eu já não via fazia semanas, estavam ali desde hoje cedo. Quando dei por ela, já a menina loira observava tudo ao seu redor, roendo a chupeta e sorrindo para todos.

- Que saudades, meu amor! - os pais de Matilde logo a envolveram num abraço. Haviam passado mais de dois meses sem a ver. - Onde está o meu docinho? - ela apontou na minha direção e António e Maria logo se dirigiram, deliciados, para ver a neta.

- Boa noite, rapaz - António cumprimenta-me, e eu fico instantaneamente nervoso.

- Olá, Filipe - Maria Luísa tenta aliviar o ambiente sério formado, quando os olhos azuis do pai de Matilde não saem de mim. - Olá coisa boa da avó - sem dentes ainda, Joana solta um sorriso, seguido de um riso que deixa todos a admirá-la.

De seguida cumprimentei Francisco, Duarte e João, estes últimos já na condição de cunhado, pela primeira vez. Apesar de rapazes, não consegui deixar de sentir a proteção que eles tinham para com a irmã e que a um passo falso me iriam atirar por um penhasco.

- Remodelámos o anexo, Matilde. Tem lá um quarto com lareira e televisão com tudo o necessário para vocês e para a menina. Espero que não te importes, mas tivemos que transportar as tuas roupas que deixaste cá para lá. - a morena sorri e assente, sem qualquer incómodo notório.

- Vou ter de doar essas roupas, já não me servem - encolhe os ombros, o que apanha de surpresa todos, inclusive a mim. Ela não engordara tanto assim - pensava eu.

- Já comeram alguma coisa? - António questiona, já com um semblante menos carregado, com a neta ao colo. Nós negamos. - Então sirvam-se - ele aponta para todo um balcão repleto de taças com o seu jantar.

A fome sentida por mim era pouca, pelo que comi uma taça de sopa com um sabor a campo e logo fiquei satisfeito. Matilde, por sua vez, comera uma entrada, o prato da carne, e ainda comera a mesma sopa.

(desa)sossegoOnde histórias criam vida. Descubra agora