cinco.: boas novas

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MATILDE

A longevidade deste dia tinha deixado uma camada de exaustão sobre todos nós. Anoitecera tarde, a mágoa preenchia o rosto da família e eu só queria arrumar esta data e tudo relativo a ela numa gaveta bem fechada da minha mente.

O momento em que recebi as duas pequenas crianças nos meus braços pude respirar de alívio. Elas mantiveram-se afastadas demasiado tempo, e Alice fizera um ótimo papel ao seu cuidado. Joana questionava o nosso afastamento com muitos "Porquê" ao qual eu e Filipe não sabíamos como responder. Madalena, mais a leste do assunto, parecia satisfeita com o nosso "Fomos tratar dos animais da quinta, filha".

– O que fizeram hoje, meninas? – perguntei, enquanto arrumava as roupas e descobria algo que pudesse usar para o jantar.

– A 'lice ensinou-nos a pintar os desenhos dos livros dos padrinhos. E a Madalena aprendeu a escrever o seu nome – Joana fala, animada, e o pai debruça-se para ver o que tanto ela trabalha concentrada.

– Temos artista – ele comenta e olha para mim, chamando-me com o seu olhar. – Está tão bonito, Joana! – ela mereceu um beijo na bochecha demorado de cada um de nós.

– Obrigada, pai – por mais vezes que o dissesse iria ser sempre motivo para um brilho no olhar de Filipe, que desde o primeiro dia em que o assumira, merecia-o. – Madalena! – ela chama a mais nova, que corre atrapalhada para a irmã que a recebe de braços abertos. – Ajuda-me a terminar de colorir – Madalena, entusiasmada com a ideia, pega nos lápis de cera e Joana entrega-lhe uma das diversas páginas para que ela dê asas à sua criatividade.

– Elas deixam-me sem palavras – Filipe ergue-se, levando-me com ele, com um sorriso babado. – Queres usar primeiro a casa de banho? Eu fico de olho nelas – ia responder quando alguns punhos embateram contra a porta da entrada. – Entrem – ordena.

– Boa noite – Catarina surge, com Alice do seu lado, já numa confortável e lavada roupa. – Queria raptar as nossas sobrinhas, pode ser? –

– Com que condições? – coloquei as minhas mãos na cintura, fazendo uma cara séria.

– Já estamos todos prontos, e vocês não – ela deita a sua língua fora, constatando o óbvio. – Prometemos entrega-las a horas, agora apressem-se! – Joana levanta-se e deixa um longo beijo no meu rosto, e Madalena segue os passos da irmã. Elas deixam a pequena mesa de madeira desarrumada, e correm para envolver com os seus braços as pernas das mulheres.

– Mamã, posso levar as minhas coisas para desenhar? – Joana, que já estavam pronta para sair rumo aos avós, voltara para trás, e eu ajudei-a a colocar entre os braços os seus materiais de desenho.

– Não as deixem comer nada antes de jantar... – ainda tive tempo de dizer ouvindo as suas gargalhadas ao ouvir os meus conselhos de mãe. – Nem querem saber – volto as costas e acabo de recolher algumas peças de roupa para as horas do dia, ou noite, que ainda restavam.

O jantar de hoje iria ser especial pois toda a família iria descobrir o género do novo bebé Silva, e iríamos contar aos restantes acerca do meu casamento com Filipe; revelando-lhes claro a celebração do momento em Portugal. Sorri, ao relembrar-me do momento mais bonito que vivera na minha vida.

Isto é uma loucura! Os nossos pais vão matar-nos quando souberem declarei, ao mesmo tempo que arrepios provocados pelo seu toque percorriam a minha espinha.

(desa)sossegoOnde histórias criam vida. Descubra agora