Capítulo 10

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FILIPE MIGUEL

Dizer que não me sentia nem um pouco nervoso seria uma enorme mentira. Esperei por este momento desde à algumas semanas atrás, quando senti algo que me ligava de forma especial a ela. Quando vi o anúncio naquela porta nunca pensei vir a conseguir um trabalho com o meu currículo de inexperiência laboral, tentei a minha sorte a pensar ser um daqueles locais comandado por senhores reformados, mas encontrei-a a ela, e não podia ter pedido melhor.

Desde o primeiro dia em que ela me ensinou tudo o que tinha de fazer até à uma semana atrás quando ela foi a última vez ao café estes desassossego persegue-me. Na minha mente só há espaço para ela e para a sua felicidade. A pequena Joana é um bónus. Sinto-me encantando pela pequena princesa que veio ao mundo e nunca terá possibilidade de conhecer o pai.

Esta noite quero provar a Matilde que a confiança que depositou em mim valeu a pena. Todas as palavras de coragem que me disse ao longo destas nove semanas de emprego foram o impulso que eu sentia falta na minha vida.

Finalmente clico na campainha do seu apartamento e preparo o ramo de rosas de um cor pastel que tenho na mão. Sou recebido pela mãe de Joana, que a trazia ainda no colo, enchendo-a de beijos até a entregar ao avô. – Adeus, amor da mãe – acena uma última vez e quando me encara eu dou-lhe o ramo. – Que lindo... Sabes perfeitamente que não era preciso – sorrio e deixo que ela caminhe à minha frente.

A noite estava quente, e ela estava vestida de forma elegante, mas simples. O restaurante em que fizera uma reserva era de igual forma bastante simples, com vista para o mar, situado num andar de cima de um edifício repleto de esplanadas. Não queria assustá-la com qualquer avanço da minha parte, por isso mantive-me um pouco afastado, com medo que ela me rejeitasse.

Inicio a nossa pequena viagem, dado que o restaurante era a apenas dez minutos da sua casa. – Estás linda – eu deixo escapar e ela sorri, com um toque envergonhado.

– Não estás mal, tu, elegante como sempre – ela percorre todas as rádios, acabando naquela que passava as músicas que estavam em alta neste momento. – Obrigada por me tirares de casa, estava a tornar-se depressivo a mesma rotina todos os dias – eu sorri de lado e permaneci concentrado na estrada.

Chegados ao nosso destino, antes de entrarmos no restaurante, ela sentou-se sobre uma enorme rocha que completava o paredão daquela praia. O movimento de sexta-feira à noite era bastante visível, mais pelos passeios nesta zona e o ambiente dos bares noturnos abertos.

– Queres entrar? – pergunto e vejo que ela apanha o seu cabelo enquanto se levanta. Ela tinha-o bastante encaracolado e um pouco mais claro que a última vez que a vira. Apanhando-me de surpresa ela pega no meu pulso e dirige-nos para o interior.

– Não precisas de estar nervoso, rapaz – ela nota a minha mão tremer e eu sorrio tímido.

– Desculpa, é que eu não estou habituado a estas situações. – Matilde olha-me bastante intrigada e senta-se na mesa reservado em nosso nome, mesmo junto à janela.

– Nunca estiveste junto a uma mulher? – eu nego, sorrindo fraco. – Correu assim tão mal? – com apenas um "Sim" ou "Não" indicado pelo movimento da minha cabeça vou respondendo às suas perguntas curiosas.

– Não terminámos da melhor maneira. Foi aí que eu decidi viajar pelo mundo, melhor decisão da minha vida. Ainda não lhe agradeci – brinco com a situação. – Chamava-se Leonor, e as razões para terminar o nosso namoro de um ano nada mais foram que desculpas esfarrapadas para ela poder iniciar a verdade vida louca universitária. – à conta desta pequena história recheámos o nosso jantar de gargalhadas em que ela me acabou por falar da sua experiência bastante calma na universidade e eu lhe explico o porquê de não ter gostado de nenhum dos cursos de saúde que frequentei.

(desa)sossegoOnde histórias criam vida. Descubra agora