Capítulo 23

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Capítulo 24

MATILDE

Trinta e um de dezembro de dois mil e dezassete

A água salpicava o meu corpo e o chão frio da casa de banho. Joana parecia verdadeiramente feliz, rindo-se perdidamente enquanto tentava apanhar as pétalas de rosa que estavam sob a água, a flutuar.

- Não te atrevas a crescer, Joana - falei, pegando na menina encantada com as bolas de sabão que produzi. - Estás proibida - a nostalgia da última noite do ano a falar.

- Matilde, está tudo bem por aí? - ouço o moreno falar, do outro lado da porta, e dou-lhe permissão de entrada. - Estão a demorar imenso tempo - ele sorri assim que olha para a pequenina divertida na água.

- Não consegui retirá-la daqui. - ela balbuciava sons desconhecidos para ambos, como se se tratasse de uma linguagem de bebés.

- O Francisco e a Catarina dizem que já estão a preparar-se para o jantar, pensei que queria começar. - o seu olhar estava demasiado preso no meu rosto, desviando-o o mais que podia do meu corpo, e eu ri. - Eu tomo conta da Joana, só falta mesmo vestir-me. -

- Obrigada - ele pegou na menina e a passos rápidos, já com ela envolvida numa toalha, desapareceu da minha vista.

Abandonei, ao fim de quarenta e cinco minutos a banheira, e depois de secar o meu corpo vesti a roupa que já estava preparada por cima da bancada de mármore. Escolhi a camisola de malha de uma cor bordô conjugando-a com umas calças largas, mais formais, e os clássicos saltos altos pretos. Não podia arriscar usar um vestido, dada a minha condição e a exposição ao frio ser fatal.

Regressava de novo ao quarto, e quando oiço os risos dos dois espreito, vendo que Filipe lhe fala algumas coisas, Joana ri-se, e logo lhe veste mais um braço. Enquanto lhe faz pequenas cócegas na sua barriguinha, consegue colocar-lhe umas calças e eu derretida a vê-lo vesti-la desta forma.

O embater do salto fino no chão de madeira denunciou a minha chegada, e eu sentei-me à beira da menina que logo fugiu dos braços do moreno para vir gatinhar até mim. "Da-da" diz, agarrando-se a mim, sem me soltar.

- Que peça - Filipe comenta, rindo. Acaba por conseguir colocar-lhe as sapatilhas enquanto ela se distrai com a minha pulseira: a qual, reforço, ela também possui em miniatura. - Hoje ela vai poder distrair-se com o meu sobrinho Tiago, durante o jantar - ele falava com saudade na voz.

- Ele já tem quantos meses? - decidi perguntar, curiosa, e também um pouco perdida no tempo.

- Quase sete meses. Já quer começar a andar, e isso é muito engraçado pelos vídeos que a Beatriz e o Louis enviam. -

- Como o tempo passa...- comento, descaindo o meu olhar para o chão. - Vai prepara-te, agora fico eu com ela - e sem mais palavras, vi-o dirigir-se à sua mala, pegou numas calças de ganga formais, de uma cor escura, uma camisa branca e um casaco longo, bem como uma gravata a qual ele analisou bem antes de se surpreender ao ser da mesma cor que a camisola que eu usava agora. Rimos com a coincidência.

Deitei-me sobre a cama, e já passava das oito da noite quando olhei para o ecrã do meu telemóvel. Dentro de nada teríamos todos à nossa porta, impacientes pela nossa demora. Percorri a galeria, preenchida por fotos, momentos partilhados a dois, e a três, inclusive a quatro, quando ainda não o sabíamos.

(desa)sossegoOnde histórias criam vida. Descubra agora