Capítulo 17

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MATILDE

– Conta-me mais sobre ti – o moreno fala, enquanto sentíamos a brisa do mar arrefecer as nossas faces aquecidas pelo calor de verão.

– O que queres saber? – questionei, com um sorriso no rosto.

– Foi fácil perceber o que querias ser? Quais os teus sonhos? – as perguntas apanharam-me de surpresa, mas não era difícil responder às mesmas.

– Quando ainda estava no secundário, o meu ideal era mesmo seguir as passadas dos meus pais, criar um negócio, tal como eles criaram. Mas depois, eu percebi que realmente não tinha sido fácil criar aquela quinta quando tinham um bebé a caminho, sem a ajuda dos pais, pelo que comecei a ficar assustada quando me "atiraram" para esta universidade de Lisboa. O meu irmão estudava aqui, o que ajudou imenso, mas não deixou de ser demasiado para mim. Entrei em Gestão Empresarial, e a verdade é que as coisas começaram a fluir, criei algumas amizades, conheci novos ambientes e foram os três anos mais inimagináveis da minha vida. Os meus sonhos nunca estiveram pensados, em concreto, sabes? Fui deixando os momentos passarem e quando me apercebia, já lá iam uns quantos concretizados – Filipe sorria-me, empurrando o carrinho pelo passeio calcetado à moda portuguesa.

– Como é que surgiu a ideia de criares o teu próprio café? – a sua curiosidade indicava-me que ele mesmo estava a tentar perceber como é guiar a vida, controlá-la e não se deixar controlar.

– Foi bem mais simples do que o que possam pensar. Em intervalos costumava juntar-me com pessoas do meu curso e do curso de Marketing, trocávamos assim estas ideias que pareciam absurdas, mas a verdade é que o café sempre esteve presente na minha ideia. Terminámos a nossa licenciatura, cada um foi para o seu lado, restei eu e o Bruno, do nosso grupo, pelo que apostámos nisto – ele mais do que eu – e parece que até nem saiu tão mau quanto pensávamos quando ainda existiam esboços do projeto – olhava-me boquiaberto, mas sempre regressava com aquele sorriso.

– Tens razão quando dizes que correu bem, porque o planeamento e o desenho em si do estabelecimento foi feito com todos os detalhes precisos. Nunca vi um sítio tão organizado quanto aquele, a não ser aqueles bares de hotéis de luxo, mas isso são apartes. – comentava, e quando déramos por ela, estávamos já fora da linha do paredão, a entrar num caminho mais sossegado, de apartamentos e hotéis.

– Obrigada – eu agradeci o elogio. Este rapaz realmente sabia dizer as palavras certas nos momentos certos. Custa-me saber que ele seja tão inseguro acerca do seu futuro. – O que pretendes fazer, daqui para a frente? –

– Primeiro, gostava de continuar a trabalhar, poupar para que possa, até lá, pensar nas minhas poucas opções que me restam. Depois, logo se vê –

– Ainda queres seguir a área da saúde? Ou isso são ideais formados pelo tempo? – ele olhava-me intensamente, mas com uma expressão confusa e perdida.

– Se te sou sincero, nem sei. Gostei imenso da componente prática de Biologia, não sei sequer porque desisti para me inscrever em Enfermagem. No entanto, eu adorava, um dia, poder seguir de perto os jogadores de futebol pela fisioterapia, ajudar. – observei-o admirada. Ele tinha bastantes ambições, mas nenhuma fora ainda concretizada dada a sua indecisão.

– Já sabes a minha opinião. Há várias oportunidades por aí que podes aproveitar para ser feliz – Joana despertara nesse momento do seu sono de meia hora. – Então, amor? – questionei à pequenina que abanava o seu corpo. – É melhor regressarmos a casa, ela deve estar cansada, se não já rabugenta. –

– Sim, claro – peguei no meu ser humano pequenino que tinha os seus olhos bem abertos. Pelo canto do olho, vi a forma maravilhada como o rapaz olhava a menina.

(desa)sossegoOnde histórias criam vida. Descubra agora