50 - Presente.

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Quando acordei, ainda haviam muitas pessoas na sala. Annie e Amber ainda estavam lá, mas o barulho do lado de fora era animado e convidativo. Sai pela porta com cuidado e fui direto para os fundos, onde a porta estava aberta. A neve caía devagar e o quintal que já fora verde, agora estava totalmente esbranquiçado.

Fui em direção ao um monte de neve, alguém já tinha feito um caminho raso e muita neve se acumulou nas laterais. Era engraçado como o gelo se juntava, fiz uma bola de neve rindo de mim mesma, rindo porque eu estava surpresa com o quanto o gelo era frio, rindo de estar velha demais para brincar na neve, rindo de estar sozinha ali naquele quintal gelado quando todos queriam estar lá dentro, quentinhos.

Assim que terminei de fazer as bolas de neve, uma maior e outra menor, coloquei a menor por cima e fiquei pensando no que eu poderia usar para fazer o rosto de um Olaf.

Deitei na neve gelada. Por um momento senti frio e hesitei, mas logo eu estava abrindo as pernas e os braços pensando em todos os filmes que eu tinha visto nos quais os personagens faziam anjos de neve. Consegui sorrir por um instante.

- Se você quiser fazer um anjo na neve vai ter que fazer melhor que isso.

Matthew apareceu sorrindo.

- Está tão ruim assim?

- Afasta mais as pernas e levanta mais os braços.

Eu fiz o que Matthew sugeriu e ele começou a rir. Matthew se abaixou e pegou nos meus tornozelos, me ajudando a empurrar a neve com as pernas.

- Para de rir, Matthew... Não está tão ruim assim.

- Com a minha ajuda, não mesmo. - Ele deitou do meu lado - Eu só... Nunca pensei que ia precisar ensinar um anjo para alguém da minha idade... Pensava em fazer isso com as crianças, sabe?

- Mas você está ensinando o bebê... Na verdade, ele que está fazendo um anjo de neve, eu só estou fazendo o favor de emprestar meu corpo.

- Não está muito gelado para você? -  Ele parou de rir.

- Não, tudo bem. Obrigada.

O Ed não se preocupava comigo. Era bom estar ali, para variar, com pessoas que queriam saber como eu estava. Matthew e eu riamos enquanto ele achava que era um anjo de verdade e falava coisas para me fazer acreditar naquilo.

- Ah! Vocês estão ai? - Ed apareceu - Mamãe está chamando para as fotos e depois os presentes.

- Tudo bem, meu anjo... Está na hora de nos misturarmos aos mortais.

Matthew levantou e se sacudiu um pouco. Eu já estava sentada quando, Matthew se aproximou de mim e me levantou, um tanto involuntariamente. Eu o segui e Ed veio logo atrás. Atravessamos a porta, em direção a frente da casa. Já estava todo mundo reunido, alguns pareciam já estar de saída.

- A gente vai ficar aqui no canto. - Ed colocou a mão na minha cintura - Para todos os efeitos, estamos bem.

Eu não respondi, apenas fiquei junto a ele, esperando todos se arrumarem.

- Você pode, pelo menos, sorrir para a foto? - Ed sussurrou no meu ouvido.

- Não, obrigada. - Eu dei um breve sorriso ao olhar para ele, e voltei a ficar séria, olhando para frente. Quando estavam todos prontos, eu desviei o olhar para parecer que estava olhando o nada. Sempre tem alguém quem faz isso nas fotos de família.

Assim que a foto terminou, eu sai. Entrei dentro de casa, estava absolutamente quente e aconchegante.

- Antes de vocês irem, eu tenho um presente para você. Na verdade, dois... - Imogen riu - Bom, na verdade é um mesmo.

Imogen me entregou uma sacola e assim que eu abri, avistei duas caixas, peguei uma e abri: era uma touca e um cachecol coloridos.

- Não quero que você passe frio por aqui. - Nós rimos.

Eu agradeci pegando a outra caixa, eu a abri e tirei o embrulho de cima para me deparar com dois pares de sapatinhos de bebê.

Um era azul e o outro amarelo. Eles pareciam botinhas mas davam para dobrar e... Eu comecei a chorar. Não pude, não aguentei. Imogen não pareceu surpresa, ela apenas me abraçou.

- São lindos, não são? Quando eu os vi, eu logo pensei no nosso bebê aí dentro.

Então, eu pensei em tudo. No Ed. No bebê. O que teria acontecido se eu não tivesse insistido na TPM e tivesse descoberto a gravidez enquanto estava no Benny, antes de tudo? Eu ainda estaria grávida de gêmeos? Ed estaria sendo um idiota comigo?

- Eu sei que os hormônios são... Difíceis. - Ela fez uma pausa - Mas, querida... Eu não sei, alguma coisa em você...

Imogen era um pouco mais baixa que eu, ela se afastou de mim e me olhou nos olhos.

- Alguma coisa se apagou aqui. - Ela fez passou a mão no meu rosto - Ou aqui. - Ela colocou a mão no meu peito.

Eu não queria contar nada a ela. Ela tinha uma ideia do Ed. Todos tinham uma ideia do Ed. Ele era um amor com todos. Menos comigo.

- Você e o Ed estão bem? - Eu me assustei - Eu digo, com tudo que está acontecendo com o bebê?

- Está tudo bem. - Eu respirei fundo e olhei para os sapatinhos, os colocando em meus dedos - Eu nunca tive problemas na gravidez antes e, estou descobrindo tantas coisas e o bebê é tão pequeno...

- Ed também parece estar muito triste. Ele disse que não era nada então eu não... Porque eu imagino que seja difícil, mas nós somos sua família e estamos do lado.

Eu não respondi. Eu apenas assenti enquanto guardava os sapatinhos. Não queria correr o risco de falar algo errado, se eu magoasse o Ed, mesmo que ele estivesse me magoando... Era a família dele.

Não me senti bem para fazer mais nada. Apenas fiquei quieta em um canto, comendo alguma coisa que se parecia muito com o salpicão brasileiro e meu enjôo passava a cada garfada que eu comia daquela deliciosa comida.

- Nós já vamos. - Ed passou pela sala e subiu as escadas.

Não demoramos nos despedindo de todos, a maioria  das pessoas já haviam ido embora. Eu não queria papo com o Ed. Fiquei durante todo o caminho em silêncio. Ele não questionou ou puxou papo.

Quando chegamos em casa, eu subi para retirar as coisas da mala. O pequeno sapatinho foi a primeira coisa que eu vi. Logo eu teria um pezinho ali dentro.

- Quem te deu? - Ed me encarava, ele entrou no quarto sem que eu percebesse.

- Sua mãe. - Eu sorri, balancei a cabeça em seguida, me arrependendo de ter falado com ele tão docemente.

- São... Fofos. - Ele respirou fundo - Eu vou sair, tudo bem para você? É só ligar se precisar de alguma coisa.

- É só te ligar para você não vir correndo? - Eu sorri com um tom de sarcasmo.

Ed olhou para lado e depois para mim de novo. Ele não respondeu, apenas se virou e saiu.

Minha mala já estava praticamente arrumada, Ed havia saído, essa era a hora. Essa era a hora perfeita para eu sair daqui em busca de um hotel.

Eu ía sair da casa do Ed naquela noite e tudo estava conspirando para isso.

Photograph - Amores Imperfeitos [Ed Sheeran]Onde histórias criam vida. Descubra agora