74 - O Matt não está aqui.

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Gente, um capítulo curtinho para vocês. Estou lendo Teto Para Dois, e é simplesmente tudo que eu queria dessa fic. Eu recomendo que vocês coloquem na lista de leitura, aposto que vão se apaixonar. Vou retomar o diário do Ed em breve, na pausa entre essa fic e a parte final de Photograph. Estamos na reta final da segunda temporada, acreditem!

Muito obrigada a todos que ainda estão aqui apesar da minha postergação e procrastinação.

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Matt continuou colado a mim, suas mãos seguravam minha bochecha, não como se ele estive realmente segurando com medo de que eu fosse fugir, era mais como se meu rosto estivesse entre as suas mãos, era como se ele quisesse segurar minha dor, segurar meu mundo, me deixando livre.

A sua boca pressionava delicadamente a minha, era uma beijo macio, confortável, e parecia transmitir tudo o que eu precisava no momento. Ele não arriscou nenhum movimento brusco ou dominador, era como se tivesse se certificado antes que seria um beijo carinhoso demais para ser somente de amigos, mas livre o suficiente para a rejeição. Um beijo repleto de amor, carinho, cuidado... Mas era o beijo da pessoa errada, era um beijo do Matt.

Eu subitamente me arrastei para trás na cama, quebrando aquele beijo tão sincero, porém indevido.

Meus olhos foram mais rápidos que minhas palavras e tenho certeza que eu eles diziam:

"O que foi isso?"

No entanto, não foi isso que eu disse. Eu não disse nada, por melhor explicar.

Eu respirava forte, não queria magoar meu melhor amigo mas não poderia levar aquilo adiante. Antes que eu pudesse, efetivamente, perguntar ou apenas esbravejar algo ao Matt, Im entrou no quarto com um pilha de roupas na mão.

- Vou colocar suas roupas aqui. Adoraria se você acompanhasse a gente no almoço. Matt te ajuda a descer, não é filho?

Matt se ajeitou na cama, indo para mais longe de mim, balançou a cabeça afirmando que ajudaria. Por mais que a gente tentasse ignorar, o clima entre a gente ficou tenso. Eu queria uma explicação, ele queria me dizer alguma coisa, só não sei que era o que eu queria que ele dissesse. Enquanto me seguia pelas escadas pude ver que ele tentou falar, ele abria e fechava a boca algumas vezes, não falava nada e sempre suspirava no final, ou balançava a cabeça.

Matt se sentou de frente do lado de Im e me deixou ao lado de John, que sentava na ponta da mesa retangular de oito lugares. Ele quase nunca levantava a cabeça para me olhar, e sempre que me flagrava o olhando, ele desviava o olhar repentinamente.

- O que vocês dois aprontaram? - John soltou os talheres junto ao prato, intercalando entre olhar para mim e para o Matt - Vocês estão quietos como duas crianças que aprontaram...

Minha respiração parou. Eu odiava esse poder sobrenatural dos pais de adivinhar as coisas. Eu, como mãe, sabia que isso nascia junto com o filho. Como ninguém respondeu, ele se voltou para a Im.

- Lembra quando eles fugiram para a praia? Eles ficavam quietos sem se olhar, e quando se olhavam começavam a rir, depois olhavam para nós e mais silêncio...

- Me lembro bem disso. O Dylan levou uma surra enorme por isso. E ficou meses sem vir aqui em casa, devo lembrar disso também?

- O pai deles sempre dizia que os meninos dos Sheeran eram má influência. - John riu.

Eu me esforcei para entrar no assunto e tentar sorrir. Matthew nem isso fez. Ele simplesmente comia, ininterruptamente, como se estivesse praticamente sozinho a mesa, não que ele nos ignorasse, mas estava na cara que ele queria dar o fora dali o mais rápido que pudesse.

Assim que Ed e Cherry adentraram a cozinha, vindo para a sala de jantar, não demorou muito tempo para que Matt, aproveitando a comoção causada pela chegada deles, evaporasse da mesa sem deixar vestígios, seu lugar estava limpo, o lugar arrumado para outra pessoa se servir (provavelmente ele levou o prato sujo para a pia e colocou outro no lugar). Era exatamente isso que eu temia.

Assim que terminei, também sai da mesa. Matthew não estava na sala, nem na varanda. Fui até o pequeno cômodo nos fundos do jardim, a evolução da minha barriga ainda estava desenhada na parede de madeira, haviam quatro linhas. O tempo que passei ali realmente foi incrível e eu não podia deixar que tudo fosse estragado por um beijo, ainda mais um beijo que foi sem querer, nem um de nós queria ou planejou, eu imaginava.

Matt não estava em seu quarto, Matt não estava em lugar nenhum.

- Aí está você! - Cherry estava quase descendo as escadas quando me avistou - Você está chorando?

Eu não consegui segurar. Tinha perdido meu amigo. Tinha certeza disso.

- Eu vi a pintura na parede... E ela não está aqui. E agora eu... - Fiquei na dúvida se falava e o que falava, mas conforme pensava em uma maneira de falar, meu choro ficava mais intenso e eu soube ali que a ausência de Charlotte não era tudo pelo que eu chorava - E o Matt, ele... Ele não está aqui.

Foi tudo o que eu consegui falar.

"O Matt não está aqui"

Burra. Burra. Burra.

- Tudo bem. Ele deve ter saído, coisa rápida. Aposto que ele nunca deixaria você aqui sozinha, sabendo que agora você precisa dele mais do que nunca.

Isso me acalmou em uma primeiro momento. Mas depois, deixou de fazer sentido, porque ela não sabia de tudo que deveria saber para ter uma opinião formada. E eu já havia decidido que ela não saberia.

Fiquei na cama durante alguns dias, sem muito esforço, apenas andava um pouco para fazer as refeições e tomar banho. Precisava de descanso, mas não muito. Ás vezes, ia até a varanda nos fundos e ficava encarrando o lugar. O canto da varanda onde Ed e eu costumávamos nos sentar, as especiárias para o chá, o celeiro cheio de lembranças. Aquele lugar era como uma redoma de coisas que eu não queria lembrar. Eu não queria lembrar o que tinha passado e o quanto eu tinha sido feliz. Não estava ajudando muito naquele momento, e então, eu voltava para o quarto, as vezes lia alguma coisa.

Eu não queria fazer nada que já tinha feito com o Matt, não queria fazer nada que já tinha feito com o Ed. Então, sobraram poucas opções além de ficar ali, apenas existindo.

Eu lia muitos livros, e leitura passou a ser meu maior e melhor passatempo. Entre um livro e outro, passava os meus dias me lembrando do beijo do Matt, pensava se estava tão na cara que isso ia acontecer, e em qual momento eu dei a entender que era isso que eu queria. Na minha cabeça eu só repetia que seria eu a responsável por destruir a amizade entre irmãos.

E eu era. Eu destruía tudo que eu tocava. Eu fiquei amiga do Matt só para estragar tudo depois. Somente para ensinar para ele que nem sempre se podia segurar o guarda-chuva. Ele havia soltado o meu, claro.

E eu não poderia culpá-lo.













Photograph - Amores Imperfeitos [Ed Sheeran]Onde histórias criam vida. Descubra agora