Eu continuei ali, sentada, imóvel, enquanto tinha a sensação que o mundo girava intensamente ao meu redor. Eu não conseguia ver as imagens nitidamente, tudo em volta parecia um grande borrão. Foi então que a primeira lágrima caiu.Dei por mim que Matt não estava mais ali. Não consegui pensar em nada naquele momento, e por mais que eu o procurasse, eu não achava sequer um sinal dele.
Então me levantei. Não havia mais nada a ser feito. Tudo já estava estragado. Eu havia perdido meu amigo, meu porto seguro. Eu não achava que teria algo que eu poderia dizer para que tudo se consertasse. Eu queria falar a verdade para ele, mas simplesmente não saía.
Assim que o manobrista me viu, perguntou se eu queria chamar um táxi, eu acabei por assenti mas um instante depois vi o carro no qual vim com Matt há apenas alguns metros de mim. Caminhei lentamente na dúvida se era mesmo o Matt que ainda me esperava ali.
- Obrigada por me esperar. - Eu disse assim que entrei, enquanto colocava o cinto de segurança.
- Minha mãe nos ensinou a segurar o guarda chuva. Sempre. - Ele disse em tom ríspido, ligando o carro e dando partida para um caminho dolorosamente silencioso até a casa amarela dos Sheeran.
Eu não forcei nada. Por mais que eu não tivesse sido totalmente sincera, e por mais que eu soubesse que poderia perder Matt, eu apenas deixei ele pensar que o Ed era bom demais me deixando ali mesmo quando eu não merecia.
Claro que minha noite de sono não foi das melhores.
John e Imogen não sabiam do ocorrido. Im continuou com sua rotina de produção de jóias e John fazia planos para irmos ver todas as partidas de críquete do campeonato. Claro que diante disso, nenhum dos dois notou que Matthew havia saído logo após o café da manhã e nenhum momento nos 22 minutos nos quais ele esteve sentado exatamente ao meu lado esquerdo, ele nem ao menos olhou em minha direção.
Os Sheeran sabiam como ignorar alguém.
- Você e Matt tem algum plano para hoje?
- Acredito que não. - Respondi sem querer entrar em detalhes - Precisa de alguma coisa?
- Estou enrolada com algumas entregas, preciso terminar as encomendas, embalar e levar ao correio, mas também preciso ir pegar algumas doações para o hospital e tudo isso hoje... Eu, honestamente, não sei por onde começar.
- Posso ver o que falta para as encomendas. Embalo tudo e posso levar ao correio, se você quiser, claro.
Im me agradeceu e disse que não sabia o que iria fazer sem mim. IM NÃO SABIA O QUE FAZER SEM MIM. Não consegui levar a sério essa afirmação sabendo que se ela não estivesse me recebendo na casa dela, eu provavelmente...
Bom, era melhor não pensar nisso. Eu tinha muito trabalho a fazer. Precisava separar pedidos, ver se estavam certos. Embalar tudo com os cartões que Im costumava colocar, um diferente para casa tipo de jóia. Depois ela colocava em uma segunda caixa, que é a que era para escrever o endereço do remetente e destinatário. Sim, eu estava ocupada demais para pensar.
Estava ocupada demais para me sentir mal, ou até mesmo para sentir auto piedade.
Só não estava ocupada demais para reparar que Matt havia acabado de passar pela porta da sala, e como uma bala, foi direto para o seu quarto. Eu terminei 5 caixas enquanto ele estava lá. Depois disso, ele desceu e foi ao encontro de John.
Assim que eu terminei, coloquei as caixas já prontas para serem levadas ao correio em duas caixas maiores. E então, eu fui ao encontro de John.
- John... Im precisa que eu leve essas caixas até o correio, será que eu posso pegar o carro por alguns minutos?
- Claro. Matthew pode te ajudar.
- Hãn... Na verdade pai - Matt coçou a cabeça - Eu tinha outros planos, eu...
- Tudo bem John. O correio não fica longe, eu acho que consigo sozinha. Mas mesmo assim, obrigada Matthew.
Eu percebi que não me sentia mais a vontade com Matt como antes. Até falar o nome dele era difícil para mim agora.
Fazendo coisas e me sentindo útil, de alguma forma, consegui ignorar o buraco que estava no meu peito por ter perdido Matthew.
Levei as caixas no correio. Eu já reconhecia alguns vizinhos e uma senhora chegou a me perguntar como ia a gravidez.
Passar a tarde sozinha foi solitário.
Saber que o Matt estava com raiva de mim era devastador.
Saber que ele estava trancado no quarto, enquanto eu queria que ele estivesse comigo era angustiante.
E assim foi durante os dois dias que se seguiram.
Matthew não me deixou sozinha. Ele sempre estava em casa quando Im ou John precisavam sair, porém era como estar sozinha. Só não era pior do que estar com o Ed.
Matt entrava e saia de casa, falando comigo apenas o necessário. Eu, muitas vezes, continuava na sala, esperando que ele viesse falar comigo. Assistia os filmes mas não prestava a atenção neles.
Não estava dormindo muito bem aqueles dias, então quando chegou o dia de ir para minha consulta em Londres, eu não via a hora de tentar dormir no carro enquanto via os campos verdes ficando para trás. Tomei café da manhã, e logo depois tomei banho e escovei os dentes. Me arrumava lentamente, quando me dei conta que eu não sabia que caminho a seguir até Londres. Teria que ir de ônibus.
"Melhor ainda, vou ter 3 horas para dormir enquanto alguém dirige para mim."
Desci as escadas tentando não acordar ninguém, estava relativamente cedo ainda e eu já criava planos para passar o dia em Londres quando dei de cara com Imogen entrando pela porta da frente.
- Aonde você vai? – Im perguntou.
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Photograph - Amores Imperfeitos [Ed Sheeran]
FanfictionContrariando suas expectativas, Júlia está completamente apaixonada agora. E o que parece ser um conto de fadas, vai esbarrar em outras pessoas e outras realidades. E então, eles vão ter que lidar com situações diversas criadas por suas decisões pa...