- Hum! Já acordou. - Matthew se sentou ao meu lado no sofá - E como vocês estão hoje? Tudo certo?
- Tudo certo. - Assenti com a cabeça.
- Então, não tem chance de você recusar meu convite - Matthew sorriu - Encontrei um amigo que há muito tempo não via e me convidou para almoçar com ele, na casa dele... E eu queria muito que você fosse.
- Mas eu tenho que ajudar sua mãe com as jóias e...
- Não se prendam por mim. A gente pode fazer isso outro dia, podem ir. Tyler é um amor e a mais nova da Diane, Caroline é uma graça e faz pinturas lindas.
- Eu posso dizer não para uma oportunidade como essa?
- Incontestavelmente, você não pode recusar. Vai se arrumar.
Coloquei as roupas mais quentes que eu tinha. Infelizmente, ainda tremia no jardim da casa de Tyler. Ele havia cursado faculdade em agronomia com ênfase em negócios familiares, e ajudava seu pai a plantar em uma fazenda não muito longe dali, exportando algodão para uma parte considerável do Reino Unido, incluindo algumas pequenas cidades ao redor de Londres.
- E você? O que anda fazendo? - Tyler colocou o cigarro de lado e inclinou-se para Matthew.
- Orquestra Filarmônica de Berlim - Ele fez um gesto abrindo os braços - Mas devido à alguns problemas, eu pedi uma licença. Estava bem ruim de ficar por lá com tudo o que aconteceu.
- Sei bem como é. Sabe, as coisas aqui melhoraram muito de uns tempos para cá, depois que Caroline começou a expor seus trabalhos, mas até um ano atrás era tudo muito ruim.
- Eu fiquei sabendo do Michael. Eu sinto muito.
- Depois que... E que eu sai com vida daquela tragédia, meu pai decidiu dar novos rumos a nossa vida. Claro que ele e minha mãe não tem volta, mas eu parei de beber e estou mais calmo, a gente consegue ter uma conversa de dez minutos sem ninguém ficar irritado.
Era aniversário de Caroline, e estava tendo, inclusive uma espécie de leilão das suas obras de arte. O pagamento era feito em donativos que depois ainda ser doados para ajudar alguns hospitais da cidade. Caroline era uma criança bem engajada para sua idade.
Depois dos parabéns, doces e bolos (sim, bolos no plural), as crianças foram sumindo e logo ficamos só os adulto. Muitos amigos do Tyler tinham vindo para a ocasião, e sua irmã caçula já havia ido embora com uma boa parte dos amiguinhos, o que transformou a festa em algo para jovens adultos (pessoas velhas para serem jovens e muito jovens para serem velhas).
Matthew me apresentou a alguns amigos e logo já estávamos todos entretidos, e trocando experiências. A maioria deles já havia se formado e saído de casa, estavam ali para visitar os pais ou tinham se estabelecido na cidade para não abandonar uma vida toda para trás. Eu ajudava Ally, namorada de Tyler, recolhendo os copos que ainda estavam pela casa, quando Aidan se aproximou:
- Cunhada do Matt então? Você e Amber não se parecem em nada.
- E não mesmo - Matthew se aproximou - Jules é namorada do Ed.
- Ah! Saquei... E ele, como está?
- Trabalhando - Respondi.
- Viajando - Matthew disse ao mesmo tempo - Mas bem, assim esperamos.
Ficamos na casa de Tyler por mais algumas horas e saímos de madrugada com um Matthew totalmente bêbado. Ele não precisava ser carregado, mas seus reflexos estavam um tanto lentos, apesar dele parecer um pouco tonto. Eu dirigia para casa, enquanto Matthew ainda bebia uma garrafinha de cerveja.
- Depois que eu fizer xixi, você vai ver, vou ficar bom. Eu nem estou tão bêbado assim.
- Aham, sabemos Matthew...
- Você está duvidando? Você nunca me viu bêbado.
- Eu não estou duvidando, eu só... Vou pagar pra ver. - Rimos.
- Sabe o que eu gosto em você? - Eu balancei a cabeça negando - A gente pode conversar sobre qualquer coisa. Como naquele dia que conversamos sobre sobre ET's e teorias... Sabe, o Aindan gostou de você.
- Esse é o problema, todo mundo gosta de mim. Eu queria ser odiada as vezes.
- Eu quem bebo e você que fala besteira. Ser odiado é péssimo.
- Não é não... Péssimo é você ser odiado pelas pessoas certas e amado pelas pessoas erradas.
- E quem seriam essas pessoas? - Matthew bebeu um gole da cerveja e encostou no vidro.
- Pessoas erradas são aquelas que não somam, que te prejudicam e que te fazem se sentir mal... As pessoas certas, te amam... Ah! Você sabe... Quer ajuda para sair? - Eu estacionei o carro.
- De certa forma, você tem razão, talvez. - Matthew colocou os pés para fora do carro e abaixou a cabeça, tive a impressão que ele ia vomitar, mas ele era velho nisso, olhou para mim estendendo a mão para ele e a pegou - Não precisa, mas obrigada senhorita. Eu vou ao banheiro e cair na cama.
Entramos e eu esperei Matthew para ter certeza que ele ia para cama, mas ele foi direito para a varanda. Quando eu cheguei até a porta, Matthew estava sentado, terminando sua cerveja.
- Matthew? Está tudo bem? - Perguntei sem sair do lugar, eu encostei na porta.
- Pode me chamar de Matt - Ele olhou pra mim e sorriu, em seguida ele respirou fundo e respondeu - Mais ou menos.
- Você ainda não contou para muita gente que terminou com a Amber não é?
- Não, eu não tive coragem - Ele respirou fundo - Foi ela quem terminou comigo na verdade. Eu tinha preparado tudo, era para ser uma noite especial. Nós saímos para jantar, ela estava maravilhosa e, a gente estava feliz. Até que, eu a pedi em casamento...
Eu fui até o Matt e me sentei ao lado dele no balanço. Então ele continuou:
- Ela recusou. Ela sorriu e disse não - Suas mãos tremiam e a cerveja já estava quase no fim, sua voz estava um tanto embargada e ele respirou fundo antes de continuar - Ela disse que tinha outros planos, projetos e que nenhum deles incluía casamento. Então, ela disse que se a gente estava em tempos tão diferentes, era melhor terminar. Começamos a noite juntos, felizes, cheios de planos e sonhos e acabou comigo sozinho e com anel de noivado na mão, sem ter ninguém para usá-lo.
Eu não soube o que dizer para confortar Matt. Apenas peguei em sua mão e olhei em seu rosto, tentando fazer alguma expressão que fosse empática ou acolhedora. Ele me olhou de volta e sorriu.
- E foi isso. Eu não consegui ficar na Alemanha depois disso. Eu tive que voltar para casa, ficar em lugares onde eu não me lembre dela e tentar esquecer. Devolver o anel da minha avó para a minha mãe e esperar que tudo isso passe e eu ainda consiga sobreviver, ou pelo menos manter minha sanidade enquanto isso.
- Eu sinto muito Matt.
- A culpa não foi sua. Nem dela. Foi minha, eu... Eu deveria ter conversado com ela, não sei... Eu...
- Vamos subir. Você toma um banho e deita. Beber nunca é bom. Traz más lembranças. Vem.
Eu o puxei para dentro. Ainda havia um pouco de cerveja na garrafa que eu deixara na pia. Subimos para o quarto de Matt e eu liguei o chuveiro quente para ele que tomasse um banho antes de deitar.
- Obrigada por... Você sabe. Ninguém sabe de nada ainda e eu me sinto um tanto idiota de ter sido rejeitado dessa forma. Eu...
- Tudo bem, não precisa explicar nada, eu só te ouvi e é isso que os amigos fazem. Toma um banho e não deixa esses sentimentos tomarem conta de você. Ainda quero meu amigo de volta. Eu preciso dele.
Matt riu e eu fechei a porta. Acho que essa situação revelou mais a mim do que eu pudesse esperar. Matt era meu amigo e eu podia confiar nele. Já me sentia infinitamente melhor. Pelos menos até que tudo voltasse ao normal. Mas o que, nesse caso seria normal?
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Photograph - Amores Imperfeitos [Ed Sheeran]
FanficContrariando suas expectativas, Júlia está completamente apaixonada agora. E o que parece ser um conto de fadas, vai esbarrar em outras pessoas e outras realidades. E então, eles vão ter que lidar com situações diversas criadas por suas decisões pa...